Diz a Bíblia que Jesus renasceu da cruz para ensinar a resiliência, o sacrifício, e o amor ao próximo. Assim sendo, o nome deste gato não poderia ter sido mais bem escolhido.
Jesus foi resgatado da rua “quase a perder a vida“, dia 8 de setembro, na Charneca da Caparica, em Almada, conta Rosa Pascoal através da página Gatos da Nossa Terra. Depois de dois meses de apreensão, o gato apresenta finalmente um quadro de saúde estável, e já está quase recuperado. Contudo, precisa agora de acolhimento temporário, que permita acabar de se curar, para que possa encontrar uma família.
Rosa há muito que se dedica aos animais. Deparou-se com a situação de Jesus depois de receber um telefonema que a alertava para a presença de um gato na rua, perto da sua casa e das colónias de gatos de que cuida habitualmente. Foi-lhe dito que procurariam o local mais barato para eutanasiar o animal – uma ideia que rejeitou imediatamente. “Para mim a eutanásia é uma coisa muito séria”, declarou. “A vida é muito preciosa, seja que vida for”.
Determinada a dar ao gato uma oportunidade, acolheu-o, limpou-lhe as feridas e alimentou-o. O felino, que parece já ser idoso, estava apático e tinha dificuldade em movimentar-se. A respiração era ofegante, e o pus que expelia obstruía o nariz e não deixava que abrisse os olhos. “No estado em que ele estava, senti que seria preciso um milagre para que sobrevivesse, por isso chamei-lhe Jesus. Gatinho Jesus”, conta à PiT. À sua volta, as pessoas com quem partilhou a situação disponibilizaram-se a ajudar. Garantindo apoio como lhes era possível, juntaram dinheiro e comida, que confiaram a Rosa para cuidar de Jesus.
Durante a primeira visita ao veterinário, foi diagnosticado com uma pneumonia num estado já crítico. “Disseram-me que se sobrevivesse nos três dias seguintes, viveria. Nunca pensei que recuperasse tão bem“. Pouco a pouco, a medicação foi fazendo efeito e a respiração normalizou. Depois de desparasitado, ganhou peso e a sua autonomia regressou. Revelou-se um gatinho afável e carinhoso, que “interage muito bem com as pessoas, pede mimos e dá turrinhas”, afirma Rosa na página Gatos da Nossa Terra.
Apesar do esforço que tem dedicado ao gato Jesus, Rosa não pode continuar a cuidar do animal. “Já tenho três animais idosos em casa – três gatos e um cão. Não posso ficar também com o Jesus. A única solução é devolvê-lo à rua, mas não sei se consegue sobreviver nessas condições”. Devido ao estado em que foi encontrado e à presença dos animais dos quais já é tutora, explicou à PiT que o felino “tem estado isolado”, e que sente que “isso não é vida e não é bom para ele”. Por isso, procura rapidamente uma alternativa que garanta ao gato a segurança e o cuidado de que precisa.
O amor chega para todos
Natural do Alentejo, Rosa sempre teve animais de estimação. A primeira foi uma gata branca e preta. “Não tinha bem um nome”, conta à PiT. “Chamava-lhe a “gata com a minha idade”, porque estava comigo desde que eu era muito pequena”. Recorda-se de uma cadela que encontrou, com uma pata ferida, quando tinha 14 anos: “Não havia veterinários. Levei-a ao consultório do meu médico de família, muito aflita. E ele tratou dela”.
Agora, residente nos subúrbios de Lisboa, continua a dedicar-se à causa animal. Apercebendo-se dos gatos abandonados que vagueavam perto da sua casa, começou a alimentá-los. “Em 2013 apareceu um gato preto – o Titi”, revela à PiT. “Estava sentada na sala e o gato entrou pela janela. Era um dos gatos da colónia que eu costumava alimentar. Começou a vir várias vezes, mas acabava por ir sempre embora. Num dia de chuva ele entrou, e não voltou a sair. Levei-o ao veterinário e fiquei com ele”. Também os outros animais de quem é tutora foram resgatados da rua. “Nem sei a idade de nenhum dos meus bichos”, brinca.
Ao longo dos últimos 10 anos, diz ter conhecido vários gatos, cujas vidas testemunhou e procurou ajudar. Recorda o caso do Vasquinho, que “teve um abcesso que precisou de operação”; do Téu, que “quase morreu por causa de uma infeção urinária”; do Félix e do Franco, que “foram abandonados juntos”; do Pompom, “um gatinho cinzento, muito bonito”, que encontrou a vomitar e que morreu pouco tempo depois; do Fininho, que “apareceu com uma pata partida”, e que “felizmente foi adotado por uma amiga”, e do Gaspar, o persa que não se deixava apanhar, e que “hoje vive em Almada, com um casal que o adotou”.
Rosa esclarece que todas as colónias de que trata estão registadas na Câmara Municipal de Almada, bem como os animais que lá vivem. “Estão todos registados e esterilizados. Isso para mim é ponto assente”. Além disso, procura garantir que são desparasitados, mas confessa que, à medida que foram aparecendo mais animais, tornou-se “mais difícil chegar a todos”.
Durante o tempo que tem dedicado aos gatos das colónias, foi conhecendo diversas pessoas com quem partilhou a dedicação à causa. Explica que mantém o contacto com algumas, que oferecem ajuda como podem e consoante a disponibilidade que têm. Rosa reconhece o empenho destas pessoas e valoriza as relações que criou graças aos patudos. “Tenho conhecido pessoas maravilhosas, que também têm muito amor aos animais”, refere.
Em 2021 decidiu criar a página “Gatos da Nossa Terra”, com a qual pretende sobretudo dar a conhecer os gatos de que trata, na esperança de que sejam adotados, e sensibilizar e consciencializar as pessoas sobre o abandono animal.
Diz que a sua maior preocupação é “fazer a diferença na vida dos animais”, mas confessa que “é uma causa difícil”, e que já ponderou afastar-se várias vezes. Uma das razões que aponta é a falta de apoio das entidades competentes. “Não há ninguém. As associações estão cheias e o provedor não chega a tudo. Não há apoios”, explica à PiT. Apesar de tudo, não conseguiu afastar-se. “Os animais dependem disto”.
Percorra a galeria para conhecer o gato Jesus.