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“Acabar com as touradas é um imperativo ético” – Aí está a rentrée do PAN

À PiT, Inês Sousa Real diz que “Portugal está hoje mais perto do fim das touradas do que no passado”. Partido quer referendo.
Referendar a abolição.

A tauromaquia continua a ser um assunto muito polémico no nosso país e cada vez mais portugueses se manifestam contra esta prática. Exemplo disso são as reconversões de antigas praças de touros e a diminuição do público que assiste a este tipo de “espetáculo”, com as touradas a serem crescentemente condenadas. Por isso mesmo, o partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) realiza neste sábado, 14 de setembro, a sua rentreé política com o evento “Hora da Abolição”.

O evento decorre no Jardim do Morro, em Vila Nova de Gaia – distrito do Porto, entre as 16h e as 20h, e conta com a presença de vários ativistas nacionais e internacionais. O ponto alto será a divulgação de uma proposta – que vai ser apresentada na Assembleia da República – para a realização de um referendo nacional sobre a abolição das touradas.

Com vista privilegiada para o rio Douro, o evento contará com a participação de várias associações para o bem-estar animal e terá uma food truck com comida vegana. Entre os oradores estão a senadora colombiana que protagonizou o fim das touradas no seu país, Esmeralda Hernández, e a vice-presidente do principal partido animalista (PACMA) de Espanha, Cristina Garcia, cabendo à porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, o discurso de encerramento.

À PiT, a líder do PAN sublinha que o evento “visa contribuir para sensibilizar e mobilizar a sociedade e o poder político para a abolição desta atividade cruel, que envolve o sofrimento e, muitas vezes, a morte do touro, ferimentos e mortes dos cavalos envolvidos na atividade, bem como de pessoas”.

Os avanços e recuos das touradas em Portugal

Considerando que a abolição das touradas “é um imperativo ético”, Inês Sousa Real diz-nos que “as touradas, incluindo as touradas de morte, nunca foram consensuais no nosso país, chegando a estar proibidas por diversas vezes” – com a implantação da República surgiram as primeiras associações de proteção animal e projetos de lei que pediam a abolição das touradas.

Além disso, lembra a deputada única do PAN, “em 1919, durante o XX Governo Republicano liderado por Domingos Pereira, foi aprovada a primeira lei de proteção animal em Portugal, por força do decreto nº 5650 de 10 de maio, que incluía a proibição das touradas e punia toda a violência exercida sobre animais”. “Foi sob a égide do Estado Novo que as touradas ganharam novo fulgor, altura em que foram eliminadas todas proibições anteriormente impostas”, explica Inês Sousa Real, que acredita, ainda assim, que a abolição acontecerá.

“Apesar do caminho que até aqui tem sido feito, acreditamos que Portugal está hoje mais perto do fim das touradas do que no passado, devido às mudanças nos valores sociais, em particular na defesa dos direitos dos animais e a crescente oposição de diversos setores da sociedade. Veja-se, aliás, a diminuição do número de praças de touros existentes no país e a reconversão promovida em municípios como Viana do Castelo, Albufeira ou Póvoa de Varzim, a par de outros municípios que se declararam ‘livres de touradas’. Estes factos a nível local, a diminuição das assistências e do número de touradas realizadas, bem como o fim da transmissão televisiva por parte da televisão pública (RTP) mostram a vontade crescente de abandonar esta prática”, diz à PiT.

partidos
Outdoor do PAN no Campo Pequeno, para as legislativas de março. A abolição das touradas continua a ser uma das grandes batalhas do partido.

60% dos portugueses defende abolição

A porta-voz do PAN alude também a um estudo realizado este ano pela Ipsos I&O Public, em Portugal, Espanha e França, em que mais de 77% dos inquiridos considerou que a tauromaquia causa demasiado sofrimento aos touros. “Portugal surge como o país onde há maior repúdio pelas touradas, sendo que 60% da população portuguesa defende a sua abolição, enquanto 71% dos portugueses consideram que não deve ser gasto dinheiro público para apoiar a tauromaquia e 74% consideram que a União Europeia deve proteger o bem-estar animal no âmbito das tradições culturais. Porém, apesar de a maioria da sociedade portuguesa ser contra as touradas, o financiamento público desta atividade tem-se mantido”.

Mas o exemplo de outros países traz uma esperança acrescida. “Aprovações recentes, como a proibição das touradas na Colômbia, por se reconhecer que a crueldade contra os animais não pode continuar a ser permitida como se fosse mero entretenimento, demonstram-nos que mesmo em sociedades onde a prática está fortemente enraizada é possível promover a sua abolição e a reconversão da atividade – como a criação de santuários para touros”, aponta Inês Sousa Real.

“Portanto, indo ao encontro da preocupação e sensibilidade social para com o respeito pelo bem-estar animal, através da proposta de referendo que o PAN vai levar ao Parlamento, esperamos que as demais forças políticas permitam dar voz ao povo português para que possam assim decidir e contribuir para este avanço civilizacional que o fim das touradas representa”, salienta. E defende que “é fundamental a reconversão e o apoio dos dinheiros públicos que são hoje utilizados quer para a criação dos touros de lide, quer a nível local para a aquisição de bilhetes e realização destes eventos”.

Ver o touro na lezíria, em liberdade

E como traduzir estas ideias na prática? “O PAN defende a criação de santuários e aposta no turismo de natureza, onde se possa ver o touro, um magnífico animal, na lezíria, em liberdade, sem ser sujeito a qualquer forma de violência e sofrimento”, diz Inês Sousa Real. “Acreditamos ainda que esta mesma reconversão é uma oportunidade para o surgimento de novas formas de entretenimento cultural, oportunidades para eventos e atividades que promovam a identidade local sem recorrer à violência contra animais e dando até um maior impulso ao desenvolvimento económico, considerando que a reconversão das praças noutros espaços permite inclusivamente uma maior fruição social, livre de sofrimento animal”, remata.

A rentrée política do partido contará ainda com intervenções de Rubén Pérez Sueiras – coordenador da campanha Infância sem Violência, da Fundação Franz Weber, e que desenvolveu um importante trabalho na abolição das touradas na Corunha (Galiza) – e Miguel Aparício, fundador do santuário de touros Namigni, na Colômbia.

O Santuário Namigni resgata animais de situações difíceis e cruéis e Miguel Aparício criou também, nesse âmbito, a Reserva del Toro Bravo – que pretende conseguir meios suficientes para conseguir acolher dezenas de touros e vacas de lide. Percorra a galeria para conhecer melhor o santuário gerido pelo português e pela sua mulher, Nani Ramírez, e os animais que ali vivem.

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