A vida de Alice não tem sido feliz. Talvez já se tenha sentido amada. Não se sabe. Talvez lhe tenham apenas “achado piada” quando era mais novinha. Para ela terá bastado. Porque para eles parece que basta sempre. Deu o seu amor e lealdade, como só um cão sabe dar, até que deixou de ter graça e foi abandonada bem longe de casa. E não se fez justiça – como a associação Arronches Adota a acolheu assim que foi encontrada, o tribunal considera que a sua integridade nunca esteve em causa. Como se tudo isto não bastasse, novo embate: enquanto esperava por uma família que visse a patuda meiga que é, a vida pregou-lhe mais uma partida. Alice está doente.
Recuemos no tempo. Foi a 7 de janeiro do ano passado que Alice foi encontrada sozinha na rua. Tinha sido presa com um peitoral e uma trela extensível ao algeroz de uma moradia em Arronches, no distrito de Portalegre. “Presumimos que tenha sido durante a noite. No decorrer da manhã, soltou-se do peitoral. Mas não saiu dali. Daquele lugar desconhecido onde foi deixada”, contou a à PiT a fundadora e porta-voz da Arronches Adota, Patrícia Flores.
Alice foi recolhida pelos serviços do município de Arronches e encaminhada para o abrigo da associação. Verificou-se que tinha microchip e, por momentos, houve a esperança de que estivesse perdida e com uma família preocupada à sua procura. “A partir daí foi um turbilhão para encontrar os proprietários, querendo sempre acreditar que não se tratava de um abandono”.
Mas Alice foi deliberadamente abandonada pela sua tutora. A associação conseguiu saber que Licinha – nome carinhoso pelo qual a Arronches Adota a trata – sempre tinha vivido numa casa. Tinha tido uma família. “Mas não houve intenção de a quererem de volta. Há maior traição a uma vida?”
No início foi tudo muito difícil para esta cadelita. Alice chorava sem parar dentro da sua box. Procurava sempre por companhia e acalmava quando havia crianças por perto. Sempre adorou crianças. Depois começou a habituar-se à sua nova condição – e o carinho das suas protetoras ajudou.
Processo por abandono de Alice foi arquivado
Entretanto, a queixa não deu frutos. Mas a associação não se conformou e não desistiu. “O arquivamento do processo já está a ser analisado por quem percebe destas coisas. Cá nós sabemos como cuidar dos que nos chegam às mãos. E também sabemos que temos de ser a voz deles. E bater o pé as vezes que forem necessárias para os defendermos”, explicou a associação no início deste ano. O motivo do arquivamento? “Foi decidido que a Alice não foi abandonada. Foi presa a um algeroz de uma casa, num bairro residencial, e a sua integridade física não foi colocada em causa porque foi rapidamente recolhida. Só podem estar a brincar connosco”, desabafou então a Arronches Adota.
Custa a acreditar. Mas é mesmo verdade. “Não se considera abandono porque o animal foi prontamente ajudado por moradores e pela nossa associação. Assim, não estando nunca a integridade do animal colocada em causa, foi considerada uma ‘entrega’ do animal”, explica Patrícia Flores à PiT. “A justiça ficou do lado de quem abandonou. De quem se esqueceu de cinco anos de companheirismo da Alice”.
Para Patrícia Flores, trata-se de uma atitude inconcebível. “Olhem nos olhos da Alice. Mas olhem de verdade. Olhem a Alice nos olhos e tentem explicar-lhe porque é que depois de fazer parte de uma família durante cinco anos tiveram uma facilidade tremenda em livrar-se dela. Olhem a Alice nos olhos e tentem explicar-lhe. Porque nós não conseguimos”.

Com o passar do tempo, Alice fez o seu grupo de amigos no abrigo e parece ter-se esquecido daquilo por que passou. “Brinca muito e sabemos que vive feliz. Mas falta uma casa, uma família, uma criança. Queremos muito o melhor para a Alice e sabemos que aqui, por muito que nos esforcemos, não a fazemos inteiramente feliz”, sublinhava recentemente a associação. “A Alice é daqueles cães perfeitos: não tem energia em demasia, não estraga nada, não faz as necessidades na box e adora crianças. A Alice foi habituada a viver em casa. A ter como companhia crianças. E, de um dia para o outro, viu-se privada de tudo isso”.
Patrícia Flores tece-lhe todos os elogios. “É muito meiga e gosta de dar beijinhos e comer biscoitos”. Só lhe falta a oportunidade de ter uma família que a ame verdadeiramente e não a veja como descartável.
Alice está doente e precisa de cirurgia
A luta por Alice não se fica por aqui. A cadela doce, que adora crianças, adoeceu. “Esta semana a Alice deixou de andar. Perdeu a sensibilidade nas patas de trás. Está paralisada e com muitas dores”, contou a associação a 23 de abril. Foi de imediato internada na clínica VetSul Campo Maior para primeira avaliação e estabilização, e dali foi encaminhada para o Hospital Veterinário da Arrábida, em Azeitão (Setúbal), tendo apanhado boleia com as voluntárias da associação Amigos dos Animais de Campo Maior – que nessa altura iam também com o saudoso Valentino ver o que se passava com a sua perda de mobilidade.
Para Valentino, as notícias foram as piores e o doce patudo teve de ser ajudado a partir, para grande tristeza de quem o amava. Porque Valentino foi amado e soube-o – e isso ainda é o que aconchega quem dele cuidou. Para Alice ainda há esperança. O obstáculo é mesmo financeiro, já que entre internamentos, medicação, tomografia e necessária cirurgia, a conta ascende aos 3.000€. E é aqui que todos podemos ajudar.
Alice tem uma hérnia compressiva na L4 e L5 que só será resolvida através de cirurgia. “Tem feito várias terapias enquanto tem estado internada no Hospital Veterinário da Arrábida, incluindo passadeira aquática. Tem recuperado algum movimento, mas sem cirurgia não voltará a andar”, diz Patrícia Flores.
“O relatório completo da Alice foi enviado para a Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, onde será intervencionada pela neurocirurgia. E é aqui que precisamos muito de vocês: a cirurgia da Alice ascende aos mil euros. Cada dia de internamento até hoje é de 75€/dia (já temos mais de mil euros de conta só de internamento), e mais um ou dois meses de reabilitação (a 600€ cada mês). Estamos a falar de mais de três mil euros. Só conseguiremos ajudar a Alice se tivermos dinheiro para tal. E não podemos esquecer todos os outros animais que temos no canil e que precisam de cuidados veterinários diferenciados”, explica a Arronches Adota, que deixa um apelo: “por favor, partilhem com os vossos amigos. Por muito pouco que vos possa parecer o vosso donativo, acreditem: para nós faz toda a diferença do mundo”.
Valentino não teve mais uma oportunidade. Mas Alice ainda pode vir a tê-la. E todas as ajudas contam. Para que esta patuda meiga, uma jovem de apenas seis anos, ainda possa vir a ter uma oportunidade de correr feliz, num lar onde seja amada e respeitada. Percorra a galeria para a conhecer melhor.