Há mais um braço de ferro a dividir agricultores e defensores da causa animal. A vacada que a associação de estudantes do Instituto Superior de Agronomia (ISA) da Universidade de Lisboa queria organizar para o dia 22 de setembro foi cancelada, por decisão da direção do instituto, depois do parecer negativo do Provedor Municipal dos Animais de Lisboa, Pedro Emanuel Paiva. Quem não gostou foi a Apormor – Associação de Produtores do Mundo Rural da Região de Montemor-o-Novo, que decidiu por isso convidar os alunos daquele estabelecimento a realizarem a vacada naquela cidade.
“Na sequência do cancelamento da vacada que estava a ser promovida pelos estudantes do Instituto Superior de Agronomia (ISA), motivada por um parecer do Provedor do Animal de Lisboa, a Apormor lança publicamente um convite aos estudantes daquele instituto sediado em Lisboa a realizarem o evento em Montemor-o-Novo”, anunciou em comunicado a associação do distrito de Évora.
Joaquim Capoulas, presidente da Apormor, sublinha no comunicado que “a nossa associação, que tem mais de 300 associados e representa uma estrutura essencial na fileira dos bovinos, ovinos e caprinos em termos nacionais, dará todo o apoio que seja necessário para que este evento se realize na data que for conveniente para os estudantes, assim estes aceitem o convite que publicamente endereçamos”.
“Ao contrário do Provedor do Animal de Lisboa, nós damos um claro parecer positivo à realização deste evento e todas as garantias de que o bem-estar animal estará assegurado. Os estudantes que em Lisboa, numa instituição de ensino superior dedicada à agricultura e ao mundo rural, não encontram condições para beneficiar de uma situação de são contacto com os animais de que é suposto saberem tirar devido proveito e uso, podem estar descansados que encontrarão em Montemor-o-Novo o melhor acolhimento e a oportunidade para lidarem de perto com a realidade que no futuro, desejavelmente, será a sua, pois Portugal precisa de técnicos e de profissionais que sejam capazes de contribuir para o desenvolvimento e afirmação do nosso mundo rural”, acrescenta.
Vacada no centro da discórdia
No entender de Joaquim Capoulas, “a valorização do mundo rural faz-se de proximidade e de envolvimento”. “O que está em causa com este cancelamento não é o bem-estar animal, mas sim uma visão ideológica de quem acha que todos os animais são animais de companhia e que não desempenham funções importantes ao nível agrícola, mas também ambiental. Os estudantes devem poder fazer a sua vacada. Se quiserem vir serão bem acolhidos e terão todo o nosso apoio”.
A Apormor deixa ainda críticas à direção do estabelecimento. “Esta situação de submissão da direção do ISA a uma agenda ideológica que desconsidera, por profundo desconhecimento e preconceito, o papel e lugar dos animais no mundo rural – e que nega aos jovens, no seu percurso académico e formativo, o contacto próximo com estes animais – mostra que não está seguramente a desempenhar um bom papel”.
“Este lamentável alinhamento da direção do ISA com uma recomendação sem fundamento e sem sentido deveria levar a um debate alargado na sociedade e na academia sobre que pertinência, que utilidade e que sentido faz a existência desta instituição de ensino superior na capital do país”, remata o comunicado.
A associação tinha referido que iriam ser usadas vacas bravas (provenientes de uma ganadaria especializada), que seriam soltas uma a uma num pequeno recinto do campus do instituto para irem atrás dos estudantes, sendo que estes não lhes fariam qualquer mal – mas o entendimento é o de que um animal não deve ser usado como diversão.
Recorde-se que Pedro Emanuel Paiva emitiu na sexta-feira o parecer negativo à realização do evento, depois de em maio passado já ter produzido uma recomendação no mesmo sentido – levando igualmente ao cancelamento da vacada naquele estabelecimento de ensino.
Para Provedor, vacada não deixa de ser uma crueldade
“Nenhuma entidade ou pessoa pode pedir que me distancie do que é a razão fundamental da existência de um provedor do animal”, esclareceu o Provedor, frisando ser “imperativo que a Associação dos Estudantes do Instituto Superior de Agronomia faça uma interpretação atualista das práticas contrárias ao bem-estar animal, como o são a crueldade a que qualquer animal está exposto quando se encontra fora do seu habitat natural, privado da sua liberdade e rodeado de estímulos negativos que apenas incentivam o instinto intrínseco de sobrevivência, no caso concreto, da vaca”.
Ainda no âmbito dos bovinos, a Provedoria Municipal dos Animais de Lisboa propôs recentemente, numa recomendação à câmara da capital, a criação de um santuário do touro bravo como medida de proteção e preservação deste animal. A ideia é que esse espaço seja criado no município de Lisboa, sendo colocada em cima da mesa a possibilidade de, através deste santuário, se “originar um novo conceito económico” – e isto em cooperação com a Reserva Del Toro Bravo, fundada pelo empresário português Miguel Aparício.
O Animal Namigni foi o primeiro santuário fundado por Miguel Aparício na Colômbia, tendo influenciado depois a criação da Reserva del Toro Bravo, e conta com mais de 400 animais. Destes, mais de 100 são bovinos de diferenças raças. Percorra a galeria para conhecer melhor este santuário e os animais que ali vivem.