Animais

Amigos dos Animais de Campo Maior há seis anos a devolver o brilho ao olhar dos cães

A associação resgata cães em risco e cuida deles até lhes conseguir uma boa família. Fomos conhecer o seu trabalho meritório.
Quando há amor, a alegria regressa.

A PiT e a Delta Q juntaram-se para apoiar uma associação de proteção animal todos os meses, ao longo do próximo ano. Neste mês de julho damos a conhecer a Associação Amigos dos Animais de Campo Maior, que desde 2016 já conseguiu mudar a vida de centenas de animais que não tinham voz.

Mafalda Ensina, responsável da associação, tem 39 anos e é natural de Campo Maior. Nem sempre ali viveu — tinha dois anos de idade quando emigrou com os pais e o irmão para os Estados Unidos —, mas durante toda a sua vida tem ajudado animais, o que a ajudou a trazer esse conhecimento na bagagem quando regressou.

“Sou de uma família que sempre gostou de animais. Mas a verdade é que os animais pertenciam ao quintal: assim me foi ensinado”, conta Mafalda à PiT. Ao longo dos anos, essa mentalidade foi mudando.

“Nos EUA, a minha mãe e eu éramos voluntárias na Humane Society International e cuidávamos de gatinhos órfãos. E, aos poucos, eu e o meu irmão convencemos os meus pais de que podíamos ser responsáveis por um animal de companhia. Conseguimos convencê-los a adotar uma cadelinha e hoje nem os meus pais conseguem viver sem os nossos bicharocos ao nosso lado”, diz.

Mafalda viveu nos EUA até acabar os estudos e voltou para Portugal em 2008. Cedo percebeu que a causa animal também tinha ainda um longo caminho a percorrer por cá. Começou a ajudar como podia e rapidamente se reuniu um grupo de voluntárias que lutavam pela mesma causa. Dali à criação da Associação Amigos dos Animais de Campo Maior foi um ápice.

“Quando regressei a Campo Maior,  percebi que havia muitos animais na rua. Comecei a cuidar de uma gata que teve os bebés no meu quintal e, juntamente com as minhas colegas, cuidámos de todos e arranjámos-lhes famílias”. “Nunca mais deixei de alimentar colónias de gatos”, conta Mafalda, que é hoje professora de inglês em Badajoz.

A vontade de combater o abandono e os maus tratos

E como nasceu a Amigos dos Animais de Campo Maior? “A ideia de formar uma associação veio depois de ter criado uma página no Facebook a divulgar animais perdidos ou abandonados. Descobrimos que havia várias pessoas com vontade de tomar uma posição mais proactiva relativamente ao abandono e maus tratos na nossa vila”, explica a responsável da associação.

E foi assim que, em 2016, nasceu esta associação alentejana, pertencente ao distrito de Portalegre.

As voluntárias resgatam, sobretudo, cães de porte médio-grande — “normalmente animais usados para guardar terrenos, que são vistos descartáveis” — e também muitos cães de caça,  incluindo galgos, dos dos quais cuidam até conseguirem encontrar-lhes um lar. Mas não é simples.

“É muito difícil encontrar famílias responsáveis, que entendam que um animal faz parte da família. Ainda há pessoas que acham que os cães é para estarem nas varandas e no quintal. Às vezes ainda lutamos contra uma mentalidade retrógrada e tentamos explicar que a esterilização é importante e que passear o cão não é um bicho de sete cabeças”, diz Mafalda.

Por isso, há que “fazer uma triagem completa para que as adoções corram da melhor forma para ambas as partes”. “Mas também temos centenas de famílias 5 estrelas em Portugal,  Espanha e mais longe”, sublinha.

Nesse âmbito, há duas associações que têm dado um grande apoio. “A Katefriends ajuda-nos na adoção de galgos. A presidente, Cristina Gonçalo, apoia-nos desde o início e já nos ajudou a adotar mais de 20 galgos”.

Também a ADANA, uma associação em Badajoz que trabalha com outras associações em Bilbau e na Alemanha, tem sido uma referência. “Também nos ajudaram com mais de 15 adoções desde 2020”.

Adoções responsáveis

O objetivo principal da associação é fomentar a adoção responsável. “Tentamos divulgar os nossos patudos para que todo mundo veja o quão lindos são. Temos uma parceria com a câmara municipal e o centro de recolha para que todos os animais sejam entregues esterilizados, vacinados e com microchip”, explica Mafalda, visivelmente feliz com o que a associação tem conquistado na ajuda a estes animais.

No entanto, nem tudo traz boas memórias, pelo menos inicialmente. “Nos últimos dois anos, houve dois casos que me impactaram muito”, conta Mafalda Ensina. Um deles remonta a agosto de 2020. “Foi encontrada uma cadelinha, à qual demos o nome de Happy, com as duas patas propositadamente partidas. Fui família de acolhimento temporário (FAT) dela durante quatro meses e ainda hoje sou uma madrinha babada”.

Depois, a história do Valentino. Foi encontrado em março 2022 no lixo, quase morto. “Era um cão de porte grande, com poucas expectativas de sobrevivência. Hoje corre livre e feliz no nosso abrigo à espera de uma família”.

Mafalda já foi FAT de muitos animais e diz ser “uma experiência muito gratificante”. “Sobretudo quando os vejo felizes numa família que os quer muito”.

Atualmente, a associação é composta por sete voluntárias, que tratam dos cães, mas os amigos também marcam presença no abrigo para outro tipo de ajuda. “Temos pessoas que vão em momentos de maior aflição, como na pandemia — quando chegámos a ter apenas duas 2 voluntárias não confinadas durante um largo período”.

A maior dificuldade desta associação é encontrar bons adotantes. E também mais voluntários para cuidar do abrigo e para ajudar em recolhas e eventos. “Nós sacrificamos muito do nosso tempo e fazer isso voluntariamente não é para todos”.

Pagar as contas: um equilíbrio difícil

Pagar as contas — sobretudo para alimentação e cuidados veterinários — é uma das maiores necessidades desta associação de Campo Maior. “Temos de vender rifas e peças de artesanato e ‘pedinchar’ nas redes sociais, apelando à generosidade das pessoas. Felizmente temos sorte de ter muitos ‘amigos dos animais’ um pouco por todo o lado”. Mas é um equilíbrio apertado, porque as faturas estão sempre a aparecer.

“Sobrevivemos com a boa vontade de amigos e pessoas que seguem a nossa causa. Temos também a ajuda da câmara municipal, que nos deu o espaço do abrigo e nos ajuda com as esterilizações, etc. E há empresas que à vezes doam ração e bens”, aponta Mafalda. E isso faz toda a diferença.

Ração é algo que também faz sempre falta — “bem como patés, porque temos vários animais a tomar medicação”, diz a responsável da associação.

No correr dos dias, é sobretudo o empenho e missão de amor destas voluntárias que permite que aos animais do abrigo nada falte. Se quiser ajudar, pode contactar a associação por email (amigosdosanimaisdecampomaior@nullgmail.com) ou através da sua conta no Instagram ou da página do Facebook. E aproveite para ver os artigos à venda, que são uma maneira de esta associação de Campo Maior angariar verbas para ir fazendo face às despesas.

Percorra a galeria para conhecer melhor a associação e alguns dos animais que ali esperam por uma boa família. Pode também consultar a página da Be My Friend, que fotografou os amores que por ali aguardam por um lar só deles.

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