As lágrimas de uns matam a sede de outros — e Carlos Filipe já inundou um deserto. Para ele, é difícil passar um dia sem chorar pelos animais que cruzam o seu caminho. Mas nem todos os choros são de tristeza. Nestes, encontra também a alegria de sentir que o que faz ajuda a mudar-lhes a vida. E agora, acrescenta à lista outra forma de apoiar a causa animal. Desta vez, de mãos dadas com a PiT.
“O conhecimento é a melhor arma que nós temos de os ajudar”, conta-nos o fotógrafo que chora pelos animais. A partir desta sexta-feira, 17 de maio, Carlos Filipe junta-se à família como autor da rubrica quinzenal “Amigos para Sempre”, que será partilhada no site da PiT. É através desta que os leitores ficarão a conhecer as histórias mais marcantes, violentas e inspiradoras presenciadas por Carlos.
“Foi graças à PIT que conseguimos arranjar uma família para o António”, recorda. O cão abandonado com um recado para o matarem sobreviveu mais alguns meses para contar (e viver) o resto da sua história. “Foi com a vossa divulgação que os meus textos e as minhas fotos chegaram à família de Lisboa que o foi buscar ao Algarve. E ele acabou por ter um final de vida muito feliz”, conta, emocionado.
É esta entreajuda, este apoio em rede, que tem mudado a vida de Carlos Filipe e dos seres de quatro patas que o acompanham. Ao lado da PiT (desta vez, oficialmente) quer chegar a um número cada vez mais elevado de pessoas e mudar pensamentos. “Quando o Nuno Azinheira [diretor da PiT] me convidou, nem hesitei: disse logo que sim. Fiquei muito contente, porque é mais uma forma de dar visibilidade à causa”, conta, entusiasmado.
“Existem muitas pessoas que têm uma ideia do que é a causa animal, mas não sabem a profundidade que ela tem, das histórias dos animais e das partes violentas que existem também”, aponta. “Muitas das vezes, quando chegam aos abrigos, acabam por ficar só com os cachorros ou procuram só os animais de raça”.
O trabalho que começou a fazer nos últimos seis anos tem-se focado em “animais imperfeitos” ou naqueles mais velhos deixados para trás que passam anos numa jaula, às vezes sem qualquer oportunidade de saírem de lá. Lidar com a dor não é uma tarefa fácil. “Eu tinha um cabelo castanho maravilhoso, neste momento tenho o meu cabelo misturado com fios brancos”, brinca. “Mas nunca me senti tão feliz”. E o segredo está em olhar para frente e fazer o possível para transformar o lado sombrio em esperança.

“Quando conhecemos uma história que achamos que é demasiado violenta, conseguimos encontrar uma que ainda é muito pior”, confessa. “Tento ver os animais como uma missão. Eles depositaram em nós a confiança de mostrarmos a sua história, e tento não me deixar levar pelos sentimentos, o que é impossível”.
Com António, por exemplo, esteve presencialmente duas vezes. Mas foram suficientes para nunca mais o esquecer. “Quando vejo as fotografias dele, ou falo dele nas apresentações, vêm-me as lágrimas aos olhos, porque é como se ele fosse meu”, partilha. “Todos eles acabam por ser uma responsabilidade que eu tomo, que não me dão, mas eu aceito-a, porque sou mais uma oportunidade que eles podem ter de vir a encontrar uma família”.
“Eles apenas saem deste plano, mas continuam connosco”
A história de Fofinha, a “princesa” de Carlos Filipe, é a primeira da nova rubrica quinzenal “Amigos Para Sempre by Carlos Filipe,” que se estreia já esta sexta-feira. É também com lágrimas aos olhos que o fotógrafo recorda a cadela com que esteve poucas horas, mas que ainda hoje carrega no peito. “Conhecia-a no dia em que foi eutanasiada e só percebi que isso ia acontecer a seguir à sessão” fotográfica, partilha. “Até então, não tinha percebido por que razão a família estava toda presente”. Era a despedida.
O encontro único que teve com a cadela representou um dos primeiros abalos que sentiu com este universo ao qual hoje se dedica. Naquele dia, há seis anos, lembra-se de a ter acompanhado até ao último momento. “Foi logo um dos primeiros animais cuja história contei. A dona dela sempre disse que nunca iria conseguir fazer o luto, porque a Fofinha continua viva e a desbravar terrenos. Isso para mim é muito gratificante. Eles apenas saem deste plano, mas continuam connosco”, afirma.
O fotógrafo, que tem também uma rara sensibilidade e talento para a escrita, acabou de lançar, já este mês de maio, o seu terceiro livro, “Diários dos que ninguém quer”, em Lisboa e no Porto. Com a chancela da Chiado Books, já está à venda em todo o País e junta todos os temas que Carlos acha essencial partilhar. Num futuro próximo, espera que as suas palavras sejam ensinadas em escolas.
“Este livro fala um bocadinho da vida real, dos animais que encontramos na rua, dos que passam a vida em varandas e não sabem o que é a rua, dos que vivem com os donos que têm doenças e a ligação que partilham. E também da eutanásia”, enumera.

Ao lado de Boris, o cão que lhe mudou a vida, Carlos tem rodado de Norte a Sul a dar a conhecer as histórias daqueles que são esquecidos. “Para mim, não faz sentido ele não estar, porque ele é que é o verdadeiro motor de tudo isto. Foi através dele que comecei e ele é a verdadeira estrela”, frisa. “Não fui eu que o adotei, foi ele que me adotou a mim. Foi ele que me salvou e me fez ver a vida da forma como eu vejo”.
A inspiração de quatro patas do fotógrafo é também a responsável por dar a cara ao seu novo livro. “Ele não é de raça, não tem um pedigree, mas para mim, é o cão mais perfeito do mundo por tudo aquilo que ele representa e por tudo aquilo que faz”, aponta. “Ele é que me ajuda, por exemplo, com os animais traumatizados”.
Todos os valores angariados com o novo livro revertem a favor da Animalife, uma organização de sensibilização e apoio social-animal a nível nacional. Pode comprar uma cópia física (14€) ou e-book (5€) através deste link.
De seguida, carregue na galeria para saber mais sobre o trabalho de Carlos Filipe e a nova parceria com a PiT.