Animais

Andam a raptar gatos em colónias do Barreiro e de outras zonas do país

Cuidadores estão preocupados com intenções de quem está a levar os animais. Há relatos de serem indivíduos numa carrinha branca.
É preciso protegê-los.

Por todo o país, há milhares de colónias controladas, com cuidadores que implementam – em grande parte das vezes com apoios camarários para o efeito – os chamados programas CED (Capturar-Esterilizar-Devolver) para que os gatos não se reproduzam indiscriminadamente. A maioria dos felinos é devolvida à sua colónia, a menos que haja animais que se revelem muito meigos e com vontade de viver dentro de uma casa. As suas protetoras conhecem cada um deles, todos têm um nome e são alimentados diariamente, sendo levados ao veterinário sempre que seja necessário. Por isso, verem algo de mau acontecer-lhes é sempre uma grande aflição. E é precisamente isso que está a suceder em várias zonas do país, com incidência – ao que se sabe – na margem sul do Tejo.

Desde maio, várias colónias de gatos no município do Barreiro, no distrito de Setúbal, têm sido vítimas de raptos em massa. O desaparecimento destes animais está a ser relacionado com a ação de um grupo de indivíduos estrangeiros, ainda por identificar, que se deslocam de carrinha e munidos com redes para apanhar os animais, a diferentes horas do dia e de madrugada. São felinos de colónias CED, estão esterilizados e chipados pelo município, e ao cuidado de diferentes cuidadores que estão transtornados e se sentem num enorme desespero com toda a situação”, refere uma protetora da causa animal em denúncia enviada à PiT com o pseudónimo Central Animal.

Estão a ser montadas vigias 

Anabela Oliveira é cuidadora de animais e – a par com outras protetoras – tem estado a tentar espalhar a palavra nas redes sociais. À PiT conta, desolada, que têm tentado apanhar os indivíduos em flagrante. Mas não está fácil. “Somos várias e com diversos focos. Temos uma pessoa que está dentro de todos os contactos que se podem fazer em situações destas e decidiu dar uma ajuda, sob o nome Central Animal; temos a Virgínia, que falou com a senhora que testemunhou um dos raptos; temos a Patrícia, que é quem tem organizado as vigias às colónias; bem como a Ana e a Sandra, que pertencem ao projeto CED do Barreiro e que foram das primeiras a saber da situação”, explica Anabela.

“Estes cuidadores têm-se revezado ao longo das horas para fazer vigília e proteger ao máximo os animais das diferentes colónias. Mas a situação em nada parece estar a abrandar, pelo contrário, e até à data de hoje continuam a desaparecer animais dos mesmos e de novos sítios. Desde maio que não param de surgir online, com destaque para o Facebook – nos grupos de apoio aos animais daquela região –, novos relatos destas ocorrências”, sublinha a Central Animal. 
No seguimento dos raptos, foi realizada uma participação à GNR no dia 13 de junho, tendo também havido já contactos com o Centro de Recolha Oficial de Animais (CROA) e a Câmara do Barreiro. “Supostamente, as diligências necessárias já estarão a ser tomadas, mas os raptos continuam a suceder-se e a afetar novas colónias”, lamentam os protetores. 

gatos
Gatos de rua e das colónias precisam da nossa proteção.

Grupo de raptores pode ser o mesmo em várias colónias

Nos primeiros raptos, as pessoas locais não se aperceberam imediatamente de que os animais estavam a ser retirados dali, explica a Central Animal. “Segundo as queixosas, as pessoas da vizinhança, ao avistarem uma carrinha, tendem primeiro a considerar que aquela ação se trata de um serviço camarário ou de uma associação animal de apoio àqueles seres. No entanto, com o desaparecimento progressivo dos gatos das colónias, perceberam que os animais estão a ser roubados. Ao começarem a trocar informações, verificaram que a mesma situação está a ocorrer noutras colónias e que provavelmente se trata do mesmo grupo de criminosos”, denuncia esta fonte.

“Os cuidadores dos animais precisam de ajuda para que se investigue com toda a prioridade o que se está a passar e se tomem medidas para preservar as colónias e salvaguardar o bem-estar desses animais. É necessário informar a população local, para estar atenta à situação. É preciso que a polícia faça vigílias e passe pelos locais das colónias várias vezes ao dia e à noite para evitar que esta situação continue e, porventura, conseguir apanhar os criminosos”, apela.

Algumas testemunhas confirmaram, em diferentes sítios, tratar-se de uma carrinha Peugeot branca, refere ainda a Central Animal. E o que refere a seguir é grotesco: “sabe-se ainda que está a decorrer uma investigação da Polícia Judiciária em diferentes restaurantes de Lisboa. Não se consegue compreender o que é feito às centenas de animais que já desapareceram, mas desconfia-se que estarão a ser vendidos para carne, tendo uma das testemunhas inclusive encontrado alguns dos animais abertos e sem órgãos”.

Cuidadores dos gatos querem ação imediata das autoridades

“Esta situação é chocante e não pode ser tratada com leviandade. Os animais estão ao cuidado do município e é preciso acionar vários meios para os proteger. Não basta esterilizar e devolver. Eles precisam de alimentação e apoio. Agora, desaparecidos, levantam-se inúmeras questões. Como é que o município saberá sequer que animais – que chips – desapareceram se também não procede ao levantamento exaustivo dos gatos que restam? Os serviços camarários não se podem limitar a ir aos locais e limpar os pequenos abrigos preparados pela população para que os animais se consigam abrigar do frio e da chuva. A polícia tem de ser acionada, e os raptores têm de ser procurados até serem encontrados”, insta a Central Animal.

O receio de que esta situação se alastre é enorme. “Muitos temem que este comportamento se comece a espalhar para outros municípios e é, de facto, preciso avisar os CROA e cuidadores de outras regiões do país, passar a limitar ainda mais o acesso à informação sobre a localização de colónias e repensar de que forma podem estas ser protegidas e o que deve ser feito para evitar o crescimento destas máfia. Além disso, o facto de se poderem tratar de pessoas estrangeiras, que não têm os nossos costumes, está a causar ainda mais indignação nas pessoas e, em especial, nos cuidadores dos animais, que se sentem completamente desamparados com isto”.

Estes gatos precisam da ajuda de todos nós

“Muitos dos animais de colónias foram abandonados. Eram animais de estimação, que teriam pelo menos algum calor até ao momento que foram despejados. Eles precisam de imensa assistência e de uma família que os ame. E é assustador pensar no rapto deles e no desespero deles ao serem apanhados, levados na carrinha e provavelmente mortos de uma forma tenebrosa”, lamenta a Central Animal.

O repto fica lançado. “Pagamos todos a esterilização desses animais. As pessoas civis dedicam-se a cuidar deles, por falta de capacidade dos serviços veterinários, e não podemos fechar os olhos à situação. É uma questão veterinária, municipal e social”, remata, acrescentando que também no Lavradio e Vila Chã – freguesias do concelho do Barreiro – há relatos de muitos gatos de colónias a desaparecerem. E está igualmente a ser investigada a possibilidade de estar a acontecer o mesmo no Funchal – ilha da Madeira.

Para se familiarizar melhor com o conceito dos programas CED, percorra a galeria para saber mais sobre a gestão de colónias felinas e sobre como é importante esterilizar os animais que delas fazem parte.

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