O ditado popular “a união faz a força” nunca fez tanto sentido no mundo animal. De norte a sul, são vários os portugueses que se dedicam diariamente aos muitos animais e famílias carenciadas em Portugal. E numa altura em que o número de abandonos continua a subir, nunca foi tão importante ajudar. Neste sábado, 30 de setembro, a 32.ª edição do Banco Solidário Animal (BSA), organizado pela Animalife, arranca nas lojas Mercadona e Pingo Doce e não há melhor data para celebrar aqueles que se dedicam ao projeto.
Assim como Roma e Pavia não se fizeram num dia (e nem por uma única pessoa), o BSA segue a mesma lógica. A maior campanha nacional de recolha de alimentos e outros bens essenciais para animais conta com a ajuda de mais de 10 mil voluntários que fazem o impossível para atingir o objetivo do projeto: “Tentar angariar o máximo de clientes e fazer as pessoas perceberem que os animais também fazem parte da vida”, explica à PiT Susana Torre, 48 anos.
A voluntária sempre foi apaixonada por cães e hoje, ao lado da irmã, presidente de uma associação de resgate, conta com seis patudos na família. Nos primeiros anos a participar do BSA, Susana esteve sempre acompanhada do filho e agora, apesar deste já não ter tanta disponibilidade por causa dos estudos, continua a carregar os ensinamentos que aprendeu com a mãe: “Cuidar dos animais e ter esta noção de que eles precisam de ser cuidados. Os de rua não tem quem os ajude”.
Entre os bens mais necessários, estão ração seca e húmida para cão e gato, areia, produtos de higiene e limpeza, trelas, coleiras e comedouros. “As rações, a areia e os produtos de limpeza são os top três da nossa lista de necessidades”, refere Lígia Andrade, presidente da Midas, uma das associações beneficiárias.
Lígia refere que na véspera do início da campanha, tinha apenas 60 quilos de ração para cães. “Gastamos isso num dia só”, explica. “Os medicamentos são também muito precisos e escassos, por norma temos de os comprar todos. E se gastarmos dinheiro numa coisa não temos para a outra”, refere, afirmando que a necessidade “é tanta” que já chegaram a estar em três hipermercados no mesmo fim de semana.
Ao longo dos anos, as necessidades têm também aumentado. A presidente refere que os pedidos de acolhimento são cada vez mais frequentes e, consequentemente, os custos também. “O preço das rações e medicamentos aumentaram e os donativos chegam em menos quantidade, o que dificulta ainda mais os nossos dias”, afirma. “A participação num BSA num hipermercado habitualmente garantia-nos a alimentação para quatro meses, mas atualmente, garante para pouco mais de dois. Mas é muito bom na mesma”.

“Ajudem a ajudar”
Segundo Alexandra Borges, jornalista e antiga repórter da TVI, é este o segredo para fazer a diferença. “Não custa nada e a recompensa é o olhar de gratidão de um novo amigo de quatro patas”, partilha à PiT. A profissional é uma das figuras que apoia a iniciativa “desde sempre” e este ano não foi diferente. Recentemente, perdeu o companheiro de vida, um Labrador de 14 anos que viu os seus filhos crescerem e que a mudou a vida.
“A sua generosidade foi ao ponto de morrer a dormir para não me obrigar a ter que tomar decisões difíceis”, remata. “Ficará sempre connosco, o seu amor por nós era incondicional e o nosso, por ele, será eterno”. É por ele e por aqueles que não têm a sorte de ter uma família que continua a ajudar anualmente os que mais precisam.
Além dos voluntários e de todos os que apoiam o BSA, os coordenadores da iniciativa também têm um papel essencial. Afinal, são eles que põe a casa em ordem. “Tenho imensa satisfação em que tudo corra bem, que as quantidades angariadas sejam suficientes para garantir a sobrevivência dos abrigos, que os voluntários sintam que estão a fazer a diferença e que os espaços que nos abrem portas fiquem com a melhor imagem possível”, explica Júlia Guerreiro.
Aos 61 anos, a coordenadora de loja no Cascais Shopping colabora com a associação há cerca de uma década e começou como voluntária num Banco Solidário. Na altura, não tinha qualquer vínculo à Animalife ou outra associação. Mas com o tempo, foi convidada por esta a ser a responsável pelo Núcleo de Sintra, com foco de intervenção no Programa de Apoio a Famílias.
“Ser voluntária faz parte da minha vida, não conseguiria vivê-la de outra forma”, confessa. E em casa, é ao lado de Afonso e Simão, dois gatos de 12 e cinco anos, respetivamente, que dedica todo o amor pelos patudos. “Eles retribuem com muitas turrinhas e muito ron-ron”, brinca.

Enquanto cada loja tem um coordenador responsável pelo seu funcionamento, a nível de distritos isso também acontece. Em Aveiro, por exemplo, Daniela Veiga, 43 anos, tem sido a representante da Animalife nos últimos oito anos.
À semelhança de Júlia, também auxilia a gerir os voluntários mas tem um maior foco nas associações. A coordenadora atribui as lojas às instituições beneficiárias e além de ser a representante de todo o distrito, tem como foco encontrar, dentro do grupo de amigos, pessoas para juntarem-se à iniciativa.
“Explico-lhes qual o grande objetivo do Banco Solidário Animal e qual a postura que devem ter perante às pessoas, principalmente às atitudes negativas. É agradecer, com um sorriso sempre, mesmo que algumas delas sejam inconvenientes e mal educadas”, descreve. “Ajudo-os a não se deixarem abater por alguém não querer contribuir ou criar barreiras ao facto de estarmos a pedir”.
Nos últimos anos, entre as associações beneficiárias que tem trabalhado lado a lado como coordenadora, está a AFECTU, destinada a cães e gatos. De acordo com um testemunho que a presidente Sofia Naia partilhou à voluntária, a importância da iniciativa está, especialmente, na maneira em que serve “todos de igual forma”.
“Representa os animais em necessidade que precisam de ajuda, independentemente da associação que está ali dar a cara. É um momento em que o cão e o gato não tem cor, raça ou género. São animais que precisam de apoios e que lhes dê uma mão para lhes apertar as patinhas”, frisou Sofia. E é com a ajuda de todos que isso acontece.
“O Banco Solidário Animal é um símbolo de união muito importante e requer a participação de todos nós”, conclui Rodrigo Livreiro, presidente da Animalife. No início deste mês, a PiT tornou-se no principal media partner da associação que apoia atualmente 325 instituições.
O presidente convida todos os portugueses a serem também um “herói da causa animal” este fim de semana nas lojas Mercadona e Pingo Doce para ajudar os milhares de animais necessitados em todo o País.
De seguida, carregue na galeria para ver alguns dos voluntários em ação.