Cookie foi encontrada, acabada de nascer, num caixote do lixo. Estava com os irmãos dentro de um saco de plástico, “ainda quente”. Tinha sido abandonada para morrer. Quis o destino que fosse parar às mãos da jornalista da SIC Ana Patrícia de Carvalho, que sofria com a perda de uma cadelinha, companheira de uma vida e “membro da família”. “Eu tinha dito que não queria mais nenhum animal”, conta à PiT. Mas a pivò da “Edição da Noite” da SIC Notícias não conseguiu ficar indiferente àquele “ratinho muito pequenino, que cabia na palma de uma mão”. Hoje, Cookie tem cinco anos e é uma Yorkshire Terrier feliz. Estreou-se nesta terça-feira, 19 de abril, como uma das protagonistas da campanha de sensibilização contra os maus-tratos a animais e os benefícios da sua presença para a saúde mental.
As imagens foram captadas pela Shots & Cuts nos estúdios da Big Ideia – Creative Hub, em Lisboa. A iniciativa, que conta com o apoio da Câmara Municipal desta cidade e tem coordenação de Mauro Paulino (psicólogo clínico e forense), Sandra Horta (jurista) e Pedro Emanuel Paiva (especialista em comportamento canino e o novo Provedor do Animal da CML), tem como mote o lançamento da obra “Animais e Pessoas: Maus-tratos a Animais, Link para a Violência Contra Pessoas e Intervenção Assistida”, da editora Pactor, e juntou quase uma dezena de figuras públicas e os seus animais de estimação.
A PiT esteve lá e assistiu às gravações, pautadas por muitas gargalhadas, fotografias e, claro, alguns xixis e cocós. Para Ana Patrícia de Carvalho, era impensável ter recusado o convite. “É sempre muito importante relembrarmos que os nossos animais têm direitos e que somos contra aquelas atrocidades que continuamos a ver, muitas vezes, em notícias que achamos impensáveis. Eu sou das pessoas que me custa muita quando tenho de noticiar maus-tratos a animais. Mexem muito comigo, até pela história da Cookie”, lamentou.
“Os animais já nascem a saber amar de forma incondicional”
Andreia Rodrigues também lá esteve e afina pelo mesmo diapasão. “Uma vez li que os animais já nascem a saber amar de forma incondicional e nós levamos uma vida inteira para conseguir fazê-lo. Eles, por norma, até por aqueles que lhes fazem mal — e a maior parte das vezes são os tutores que os maltratam — têm uma devoção tal e um amor tal que acabam por se subjugar e permitir que essas atrocidades aconteçam”, lembra. A apresentadora do canal de Paço de Arcos e mulher de Daniel Oliveira, Diretor de Programas da mesma estação, trata Roma e Rio, os seus dois cães, por “filhos caninos”. “Eu não consigo imaginá-los a sofrer. Eu sou daquelas mães caninas que chama a veterinária a casa por qualquer coisa”, ri-se.
A cumplicidade entre a comunicadora e os seus dois patudos é bem visível neste momento carinhoso que a PiT captou nos bastidores da sessão.
Clara de Sousa vai mais longe e acredita que integrar estas iniciativas é uma “função social” que as figuras públicas também devem ter. É dela o prefácio de “Animais e Pessoas: Maus-tratos a Animais, Link para a Violência Contra Pessoas e Intervenção Assistida”. “Fiquei muito feliz quando o Mauro me convidou, porque sou muito ligada a animais desde criança”, afirma a pivô da SIC, que levou Mia e Kiko para a campanha. Em casa ficaram três gatos. Todos eles foram resgatados. “Os animais são nossos amigos se nós formos amigos dos animais e muitas vezes são nossos amigos mesmo quando são mal tratados. Espero, de alguma forma, que o nosso exemplo possa fazer perceber que a violência é completamente errada”, frisa à PiT.
A jornalista, de 54 anos, mantém a esperança nas gerações mais jovens e conta que a sua forma de ver os animais mudou. “Hoje, choca-me se vir um cão acorrentado. Quando eu era mais nova não me chocava. Fazia parte. Eu evoluiu nesse aspeto”, confessa. “Enquanto cá estiver, quero cumprir a minha parte”, termina.
Também João Baião se fez acompanhar de dois cães., Tânia e Tomás Na sua quinta em Alenquer ficaram outros 12. “Quando acham que a minha presença é fundamental para qualquer tipo de alerta relativamente ao mundo animal, eu aceito com todo o gosto”, assevera. Porque, prossegue, “apesar das constantes campanhas, ainda estamos aquém do respeito que devemos aos animais e do carinho que lhes devemos proporcionar”. “Temos de olhar para os animais como elementos da família“, reitera o apresentador e ator.
Fátima Lopes não podia estar mais de de acordo. A apresentadora levou Brownie, um cão de cinco anos que vive em sua casa há cerca de três e meio, e referiu que dar a cara por estas iniciativas é de “extrema importância, para que toda a gente perceba que os animais têm de ser tratados com o mesmo respeito e com o mesmo carinho com que se tratam as pessoas”. “Quem trata mal um animal nunca será uma boa pessoa. Aliás, nem lhes chamo pessoas, chamo-lhes criaturas”, diz, visivelmente incomodada. “Enquanto esta mensagem não chegar de forma clara a toda a gente, eu não me calarei”, atesta.
“Sei que os maus-tratos nunca vão ser erradicados”
Pedro Emanuel Paiva, um dos coordenadores da iniciativa — que contou ainda com os contributos de Sérgio Rosado, Iva Lamarão, Nuno Gama e Jani Gabriel —, apelida “esta ação como o culminar de mais de vinte anos de trabalho”. “Um dos grandes desafios da minha missão, como especialista em comportamento animal, tem sido sensibilizar para a importância da presença dos animais na vida dos seres humanos e a questão do mau trato”, alerta à PiT, explicando que o “mau trato pode ir além do físico”. “Existe o mau trato intelectual, emocional, que muitas vezes passa por instrumentalizar os animais em determinados contextos e este trabalho vem aprofundar isto”, continua.
“Animais e Pessoas: Maus-tratos a Animais, Link para a Violência Contra Pessoas e Intervenção Assistida” quer, através do contributo de especialistas em várias áreas, “mostrar a transversalidade que pode existir em torno do mau-trato”. “Depois, alguns dos especialistas que fazem parte deste trabalho têm projetos em que a presença de animais proporcionam benefícios, não só no âmbito da saúde mental mas também naquilo que é o desenvolvimento de competências em algumas patologias”, enumera. “Sei que os maus-tratos nunca vão ser erradicados, mas espero que o sonho me deixe continuar a tentar trabalhar nesse sentido”, deseja.
O psicólogo clínico e forense Mauro Paulino deixa o alerta sobre os sinais que a violência contra os animais dão. “Esta violência alerta-nos sobre violência que é exercida sobre pessoas. Existem imensos estudos que concluem que os maus-tratos contra animais são uma bandeira vermelha de sinalização de que dentro daquele agregado familiar mais alguma coisa se pode passar, seja violência doméstica seja maus-tratos infantis“, exemplifica.
“Há um tópico muito referenciado, que é perceber que um animal tem um amor incondicional pela pessoa com a qual está a interagir, que não coloca condições em termos de apreciação física, e isso transmite confiança, em especial para as crianças”, lembra Mauro Paulino, sublinhando que este “amor incondicional” é utilizado, por exemplo, em contexto de Justiça, onde “a presença do animal transmite confiança”. “Quando uma criança está a afagar o animal, acaba por ter mais possibilidade de partilhar o que está a sentir. Quando uma criança está a falar de alguma questão familiar ou de um abuso de que foi vítima, a presença de um animal baixa os níveis de stress, apazigua e ajuda-a a dar um relato mais fidedigno”, garante.
O psicólogo termina com um desabafo: “Existem dezenas e dezenas de estudos sobre isto e eu não consigo conceber como é que, em Portugal, com este conhecimento internacional científico, não pensamos em como operacionalizar isto. Escrevemos na lei que vítimas de violência doméstica e outras não devem ter experiências de vitimização secundária, que no fundo é quando a própria Justiça as revitimiza. Então, porque é que não tiramos partido de todas estas ferramentas para tornar a experiência menos traumática?”.
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