Os gatos são curiosos por natureza. E quando algum entra pela primeira vez numa casa, até pode estar receoso e permanecer mais escondido numa primeira fase, mas rapidamente sentirá curiosidade em relação ao que o rodeia e irá querer inspecionar tudo – até para encontrar os seus spots preferidos para “a cusquice” e os locais onde encontrará refúgio quando quiser paz. Se ele veio para ficar, preparou a sua casa?
Como assim? Tem de se preparar a casa para os gatos? Sem dúvida. Precisamente pelo facto de serem tão curiosos, esse fascínio pelo que é novo também lhes pode trazer muito dissabores – ou pior.
A PiT falou com Inês Guerra, responsável pelo departamento de comportamento felino do Grupo Hospital do Gato, que fez as suas recomendações sobre aquilo que pode constituir um perigo numa casa onde vivem gatos.
“Temos sempre de pensar nos gatos, pelo facto de serem felinos, numa perspetiva tridimensional. Eles não vão andar só a nível do solo, também vão ocupar áreas em casa a que talvez não damos tanto uso – e isso, muitas vezes, acaba também por os colocar em risco”, diz.
Quais são, então, os fatores de perigo? Para Inês Guerra, a questão das janelas é muito importante. Os gatos não têm asas nem paraquedas. E basta uma mosca ou algo que os distraia e facilmente podem cair.
É aqui que se fala na chamada “síndrome do paraquedista” – “os gatos que caem das janelas ficam com fraturas e, muitas vezes, em situações mesmo graves, acabam mesmo por chegar ao hospital já mortos e nem conseguimos ajudá-los”, alerta a médica veterinária.
Assim, “janelas abertas só com os estores corridos”, ou então “garantir que temos redes nas varandas e nas janelas para prevenir as situações de quedas”.
Máquinas: não as ponha a trabalhar sem ver onde anda o gato
Outra questão a ter em conta prende-se com as máquinas. Máquinas de lavar roupa, loiça, de secar. Estas “são sempre percecionadas pelos gatos como esconderijos, como tocas, zonas onde gostam de estar e de se esconder”.
“Os gatos precisam sempre de se esconder no seu território e vão sempre recorrer a estas tocas, que não o são, pelo que aqui também existe um risco”, sublinha Inês Guerra. “Normalmente o que refiro sempre às pessoas é: antes de ligar qualquer máquina, é importante fechá-la e ver onde é que está o gato. Se ele estiver do lado de fora, então pode pôr a máquina a trabalhar”.
Os medicamentos são outra dimensão a não esquecer.” Quase parece um bocadinho estranho. Se quisermos dar um medicamento, não o ingerem, mas depois, se acabam por o encontrar lá em casa, podem querer brincar com ele e até ingerir”, refere Inês Guerra, que aconselha, neste caso, a que tenhamos os mesmos cuidados que teríamos com uma criança: os medicamentos devem estar fechados, longe de acesso aos gatos.
“Outros perigos em termos de ingestão passam por fios, fitas, que é aquilo a que chamamos corpos lineares. São estruturas compridas, finas, e quando os gatos estão a brincar levam à boca o fio – e como não têm polegar que lhes permita retirar a fita da boca, acabam mesmo por ingerir”.
Caso tenham ingerido, devem contactar o médico veterinário e não tentar puxar a fita. “Isso é uma coisa importante: ir diretamente ao veterinário e não puxar a fita, mesmo que esteja a ser vista, porque pode causar lesões internas”, alerta a especialista em comportamento felino.
Atenção às fitas e às asas dos sacos
Outra coisa com que deve ter cuidado é com o tipo de fitas. A fita do saco do lixo é uma delas. Inês Guerra aconselha a que se procure sempre sacos com asas e não aqueles com um fio muito fininho. “Se já os temos lá em casa, o ideal é virar o saco ao contrário, para o fio ficar no fundo”.
Ainda sobre este tema, há que mencionar também a questão das asas dos sacos de plástico ou de papel. “As asas dos sacos são super perigosas, muitas vezes ficam à volta do pescoço do gato, ele começa a correr, assusta-se com o som e por vezes resulta em situações bastante complicadas. Pode haver mesmo situações de estrangulamento, acabando por ficar com o saco enrolado à volta do pescoço”, adverte.
“Os sacos de papel podem ser utilizados como brinquedo, sim. Mas, idealmente, é de se cortar as asas e só depois deixar à disposição do gato”.
Cuidado também com linhas e agulhas, já que são – não raras vezes – engolidas pelos nossos gatos. “Basta eles começarem a brincar e podem acabar por ingerir”.
Alimentos e plantas – alguns são tóxicos
Em termos de alimentos, “existem muitos que são tóxicos para os nossos gatos e que usamos diariamente, como a cebola, cebolinho, alho”, aponta Inês Guerra.
E também há plantas que podem ser tóxicas, nomeadamente a costela de Adão, a espada de São Jorge e os lírios. “Costumo dizer que mais vale ter plantas ou gatos. Se queremos ter ambos, o ideal é ter plantas em pontos mais altos, onde os gatos não chegam. Desta forma, garantimos que ficam as plantas a salvo e os gatos a salvo também”.
A médica veterinária refere também a questão dos detergentes, que seguem o mesmo princípio que os medicamentos em casa. Mantenha-os longe do acesso dos gatos.
E agora? Acha que tem uma casa à prova da curiosidade do gato?
Percorra a galeria para conhecer alguns dos perigos.