As fortes chuvas que assolaram o Estado do Rio Grande do Sul desde 29 de abril começaram a perder força neste domingo. Mas, pelo meio, há muita tragédia a lamentar: pelo menos 66 pessoas morreram e 155 ficaram feridas, havendo o registo de 101 desaparecidas e cerca de 100 mil desalojadas. E também os animais sofreram bastante com as enchentes. Muitos não se salvaram, mas as equipas de resgate conseguiram já colocar a salvo centenas deles.

Cães, gatos, bois, ovelhas, cavalos, pintainhos, galinhas, porquinhos da Índia e muitos outros animais de companhia e da quinta foram resgatados ao longo dos últimos dias, no contexto desta catástrofe ambiental que já matou mais pessoas no Estado gaúcho do que a passagem do ciclone extratropical em setembro do ano passado – em que 54 pessoas perderam a vida.

O auxílio a todos os habitantes afetados pelas enchentes foi rápida e também os animais têm estado a ser resgatados e acolhidos. A ajuda, sublinha o jornal “O Povo”, chega de todas as frentes: desde os próprios moradores até as brigadas militares e bombeiros de todo o Brasil, passando por protetores particulares e associações de defesa animal vocacionadas para animais de pequeno e grande porte.

Centenas de animais salvos das enchentes

Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) está já operacional desde este domingo, 5 de maio, com o apoio da prefeitura, o serviço Rede de Apoio para Animais Resgatados, que está a cuidar dos cães e gatos encontrados durante as ações de acolhimento e resgate às vítimas das fortes chuvas dos últimos dias. Todos os animais ali acolhidos, num pavilhão preparado especialmente para eles, estão a ser fotografados e divulgados numa conta de Instagram criada para este efeito, para que os tutores que reconheçam os seus pets possam ir buscá-los assim que possível.

Noutras regiões, o cenário repete-se. Em Novo Hamburgo, por exemplo, todos os animais resgatados com os seus donos das enchentes na zona do Vale dos Sinos estão acolhidos no ginásio municipal Alberto Mossmann, sublinha o “Correio do Povo”. Quanto aos animais feridos, estão a ser encaminhados para um antigo hotel ali perto, onde estão a receber acompanhamento veterinário. Os animais sem dono, e de todos os portes, estão alojados num outro espaço do município – e são já 250 até ao momento. Há também uma conta de Instagram com as suas fotos, na tentativa de que possam ser identificados caso tenham donos à sua procura.

“Alguns animais foram salvos a nadar, outros em cima de telhados ou agarrados em grades, e muitos barqueiros foram recolhendo, colocando dentro dos botes e entregando a voluntários”, explicou ao “Correio do Povo” a médica veterinária Sonia Ludwig, coordenadora do espaço no ginásio municipal – que ficou rapidamente lotado, estando o município a procurar outro local para abrigar mais.

No município de Campo Bom, onde também se preparou um ginásio para acolher os animais, o espaço está igualmente cheio, com a prefeitura a apelar a abrigos temporários para os resguardar durante os próximos dias.

Dos 497 municípios gaúchos, 332 foram afetados pelas fortes chuvas, o que representa 66% das cidades do Rio Grande do Sul (RS), sublinha “O Povo”. Em Porto Alegre e em Canoas, muitos vídeos nas redes sociais mostram barcos utilizados para transportar pessoas e animais. No Bom Retiro do Sul, um casal em cima de um telhado, abraçado a um cão, foi resgatado na passada sexta-feira.

Enchentes deixaram um rasto de destruição

Além dos serviços municipais, há também muitas organizações não governamentais (ONG) a ajudar também a recolher cães e gatos de protetores particulares – havendo igualmente inúmeros hotéis para cães e gatos a mostrarem a sua solidariedade ao oferecerem os seus espaços para acolherem os pets.

A ONG Campo Bom pra Cachorro resgatou com o auxílio de voluntários mais de 200 patudos em situação de vulnerabilidade, como salientou Kayanne Braga, ativista e fundadora da associação, que é também vereadora de Campo Bom.

Já em Santa Cruz do Sul, a Patinhas Unidas Brasil divulgou o balanço de mais de 200 animais em abrigos. Também o Grupo de Resposta de Animais em Desastres (Grad) está a ajudar nos resgates – tendo só no dia 2 de maio realojado mais de 100 animais na região de Esteio e São Sebastião do Caí.

Em Alvorada, na Região Metropolitana de Porto Alegre, cerca de 100 cães cuidados pelo protetor José Santos foram retirados de um abrigo inundado pelas águas da chuva, tendo sido transportados para a casa de um voluntário da zona, refere o jornal “Folha de Pernambuco”. “Não os deixem para trás, nem os mantenham amarrados”, pediu a vereadora Bruna Molz, citada pela mesma publicação.

No domingo, depois do cancelamento – devido à chuva – de uma competição que reunia vários atletas de canoagem em Três Coroas, os canoístas juntaram-se para ajudar no resgate de pessoas e animais por entre as cheias na cidade. Alguns vídeos partilhados nas redes sociais mostram os atletas a recorrerem às suas próprias canoas para retirarem cães de telhados e procurarem moradores desalojados.

Em Campo Alegre, a protetora Deise Falci está entre os muitos voluntários que estão a ajudar a resgatar animais em grande aflição. “Ninguém fica para trás. Todas as vidas importam”, escreveu no Facebook depois de ajudar a salvar 27 gatos e três cães de uma outra protetora em apuros. “Estou com todos os gatinho internados… muitos caíram à água e estavam muito ariscos e assustados. Foi um resgate mega difícil”, contou.

E não é, ainda, momento de contabilizações finais. Há ainda muitos animais à espera de serem salvos e (devido à sua resiliência) com possibilidade de serem resgatados com vida das enchentes – e é com esse foco que centenas de pessoas continuam a procurar por entre destroços de casas, telhados e ruas. Percorra a galeria para ver muitos dos animais já salvos nos últimos dias.