Animais

Começou o julgamento do canil ilegal de Canedo. “Animais feridos, sem água, e cadáveres em jaulas”

Os responsáveis são acusados de crimes de maus-tratos e morte de animais de companhia. As queixas existem desde 2013.
Sem comida ou água, e acorrentados.

“Dezenas de animais feridos, sem água, fechados em transportadoras minúsculas e acorrentados, e cadáveres presos em jaulas” — após várias denúncias e centenas de animais resgatados, o canil ilegal de Canedo mantém-se aberto. Esta terça-feira, 3 de junho, teve início o julgamento de Dick Leegwater e Berta Brazão, o casal que gere o espaço, pelos crimes de maus-tratos contra animais de que foram acusados, relativamente aos anos de 2019, 2020 e 2021.

A associação Comraça, do Porto, avançou com as primeiras denúncias em 2020, quando teve conhecimento da situação, mas “já existiam queixas desde 2013”, garante Ana Pinto da Costa, responsável pela organização. O espaço de Santa Maria da Feira, no Porto, teve ordem de encerramento, mas mantém-se aberto até ao dia de hoje, acumulando animais acorrentados, extremamente magros, e com a saúde debilitada.

A fundadora conta à PiT que o local “está cheio de lixo e de entulho”, e “não é vedado”, pelo que “existem vários animais na via pública”. Ao longo dos últimos cinco anos, foram resgatados mais de uma centena de animais — vários foram recebidos pela Comraça, e chegaram “num estado de magreza extrema, parasitados, e alguns chegaram a óbito”. Além disso, Ana Pinto da Costa acrescenta que “em 2021 foram retirados muitos cadáveres”.

Os cães são mantidos no local para serem exportados para outros países. Dirk Leegwater “admitiu ter enviado mais de 500 animais para o estrangeiro“, avança Ana.

Em tribunal, os arguidos negaram os crimes de maus-tratos, negligencia e morte de animais de companhia de que são acusados. Dirk Leegwater alega ter consciência de que as condições em que os cães são mantidos não são ideais, mas “afirma que todo o processo derivou apenas de uma campanha de manipulação e especulação”, conta a líder da equipa de resgate animal.

Durante o primeiro dia do julgamento, que decorrerá até 24 de junho, o arguido admitiu ainda que os animais “não iam frequentemente ao veterinário, apenas quando estavam doentes”, e Berta Brazão “referiu que tudo é mentira, e que já não existem animais no local”.

No mesmo dia, a Comraça deslocou-se ao local, e confirmou a existência de cinco animais “soltos dentro da propriedade, e um acorrentado sem água e sombra”.

O estado do espaço.

O caso dura há vários anos

Recorde-se que o “caso de Canedo” chegou a ser desmontado, depois de quatro anos de luta– mas de pouco valeu, porque voltou tudo ao mesmo. O abrigo ilegal de Canedo, gerido por Berta Brazão e pelo companheiro holandês Dick Leegwater, foi desmantelado em maio de 2022 – depois de muita luta pelo meio por parte de ativistas que desde 2018 que denunciavam os maus-tratos a que mais de 150 animais que ali se encontravam eram sujeitados.

Em julho de 2020, logo após o incêndio da Agrela, que vitimou dezenas de animais de dois abrigos ilegais, mais de 200 pessoas chegaram a tentar forçar a entrada no abrigo gerido por Berta e Dick, mas sem sucesso nessa altura. A associação por detrás desse abrigo teve vários nomes: DZG Canedo, ARC Canedo e até Abrigo da Inha.

Com as denúncias a avolumarem-se, em outubro de 2021 as autoridades retiraram de lá 30 cães e 10 gatos e uns meses depois, em maio de 2022, procedeu-se à demolição do espaço. Ainda assim, a atividade ilegal continuou e em outubro desse mesmo ano foram retirados mais cerca de 20 cães do local. E agora estavam mais umas dezenas no mesmo espaço – o que continuará a acontecer se não houver mão firme das autoridades. Segundo uma reportagem da CMTV, ficaram lá ainda muitos animais por não haver para onde os deslocar.

À conta deste perpetuar das “condições deploráveis” em que os animais se encontram em Canedo, a ComRaça apresentou queixa contra Berta Brazão e Dick Leegwater e o julgamento está para breve. “Com acusação por parte do Ministério Público por maus-tratos e morte de animais de companhia, e com julgamento marcado para dezembro, [o canil] está novamente cheio de animais a seu cargo e nas condições que já são do conhecimento geral”, afirmou Ana Pinto Costa, citada pelo “Público”.

Carregue na galeria para conhecer o espaço e alguns dos animais resgatados.

ÚLTIMOS ARTIGOS DA PiT