Animais

Coreia do Sul proíbe o comércio de carne de cão. Os que ficam poderão ser eutanasiados

A partir de 2027, o comércio desta carne pode levar a três anos de prisão. Os criadores queixam-se de falta de apoio.
Podem ser eutanasiados.

A Coreia do Sul decidiu proibir o comércio de carne de cão no país a partir de 2027 — a medida foi aprovada no ano passado, pretendendo o fim da criação e abate de cães para consumo, assim como a distribuição ou venda da sua carne. Apesar da celebração dos ativistas pelos direitos dos animais por todo o mundo, a decisão acarreta alguns desafios, que têm vindo a ser apontados, como o destino de cerca de meio milhão de cães criados para este fim.

Os criadores de cães para consumo têm expressado a sua frustração face ao tempo garantido pelo governo até a medida se tornar efetiva, já que o seu incumprimento pode significar uma pena de prisão de até três anos. Chan-Woo, um destes produtores, avançou à BBC que a lei foi aprovada pelas autoridades “sem um plano real” e que estas “dizem que nem sequer podem ficar com os cães”. 

Joo Yeong-bong, outro destes criadores, explica à mesma publicação que tem sentido uma dificuldade crescente para vender os animais desde o verão passado, verificando que os comerciantes hesitam cada vez mais. “Nem um apareceu”, comentou. 

A menos de dois anos da adoção definitiva da lei, os produtores têm centenas de cães que não conseguem vender. “As pessoas estão a sofrer”, afirma Joo Yeong-bong. “Estamos a afundar-nos em dívidas, não conseguimos pagá-las, e alguns nem sequer conseguem encontrar novos empregos”, acrescenta.

Os próprios ativistas a favor da lei expressam as mesmas preocupações, além do desafio que é lidar com os cães que sobreviverão. Lee Sangkyung, porta-voz da associação Humane World for Animals Korea, explica que “embora a lei contra a carne de cão tenha passado, tanto o governo como grupos civis estão ainda a tentar perceber como resgatar os cães que ficam”. “Uma área que ainda está em falta é a discussão sobre os cães que ficam para trás”, acrescenta o líder de campanha.

O Ministério da Agricultura, Comida e Assuntos Rurais garantiu que os governos locais passarão a ser responsáveis pelos animais se os agricultores os abandonarem, com o propósito de encontrar adoções estáveis para todos. Porém, este plano pode não ser exequível, já que a maior parte dos cães criados são de porte grande — menos desejáveis para uma população que vive sobretudo em pequenos apartamentos. Além disso, avança a BBC, existe um estigma associado a adotar cães criados para a indústria da carne, gerado pelas preocupações sobre doenças e traumas que os animais carreguem. As associações da Coreia do Sul enfrentam já um problema de sobrelotação, pelo que os cães poderão acabar por ser eutanasiados.

O governo Sul-Coreano prometeu investir seis biliões de won coreanos (cerca de 3 milhões de euros) para expandir e apoiar os abrigos do país, bem como oferecer incentivos fiscais aos agricultores que fechem os seus negócios. 

A medida foi incentivada pelo presidente Yoon Suk Yeol

De acordo com os números do governo sul-coreano, citados pela BBC, a Coreia do Sul tinha cerca de 1.600 restaurantes de carne de cão e 1.150 quintas para criação e abate em 2023. O prato “boshintang”, uma sopa de carne de cão, é considerada uma iguaria entre a população mais velha. Porém, é mais popular entre os jovens.

Até 2027, o governo espera que os agricultores e proprietários de restaurantes que trabalhem atualmente na área encontrem fontes alternativas de emprego e rendimento. Todos terão ainda de apresentar às autoridades locais um plano para a eliminação progressiva dos seus atuais negócios de carne canina.

Quando entrar em vigor dentro de três anos, será proibida a criação ou abate de cães para consumo, assim como a distribuição ou venda da sua carne. Os que não respeitarem as novas regras poderão cumprir pensa de prisão de até três anos. Contudo, não será considerado ilegal consumi-la.

O projeto contou com o apoio do presidente Yoon Suk Yeol e da primeira dama, Kim Keon-hee, dois amantes de animais e tutores de seis cães e oito gatos. Nas últimas décadas, o número de pessoas no país com animais de companhia também aumentou. Por outro lado, o consumo da carne dos animais tem sido cada vez menor e várias pesquisas recentes mostram que grande parte dos sul-coreanos já deixou de a consumir.

A Humane Society International (HSI) tem um programa de resgate de cães e gatos em quintas de criação para o consumo da sua carne. Até março passado, a organização de bem-estar animal já tinha conseguido fechar 18 espaços e resgatar mais de 2,700 animais. No mesmo mês, salvou 200 cães e encaminhou-os para adoção nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Países Baixos e um número “muito pequeno” na própria Coreia do Sul.

A seguir, carregue na galeria para conhecer os animais do presidente sul-coreano e alguns dos cães resgatados pela HSI.

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