Quem chega ao Território do Norte, na Austrália, encontra uma região pacata com cerca de 245 mil habitantes, sendo que mais da metade (140 mil) vivem na capital, Darwin. Mas a tranquilidade é rapidamente substituída por precaução para quem conhece a história da região. Estima-se que o território seja o lar de cerca de 100 mil Crocodilos-de-água-salgada.
“Tens praticamente zero hipóteses com estes tipos”, garantiu o guarda-florestal Kelly Ewin à BBC. O seu trabalho é capturar e remover esses animais do porto de Darwin. A região é cercada por praias e pântanos e acredita-se que seja a casa da maior população dos crocodilos em todo o mundo. Por causa disso, os habitantes e os visitantes recebem um aviso: onde quer que haja água, possivelmente haverá répteis.
A população de crocodilos aumentou drasticamente a partir de 1971, quando a sua caça foi proibida. Antes disso, eram vítimas do comércio descontrolado por causa das suas peles e, nessa altura, existiam apenas cerca de três mil Crocodilos-de-água-salgada. Agora, os répteis continuam a ser uma espécie protegida, mas estão longe do risco de extinção.
O grande problema é que, atualmente, o elevado número de animais tornou-se um problema e o governo tenta procurar alternativas para manter a população de humanos segura. “O pior que pode acontecer é quando as pessoas se viram [contra os crocodilos]”, explicou Grahame Webb, especialista em crocodilos. “E depois aparece invariavelmente um político com alguma reação impulsiva para ‘resolver’ o problema dos animais.”
Apesar de os encontros com esses animais serem constantes, os ataques fatais são raros. Em 2022, um miúdo de 12 anos foi levado por um crocodilo e o acontecimento marcou a primeira morte por esse predador na região desde 2018.
Além dos crocodilos que vivem livremente no habitat natural, a cidade aposta no turismo que envolve indivíduos da espécie capturados. É o caso do Crocosaurus Cove, um parque que permite que os visitantes vejam de perto esses animais e até mesmo mergulhem na “jaula da morte” ao seu lado.
As escolas têm programas educacionais sobre os crocodilos
Kelly Ewin deixou a vida de polícia para se dedicar ao trabalho de guarda-florestal. Hoje, é o principal responsável por capturar crocodilos em Darwin com o apoio de 24 armadilhas flutuantes que cercam a cidade.
“É o nosso trabalho tentar manter as pessoas o mais seguras possível”, partilhou. “Obviamente, não vamos capturar todos os crocodilos, mas quanto mais os retirarmos do porto, menor será o risco de haver um encontro com as pessoas.”
O governo do Território do Norte tem também um programa, batizado de “Be Crocwise”, que vai até às escolas ensinar as pessoas a como se comportarem na região.
“Estamos a viver num país de crocodilos, por isso trata-se de ensinar como nos mantemos seguros junto aos cursos de água” sublinhou Natasha Hoffman, uma guarda florestal e diretora do programa. “Se estiver a pescar num barco, precisa de estar ciente de que eles estão lá. São caçadores de isco, param, observam e esperam. Se houver oportunidade para eles apanharem alguma comida, é isso que vão fazer.”
Os animais são o principal motor turístico da região e várias marcas de alto luxo investem na indústria das suas peles, como a Louis Vuitton e Hermès. Há agricultores que uma licença para vender as peles dos répteis.
Em 2024, o governo aprovou um plano de gestão de dez anos para tentar controlar o elevado número de répteis. A quota de crocodilos que podem ser mortos anualmente aumentou de 300 para 1.200. A atitude chamou a atenção de organizações dos direitos animais, mas até agora, não foi apresentada outra solução.
De seguida, carregue na galeria para recordar a história de Burt, o icónico Crocodilo-de-água-salgada que estreou o filme “Crocodile Dundee” e que vivia no Crocosaurus Cove, em Darwin.