A descoberta é do século passado, mas as conclusões chegam agora. As escavações encabeçadas pelo investigador Jesus Altuna, no País Basco, Espanha, desenterraram um úmero — osso da pata que liga à escápula, também existente no início do braço dos humanos —, que tem servido de base à investigação da University of the Basque Country, revelam que o osso em causa pertencia a um cão, da espécie “Canis lupus familiaris”, que viveu há mais de 17 mil anos. Por outras palavras, o osso que, presumivelmente, pertenceria a um lobo selvagem, era na verdade de um cão doméstico tal como hoje o consideramos, segundo conclui o relatório publicado, no início deste mês de dezembro, no ‘Journal of Archaeological Science‘.
A ideia cientificamente estabelecida até então era a de que a domesticação dos lobos, numa fase de transformação de parte da espécie, data entre 20 mil e 40 mil anos atrás. Há, até, quem defenda que essa divisão teve início há 100 mil anos. Além de que a própria domesticação canina começou, primeiro, com os lobos — segundo se sabe, a partir de uma alcateia que se aproximou da “civilização”.
No entanto, os mais antigos indícios de cães considerados domésticos recolhidos até então, algures na Alemanha, apontavam para, aproximadamente, 7 mil anos de antiguidade; mesmo os de cães propriamente ditos — o fóssil de um cão, descoberto no mesmo país — foram localizados no tempo a 15 mil anos de distância.

Um osso duro de perceber
Agora, o osso desencantado numa caverna do País Basco vem provar que a espécie que define os cães domésticos já está entre nós, humanos, há mais de 17 mil anos. Ao fim de quase 40 anos, a equipa de antropólogos da Universidade do País Basco que estava agora à frente da investigação conseguiu identificar a espécie através de avançados processos de tratamento genético. Espécie essa que, de acordo com a investigação científica em questão, descende de uma linhagem de cães de há 22 mil anos — da Idade do Gelo.
“Estes resultados alimentam a possibilidade de que a domesticação dos lobos ocorreu antes do que se propôs até agora, pelo menos na Europa Ocidental, onde a interação dos caçadores-coletores do Paleolítico com espécies selvagens, como os lobos, possa ter sido estimulada em regiões de refúgio glaciar (como a franco-cantábrica) durante este período de crise climática”, explica o arqueólogo Conchi de la Rúa, principal responsável do grupo “Human Evolutionary Biology”, que esteve à frente da investigação baseada no osso de um cão descoberto no século passado.