Já lá vão 21 anos desde que a Amigos dos Animais de Coruche abriu as portas. Há cinco, mudou de direção e em abril de 2022, Daniel Aldeano, 28 anos, assumiu a presidência. Desde o início, nunca foi fácil e embora os animais sejam vistos com outros olhos atualmente, há vários lugares que continuam com uma mentalidade mais tradicional. E Coruche é um deles.
“Há muitas carências principalmente em meios rurais”, começa por contar à PiT o presidente e voluntário. “Existem muitos desconhecimentos. Na lei e na parte humana, as pessoas não estão muito direcionadas para o bem-estar animais. É difícil explicar a uma pessoa que sempre abateu animais que não pode fazer isso. Quando falamos isso, elas costumam dizer: ‘Se não pode abater, então fica vocês com eles'”.
A vila portuguesa pertence ao distrito de Santarém e conta com cerca de 9 mil habitantes, sendo que “a grande maioria deles não se importa com o bem-estar animal”. Contudo, além deste ser um problema recorrente, é um dos muitos enfrentados pela associação, que tem uma particularidade: “Não fazemos concorrência ao centro de recolha, fazemos aquilo que acreditamos que uma associação deve fazer, que é ajudar nas faculdades em que os municípios ou o Estado têm dificuldade”.
A associação trabalha ao lado de várias entidades com competências legais como a Guarda Nacional Republicana (GNR), o Centro de Recolha (CRO) e a Câmara Municipal. Mas também, sempre que consegue, atende as necessidades da população. Daniel frisa que o trabalho em equipa “é importante” e é a principal função da instituição.
“É muito importante que exista isso: quando eles precisam de nós, eles nos chamem e quando nós precisamos deles, eles venham também. E isso acontece, tem funcionado e acho que é assim que as coisas têm de continuar”, conta.

Não têm carrinha há mais de um ano. Os voluntários utilizam o próprio carro para as ações — inclusive recolher cadáveres
Diariamente, a falta de ajudas monetárias e de voluntários são as principais dificuldades. No centro de recolha, a associação conta com três voluntárias que ajudam todos os domingos, e na sua sede, há mais quatro. “É muito difícil conseguirmos trabalhar sem voluntários, serem sempre os mesmos a fazer. Sem dinheiro também não há grande forma de ajudar, portanto estamos sempre limitados neste aspeto”, lamenta Daniel.
Outro problema enfrentado em todo o País é a super lotação dos centros de recolha e as dezenas de outros animais que continuam a viver na rua. “Até porque se nós os recolhêssemos, aqueles que lá estão no centro de recolha acabam por perder e a levantar-se uns aos outros”, remata. Nos últimos anos, a Amigos dos Animais de Coruche tem acolhido os gatos que conseguem, enquanto o CRO trata dos cães.
“Não temos um gatil propriamente dito, mas recolhemos dentro das possibilidades para recuperar e depois devolvermos à natureza ou para seguirmos com o processo de adoção”, explica o presidente. E tudo isso os voluntários fazem com o carro próprio, visto que há mais de um ano não têm uma carinha. A antiga era muito velha e começou “a ter vários problemas”.
Na altura, a viatura não passou na inspeção e o orçamento para reparação rondava os 5 mil euros. Daniel partilha que chegou a pensar em comprar uma nova com a ajuda de Câmara, que oferecia 50 por cento do valor. Contudo, as viaturas disponíveis eram de 16 mil euros e apesar de criar um crowdfunging para conseguir metade (8 mil), só conseguiu cerca de 540€ e não seguiu em frente.
“Temos andando sem viatura na mesma, os voluntários utilizam os carros particulares para as mais diversas situações, inclusive a recolha de cadáveres”, partilha. Ainda assim, continuam a tentar conseguir donativos para os restantes trabalhos e nas redes sociais, disponibilizam as formas de ajudar.

Por outro lado, a instituição também atua em alguns resgates. “Costumamos dizer que nós fazemos tudo desde que tenhamos capacidade e disponibilidade de fora. Se as pessoas ligarem-nos por coisas fúteis, ao meio da noite, obviamente que não vamos. Mas se for uma situação crítica, e é comum acontecer ligar-nos a GNR ou o centro de recolha a pedir ajuda para fazer um resgate, nós vamos sem problema nenhum”.
Quando começou o trabalho de presidente, o voluntário recorda que um dos primeiros trabalhos no terreno foi também o mais chocante. A associação foi contactada pela GNR para recolher três cadáveres de cães cuja dona não tinha condições de os manter. “Ela acabou por não os alimentar, não lhes dar água e eles morreram ao calor”, diz.
No dia a dia, as situações mais regulares, segundo o presidente, são os animais em estado crítico. “Totalmente subnutridos e em extrema magreza”, refere. “Vemos que têm muito medo das pessoas e ainda temos que correr um pouco atrás deles e ver aonde é que vão ou não vão… esses são aqueles que assim que vemos temos de ir logo para tentar salvar”.
Apesar das dificuldades, Daniel continua a vida de presidente e voluntário ao lado da equipa pelo amor aos animais. E em casa, é tutor de cinco cães: Oliver, resgatado na Tapada numa ninhada com outros nove bebés, Faísca, o cão da namorada Rita que está na família desde a sua infância, Marley e Jackie, dois “manos” resgatados em Salvaterra de Magos e Lobão, o mais novo que foi recolhido pela Amigos dos Animais de Coruche.
Além das ajudas enviadas ao MBway e IBAN, Daniel avança que os donativos podem ser enviados pelo correio ou entregues pessoalmente na sede da associação, localizada no número 1 da Tv. do Porto Zambado. Os horários de funcionamento são das 9 às 13 horas, e das 14 às 16 horas.
De seguida, carregue na galeria para ver alguns dos trabalhos da associação Amigos dos Animais de Coruche. Pode também acompanha-los no Facebook.