Animais

Este livro parece que mia. E as aventuras de Frederico ajudam os gatos de Seia

Os felinos de uma colónia de Seia inspiraram a autora do livro, cujas receitas revertem para a associação Nós é mais Bichos.
O gato que inspirou o livro.

Os animais que não têm um lar nem podem ser acolhidos por associações ou protetores têm vidas muito difíceis. Mesmo vivendo em matilhas ou colónias controladas, com cuidadores que velam para que nada lhes falte, viver na rua é sempre um risco. Para que as suas vidas possam ser mais seguras e confortáveis, muitos protetores dedicam-se a criarem-lhes espaços onde possam estar mais resguardados – tratando da sua esterilização, alimentação e cuidados veterinários. Mas isso implica uma gestão financeira árdua e tudo o que possa aliviar as faturas é bem-vindo. No caso da associação Nós é mais Bichos, há um livro solidário que está a ajudar.

A Nós é Mais Bichos – Associação de Proteção dos Animais Errantes do Concelho de Seia (APAECS) nasceu a 28 de dezembro de 2021 com o intuito de apoiar e melhorar as condições de vida dos milhares de animais que habitam as ruas do concelho. “Somos a primeira e única associação zoófila existente neste concelho da Serra da Estrela. Um concelho muito grande, e com aldeias no meio da serra, e onde a causa animal só agora está a dar os primeiros passos”, explica à PiT a presidente da direção da APAECS, Catarina Mendes.

E como funciona essa ajuda? “Através do fornecimento aos cuidadores de alimentação própria à espécie, implementação do Programa CED (capturar-esterilizar-devolver) , prestação de cuidados médico-veterinários básicos e urgentes e instalação de equipamentos de abrigo”, sublinha a responsável da associação. Mas não só. A APAECS também “sensibiliza as populações para as questões do bem-estar animal, relembrando os aspetos legais que proíbem o abandono e os maus-tratos a animais de companhia, para a obrigatoriedade de colocação de microchip e para os benefícios da esterilização”. Além disso, fomenta a adoção responsável de animais.

Mesmo com poucos recursos, associação não baixa os braços

“Temos desenvolvido o nosso trabalho com muita dedicação e esforço, contornando duas dificuldades grandes: a falta de recursos humanos e a falta de recursos materiais. Mas é na certeza de que cada vida – das tantas que já salvamos ao longo de três anos – vale tudo que todos os dias continuamos. Porque para nós só eles importam”, diz Catarina Mendes.

Frederico
Um livro que encanta.

Mas sem apoio financeiro, é difícil chegar a todos os lados. E foi com essa ideia em mente que Gabriela Almeida, jurista de profissão e mãe de três filhos, decidiu escrever um livro de contos para crianças, inspirando-se no gato Ferenico e nos seus amigos miaus que vivem numa colónia da cidade – todos eles cuidados pela Nós é mais Bichos. E foi assim que surgiu “Frederico, o gato do Conde”, cujas receitas revertem, na íntegra, para a associação.

Frederico é um miau que saltou para dentro de um livro

Convivi vários anos com a colónia da Praça da República (em Seia), que contava com o apoio da associação Nós é mais Bichos, e conheci os seus gatos graças à sua cuidadora, minha amiga, Filomena Frade, porque trabalhava nessa zona da cidade. A minha atenção deteve-se muito sobre o Ferenico, que vivia mais recatado e nem sequer comia na companhia dos outros gatos. Esta proximidade e observação levou a inspirar-me nele como protagonista dos três contos que escrevi, levando o Frederico e os membros da colónia pelas ruas da cidade, pelos caminhos das aldeias, em aventuras solidárias”, salienta a autora do livro. “O Ferenico transformou-se em Frederico nos contos”, explica à PiT, sublinhando que, no livro, o seu dono é um conde.

Nos contos, salienta Gabriela Almeida, “a colónia da Praça da República transforma-se na comunidade perfeita, em que os indivíduos são solidários, principalmente nos momentos difíceis. Todos têm voz nas Assembleia de Bairro em que tomam as decisões”. O Frederico “é o herói por excelência” e “tem todas as qualidades: educado, solidário e amigo do seu amigo”. De pelo comprido e preto, é caso para se dizer que “só existe o azar de não o vir a conhecer”. Em suma, aponta a autora, “ele é ‘irresistivelmente gato’ em todas as aceções da palavra”.

Nessa comunidade de gatos de que o livro fala, “a harmonia impera até com os outros animais”, como é o caso das ratazanas – “que parecem estranhas, mas que vão ajudar o Frederico e os seus amigos”. Os três contos realçam também o convívio intergeracional entre os gatos e as pessoas idosas, frisa Gabriela Almeida. “Nesta comunidade, a velhice tem letras de nobreza, os humanos são acarinhados e os animais idosos respeitados. E a tartaruga Idalete é consultada nas horas de aflição em razão dos seus sábios conselhos”, explica a autora, que conta à PiT que tem dois gatos – o Floquito e a Missai.

Frederico
O gato real que inspirou o livro.

Ilustrações dão corpo às aventuras dos animais

Para os desenhos que acompanham estes contos, a presidente da associação convidou Sinnara Silveira, uma ilustradora que, com o seu trabalho, tem ajudado nos últimos anos inúmeras associações de resgate de animais – e que respondeu prontamente que sim. “Continuo a ajudar sempre que posso. Atualmente tenho ajudado duas associações com arte para postagens e, eventualmente, criações de merchandising. Mais recentemente, fiz três capas para agendas solidárias de 2025: duas capas diferentes para a agenda da Causas de Caudas e uma capa para a agenda da Aanifeira. Também contribuí para um dos desenhos do interior da agenda da associação Ani São-João”, conta Sinnara à PiT.

Sinnara, que criou o projeto Illu.si, não esquece as suas origens e também faz doações, em rifas e sorteios, para projetos da causa animal no Brasil. E como começou tudo? “Sou cozinheira, mas pedi demissão um pouco antes da covid-19. Durante a pandemia adotei um gato feral e depois adotei também uma gata para o ajudar na adaptação e fiz um Instagram para esta nova gata. Num giveaway, decidi fazer uma ilustração de alguns seguidores (já tinha noções de Photoshop e illustrator) e isso acabou por se tornar uma espécie de vício. Uma coisa leva à outra e lembrei-me das associações. Poderia juntar uma paixão minha e ainda ajudar a causa animal”, explica.

Da ideia à prática foi um instante e o projeto tem corrido muito bem, com as associações a poderem contar com a sua arte para angariarem os fundos sempre tão necessários. Sinnara dedicou-se de corpo e alma às ilustrações e, para poder também viver da arte, ainda que a custo, faz ilustrações personalizadas dos nossos animais de companhia – e os tutores que quiserem ser incluídos podem encomendar uma versão com a família completa. As ilustrações, que demoram entre um e quatro dias a ficarem prontas, são entregues em formato digital e depois é só imprimir no tamanho que quiser e emoldurar como mais gostar.

Com a arte das palavras de Gabriela Almeida e das ilustrações de Sinnara Silveira, “Frederico, o gato do conde” tem alegrado os dias (e noites) de muitas crianças e das suas famílias, sensibilizando todos – quem lê e quem ouve – para o respeito pelos animais, ao mesmo tempo que divulga a associação Nós é mais Bichos e o seu trabalho em prol dos animais de rua no concelho de Seia. Para adquirir o livro, que teve o apoio da Animalife e da Câmara Municipal de Seia, basta escrever uma mensagem à associação nas suas páginas do Facebook ou Instagram ou enviar um email (nosemaisbichos@nullgmail.com). Percorra a galeria e conheça alguns gatos que estão a cargo da associação e à espera de famílias que os respeitem e amem.

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