As petições, protestos e manifestações, durante semanas a fio, de nada serviram. No passado dia 29 de julho o mundo recebia, com incredulidade e horror, a notícia que não queria ouvir: a Turquia tinha acabado de aprovar uma lei de extermínio de cães e gatos de rua, que se estima que abranja quatro milhões de animais. Para muitos, este foi o pretexto perfeito para começarem a matar pelas suas próprias mãos, sem um motivo que não seja a sede de sangue – e o “incómodo” que veem nos patudos e bichanos que se passeiam tranquilamente pelas ruas e que, até aqui, nada tinham a temer, até porque a Turquia era considerada amiga dos animais.
Um pouco por todo o país começam a surgir imagens de cães e gatos assassinados de forma bárbara e atirados para valas comuns escavadas junto a canis de abate. São fotografias e vídeos muito pesados e que nenhum ser humano com coração conseguirá ver sem que o estômago se revolva — e que por isso, a PiT resolveu não publicar.
Nos termos desta legislação, aprovada pelo parlamento turco, todos os cães e gatos que se encontrem na rua – mesmo que sejam saudáveis ou que, no caso dos felinos, pertençam a colónias controladas – devem ser abatidos. Aqueles que forem considerados adotáveis, por serem meigos e não tiverem doenças, são recolhidos em abrigos oficiais, mas apenas durante 30 dias – se até lá, não aparecer uma família, também serão mortos. Acontece que há quem nem esteja a respeitar essa recolha de animais saudáveis, aproveitando para matar os que encontram pela frente. No país, a consternação vai aumentando – e no resto do mundo também.
Turquia está a deixar o mundo horrorizado
“Estou muito triste”. É este o desabafo feito à PiT por Ali Çakas, um bombeiro turco que esteve nas operações de resgate após o destruidor sismo de inícios do ano passado, que atingiu sobretudo o sudeste do país. As fotos deste homem e do gato que salvou dos escombros de um prédio a 16 de fevereiro de 2023 – e que não saiu do seu ombro, levando a que o adotasse – correram mundo, num símbolo de bondade, esperança e resiliência. Ambos conquistaram muitos corações e a dupla é acompanhada no Instagram por milhares de amantes de animais que querem continuar a seguir a vida de Ali e de Enkaz – que significa “escombros”, em turco. Tem sido também nesta rede social que o bombeiro e ciclista profissional tem unido a sua voz aos de que estão contra esta nova lei. Mas de nada serviu… e agora a matança começou.
“Foi tudo feito secretamente, em várias cidades”, conta-nos Ali Çakas, já sem grande esperança de que esta realidade venha a mudar, pelo menos para já. Mas não é por isso que desiste de lutar. Na sua conta de Instagram, Ali publicou uma foto de cães de resgate durante as operações de procura de sobreviventes após o sismo e escreveu: “Todos os dias partilharei fotos do grande terramoto do século com os nossos queridos amigos e talvez ganhemos vergonha”.
Apesar dos protestos, que prosseguem também fora da Turquia, o governo parece decidido a manter esta nova legislação. Por cá, o partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) divulgou um vídeo a falar precisamente sobre esta questão – e apesar do alerta, na publicação, para o facto de haver imagens sensíveis, redobramos esse alerta para quem esteja a pensar clicar no link.
PAN divulga vídeo muito pesado. Mas é o que está a acontecer
Infelizmente, lamenta o PAN, “chegam-nos cada vez mais registos do massacre de cães e gatos que está a acontecer na Turquia, depois de a lei que permitiu este abate indiscriminado ter sido aprovada. Estas imagens são um grave retrocesso na Lei de Proteção Animal. Surpreendentes, inimagináveis, devem lembrar-nos da importância de nos unirmos para impedirmos que continuem a matar estes animais e que, por alguma razão, isto se replique noutros países, como em Portugal”, escreve o partido na publicação feita no Instagram.
“Não baixamos os braços e assinámos já uma carta aberta ao governo e parlamento turcos, para que parem de imediato com a matança e revoguem a alteração ocorrida à Lei de Proteção Animal. Estamos em permanente contacto com organizações internacionais e partidos que defendem a causa animal”, refere o PAN. Sobre a filmagem, o partido contextualiza: “As pessoas descobriram que os cães estão a ser assassinados em locais públicos, nas ruas, e em matadouros e são, depois, despejados em valas comuns. O vídeo acima mostra os ativistas com os cadáveres de alguns animais em frente à câmara municipal [de Ancara, a capital]”.
A matança de cães e gatos na Turquia já começou, mas os protestos e petições também não vão parar. A causa animal do mundo inteiro está de olhos postos nas atrocidades que estão e ser cometidas em nome de uma legislação que a maioria do país contesta. Percorra a galeria e veja algumas fotos das manifestações recentes contra esta lei.