Paciência. É essa a palavra-chave para quem quer tirar as melhores fotografias de vida selvagem. E é também essa uma das virtudes de Henrique Afonso que, com 18 anos, já tem um portfólio cheio de imagens de aves, mamíferos, répteis e anfíbios.
Com um pai fotógrafo, cresceu dentro deste meio e desde muito novo que aprendeu a mexer nas câmaras e equipamentos de fotografia. Ao contrário do progenitor, que trabalha sobretudo com retratos e paisagens, o jovem de 18 anos seguiu um caminho ligeiramente diferente: o da vida selvagem.
“Quando peguei numa câmara mais a sério, há cerca de quatro anos, comecei por fotografar tudo. Sempre gostei muito destes animais e da natureza e decidi começar a fotografar vida selvagem, mas não tinha conhecimentos nenhuns”, conta Henrique, natural de Almada. Em julho de 2019, para aperfeiçoar ainda mais a técnica, tirou um curso de fotografia.
Pouco depois, começou a estudar mais sobre as aves em Portugal: que tipo de aves existiam, onde as podia encontrar, quais os melhores horários. “Comecei por visitar Alcochete e levei a minha câmara comigo. Fui tirando umas fotografias só pela diversão e isso foi despertando a minha curiosidade. Como sempre gostei muito de animais e já tinha o equipamento, pensei que podia juntar as duas coisas”, revela.
Foi nessa ida a Alcochete, em 2020, que conheceu aves que nunca tinha visto nem sabia que existiam e lembra-se perfeitamente da primeira que fotografou: um pernilongo. Curiosamente, desde esse dia que se tornou numa das suas aves favoritas.
“Existem vários tipos de aves e eu foquei-me inicialmente nas limícolas, as que costumam estar em estuários ou zonas mais húmidas. Como aqui em Almada não há muita natureza, Alcochete foi o sítio que arranjei mais perto para fotografar”, diz. Aprendeu tudo o que sabe na Internet, em guias e livros sobre aves e espera entrar no curso de Biologia este ano para ter a teoria e mais conhecimentos sobre os animais.
É na página do Instagram e do Tik Tok que vai partilhando os seus trabalhos e confessa que anda (quase) sempre com uma câmara atrás: “mesmo nas férias, sempre que tenho oportunidade acordo mais cedo para fotografar”.
Embora o foco do jovem sejam os mamíferos e as aves, já conseguiu tirar fotografias a outros animais. “Desde pequeno que tinha algum receio anfíbios e répteis, como as cobras, mas desde que me comecei a dar com pessoas especialistas na área, fui tentando fotografar esse tipo de animais”. Já conseguiu capturar na sua lente uma osga-turca, o sardão (o maior lagarto da Europa), a lagartixa-da-montanha e a víbora-cornuda, a cobra mais venenosa de Portugal.
@henriphotos O dia em que vi a cobra mais venenosa de Portugal (parte 2) #fy #foryou #portugal #wildlife #wildlifephotography #serradaestrela ♬ FEEL THE GROOVE – Queens Road, Fabian Graetz
Desde que começou a dedicar-se à vida selvagem, já conseguiu capturar uma série de aves, como guarda-rios, cotovia-das-árvores, rabirruivo-preto, garça-real, alvéola-cinzenta e até mesmo uma coruja-do-mato. Esta última foi uma das mais desafiantes e demorou cerca de uma semana até conseguir apanhá-la com a lente.
“As corujas às vezes vêm visitar-me aqui perto de casa e eu estive uma semana a tentar fotografá-la. Tentei de todas as maneiras, subi ao telhado, até fui ao terraço do vizinho. Elas aparecem entre as 19 e as 20 horas e eu estava sempre lá à espera”, conta Henrique. Para a conseguir apanhar, esteve três dias com a câmara focada numa ponta da árvore à espera que fosse para lá. “Se ela estivesse um bocadinho mais à esquerda ou à direita, já não a conseguia apanhar”.
Outra ave que já lhe deu uma grande dor de cabeça foi o guarda-rios, uma das espécies mais coloridas e encantadoras da avifauna portuguesa. O fotógrafo ficou cinco horas no mesmo sítio à espera que ela aparecesse, mas saiu de lá sem nenhum registo. Recentemente voltou a tentar e, dessa vez, a ave foi mais simpática e parou mesmo à sua frente.
No verão do ano passado, o fotógrafo começou a colaborar também com a empresa SeaEO Tours, onde regista os momentos mais bonitos dos golfinhos e das aves marinhas. Para conseguir capturar com a câmara todos estes animais sem os assustar — mesmo estando a cerca de três metros de distância —, Henrique usa uma rede de camuflagem ou esconde-se debaixo da vegetação ou até mesmo na lama. Também costuma ir para observatórios de aves, caso existam no local.
A paciência é uma virtude e, segundo o jovem, é uma das coisas mais importantes para quem pretende registar fotografias da vida selvagem. “Às vezes tenho que ficar muitas horas à espera. É muito importante ter paciência e criatividade, levar a câmara para todo o lado, ter a paixão pela fotografia e pela vida selvagem e ter conhecimentos sobre o que estão a fotografar”, diz.
Percorra a galeria para ver algumas das fotografias de Henrique Afonso.