A história da SOS Bicharada, um gatil do Barreiro que acaba de comemorar 22 anos, é feita de “sangue, suor e lágrimas”. Quem o garante é Cristina Nogueira, a responsável pela associação, e uma das poucas que está presente desde a fundação. “Quando abrimos portas, eu era das mais novas. A última fundadora morreu este ano”, revela Cristina que, com 60 anos, foi vendo a associação crescer e sofrer as suas próprias dores de crescimento.
Hoje, a equipa do abrigo tem a seu cargo 160 gatos. “Estamos totalmente lotados, não cabe mais nenhum”, afirma a responsável à PiT, entre balões, doces e conversas animadas, na festa do 22.º aniversário, que no decorreu no domingo passado. Ao seu lado, Lina Silva, 63 anos e voluntária da SOS Bicharada, contextualiza a missão do gatil e brinca.
“Só acolhemos gatos. Temos três cadelas, mas só cá estão para meter medo e guardar o espaço”, brinca Lina Silva, 63 anos e voluntária da SOS Bicharada. Mesmo perante a encruzilhada, a realidade é que as voluntárias nunca desistem de cuidar de quem lá chega. “Não estamos a aceitar mais gatos. Dizemos que não, mas as pessoas deixam-nos à porta. O último teve de ficar nos arrumos”, explica PiT Débora Silva, de 32 anos, que colabora com a SOS Bicharada há oito anos.
Os 22 anos de vida da associação foram tudo menos pacíficos. A começar pela “casa às costas”, coisa a que as voluntárias e a responsável já se habituaram. “O primeiro gatil foi criado no hospital do Barreiro, porque eles tinham o problema de os animais irem para os jardins interiores e para as coberturas, e a Câmara resolveu pedir-nos ajuda. O abrigo foi criado e nós acolhemos os animais, mas depois o hospital aproveitou a história da Gripe A e disse que não queria lá os gatos”, conta Cristina.
Com um problema para resolver, o grupo colocou, novamente, mãos à obra e voltou a erguer um gatil, a partir do zero. Mas por pouco tempo. “Era meio abarracado, numas instalações da Câmara, onde se situava o antigo canil. Passados uns anos, voltaram a dizer-nos que tínhamos de sair, porque precisavam do terreno”.
Depois de mais um contratempo, o grupo assinou, em 2017, um protocolo com a Baía do Tejo (empresa ligada à exploração de Parques Empresariais) e, durante esse ano, construiu-se o gatil onde se realizou, no passado domingo, 24 de novembro, a festa de aniversário da SOS Bicharada. “Conseguimos com a ajuda de amigos e voluntários que percebiam de obras, pinturas e de tudo um pouco e com doações e iniciativas para angariarmos fundos”, recorda Lina.
Entre os amigos, há um especial, que estas mulheres não esquecem. “Pedimos ajuda ao Manuel Luís Goucha e ele deu-nos 2500€”, acrescenta a voluntária da SOS Bicharada, fundada há 22 anos depois de o núcleo da União Zoófila ter “rebentado pelas costuras”.
Mais resgatados do que adotados
A atual encruzilhada decorre de uma inevitável lei de mercado: há mais oferta do que procura. As voluntárias explicam que há alguns patudos a serem adotados , mas, ao mesmo tempo, “por cada um que consegue uma família, com base na adoção responsável, chegam mais dois a precisar de ajuda”. O gatinho Bones, foi um deles. “Nós vimo-lo lá fora, à solta. Tinha duas patas do mesmo lado fraturadas já há alguns dias”, conta Débora, antes de chegar à pior parte da história.
”Quando o levámos ao hospital, a médica lembrava-se que os donos tinham lá estado com ele, dois dias antes, e que lhe tinham dito que iam levá-lo para um hospital solidário, para as despesas serem mais baratas. E pronto, deixaram-no aqui à porta, à solta e sem nada. Uma das patas teve de ser amputada, e, quando tomámos a decisão de o ajudar, não sabíamos se a outra teria solução. Foram três meses internado, com muitas despesas, mas ele salvou-se”, conclui Lina.
Com as contas “mais ou menos estabilizadas”, a associação vai organizando iniciativas para angariar dinheiro e conta, também, com algumas ajudas da Câmara Municipal do Barreiro e da Junta de Freguesia. “Ainda agora esteve cá o senhor vereador, que me disse para lhe enviar um email a pedir uma quantia para ajudar”, revela Lina.
Neste momento, a ala de quarentena do abrigo está em obras, para melhorar as condições do espaço e a qualidade de vida dos patudos. “Todas nós temos animais em casa e isso aumenta a nossa sensibilidade para com todos os que cá estão. Tentamos dar-lhes todo o melhor conforto que podemos e todo o bem-estar. Apesar de estarem num gatil, eles estão bem. Mas isto dá trabalho”, afirma Lina.
De seguida, carregue na galeria e veja algumas imagens do gatil e dos patudos.