O luto nos animais ainda é um tema pouco desenvolvido. Apesar de alguns estudos já o terem tido como protagonista com foco em diferentes espécies, as informações disponíveis continuam escassas. No entanto, um novo estudo feito por investigadores portugueses da Associação para a Investigação do Meio Marinho (AIMM), trouxe novidades para a área. Desta vez, nos golfinhos.
Tudo começou quando durante uma saída de campo, a equipa avistou um grupo de cerca de 60 golfinhos-roazes e um em especial chamou atenção. O animal estava agitado e a ficar para trás dos restantes. Ao observarem de perto, perceberam que tratava de uma fêmea adulta a carregar uma cria morta de volta à superfície.
“Durante o mergulho, o animal usava o rosto para empurrar o corpo da cria mais fundo, realizando movimentos de torção e rolamento antes de retornar à superfície. Ela exibiu este comportamento durante toda a nossa observação, inclusive após a nossa equipa deixar a área e possivelmente continuou além desse ponto”, escreveu a AIMM.
Nadando atrás, ao lado e à frente da fêmea em distâncias variadas, seguiam os restantes golfinhos “com um comportamento calmo”. Após soltar o corpo da cria, que acabou por afundar, nadou em direção a outros golfinhos, fazendo com que “pelo menos um deles” nadasse até o corpo do filhote com ela. Os investigadores estimam que o bebé tinha cerca de três semanas e acreditam que fêmea responsável por carregá-lo era a sua mãe.
“Uma explicação para o comportamento protetor observado é que ele pode representar o luto expresso como angústia, ansiedade e depressão”, explicou. “As nossas observações da fêmea a levar o corpo para a superfície poderiam demonstrar um esforço para estimulá-lo, com a finalidade de reanimação”, acrescentou.
Nos mamíferos terrestres, este tipo de movimento com um corpo inanimado pode levar ao seu renascimento. No entanto, a organização frisa não saber se este tem o mesmo efeito em cetáceos (animais maioritariamente marinhos pertencentes à classe dos mamíferos).
O momento foi gravado no ano passado durante uma saída de campo e publicado na sequência de um artigo científico partilhado no mês de novembro deste ano com foco no comportamento epimelético em golfinhos-roazes na costa sul do País. Além de raro, é a primeira vez que algo do género é captado em Portugal.
A AIMM foi fundada em 2010 e dedica-se à investigação e conservação de espécies marinhas e seus ecossistemas. Apesar de desenvolver a maioria dos projetos na região do Algarve, já estive em várias regiões dentro e fora do País, em particular no Atlântico.
Percorra a galeria para ver o momento captado pela AIMM e conhecer o trabalho da organização.