Íris Lourenço é arquiteta e Ricardo Rodrigues trabalha em televisão e audiovisuais. Quem não os conhece diria que dificilmente as suas vidas se cruzariam com a causa animal. Mas a paixão por eles surgiu muito antes de qualquer uma das suas carreiras.
“Terminei o meu curso numa altura de crise, onde a única solução para continuar na área era ir para o estrangeiro. Mas eu nunca tive o sonho de ir trabalhar para fora, por isso comecei a ponderar outras coisas”, começa por contar à PiT a co-fundadora da CÃOpreensão, a primeira creche canina em Portugal.
A ingenuidade de Íris levou-a a “bater de porta em porta” e a oferecer os seus serviços de dog walking e pet sitting aos tutores que não tinham tempo para os seus cães. Algo que começou por ser “uma brincadeira pontual”, de passeios de 30 minutos a uma hora, mas que tinha uma grande margem de crescimento: “Faltava algo que ocupasse o dia dos animais e que os estimulasse”.
Sem nada para se basearem, Íris e Ricardo começaram a reparar na forma em como os donos olhavam para os seus animais de estimação. Ainda que o dissessem em tom de gozo, muitos referiam-se a eles como os “seus filhotes” ou os “seus bebés”, aliás como ainda hoje o fazem. E, para os pequenos humanos, havia centenas de opções de onde os deixar durante o dia.a
Cansada de ser “ama”, apesar de o ter feito com grande estima, a arquiteta decidiu fazer algumas formações e criar mesmo uma creche canina. Para isso, não foi buscar os biberões e os berços, mas sim todos os aspetos que uma casa com patudos tem. Principalmente, o conforto familiar.
“Criar uma creche foi sempre uma ideia minha. Mas, no nosso País, era uma coisa totalmente desconhecida e existia aquela dificuldade de nos atirarmos para o desconhecido”. Já Íris e Ricardo mergulharam de cabeça, tornando-se assim na primeira a ser legalizada e certificada pela Direção-Geral da Alimentação e Veterinária (DGAV). No entanto, pensaram bem quando se atiraram, pois, lá em baixo, encontraram dezenas de patinhas a querer os seus serviços.
A CÃOpreensão nasceu em 2012, diretamente do número 529 da Avenida Cidade Lourenço Marques, em Lisboa, e teve logo uma ótima receção: “Os nossos clientes seguiram-nos para a creche. A partir daí, a adesão foi muito boa”, recorda.
A creche, que funciona das 8 às 19 horas, continuou com a essência dos passeios de Íris, que mais tarde acrescentou as brincadeiras e jogos de estimulação mental, juntamente com as técnicas de relaxamento, como a musicoterapia. Além disso, começou a apostar nas aulas de comportamento animal, alimentando a convivência em grupo dos cães.
Para quem não tem disponibilidade para ir buscar ao pet ao final do dia, pode optar pela estadia familiar, que é feita na própria habitação. Desta forma, a equipa da CÃOpreensão desloca-se à casa do cão e assegura o acompanhamento diário de 24 horas, com jogos e atividades lúdicas. E o dono pode testemunhar tudo isso, através das fotografias e vídeos que vai recebendo no seu telemóvel.
Já se preferir que o patudo “passe as férias com” a própria creche, só precisa de levar a “alimentação habitual, cama/manta própria, brinquedos favoritos, boletim de vacinação e outros elementos que considere essenciais à rotina diária do animal”.
No que diz respeito a preços, a creche custa cerca de 19,95€, se o pet for uma vez por semana, e a estadia familiar 24,60€ por dia. No entanto, para mais informações deve contactar a própria equipa da CÃOpreensão.
Novas paredes que espelham as raízes da creche
Assim que Íris e Ricardo chegaram à cave do prédio lisboeta, quiseram logo transformá-la num ambiente propício à alegria dos pets. Então, encheram as paredes de azul, verde e de elementos acolhedores para eles, como ilustrações de casas e focinhos amistosos.
Entretanto, passaram-se 11 anos, e o castanho velho começava a comer os desenhos que revestiam o espaço. Estava na altura de uma remodelação, que desse uma nova vida às raízes da creche: “Quisemos incorporar os cães que fizeram parte da nossa história. Por isso, estão todos desenhados nas paredes, tal e qual como são. E ficou um ambiente ainda mais familiar com eles aqui presentes”.
Para isso, contactaram a artista Catarina Glam, conhecida pelo seu trabalho na pintura de murais e na construção de esculturas, que se inspirou “na preciosa relação entre humanos e os seus animais de estimação”. Como tal, e a pedido de Íris, baseou-se nos seus cães “todos eles distintos e tornados mascotes, assim como na paleta criada a partir das cores já existentes no espaço” detalhou a mesma à PiT.
No espaço de uma semana, e graças à ajuda dos artistas Mess Jess, Doutros Tipos, Luís Ink e Joel Queiroga, a CÃOpreensão tinha ganhado uma nova vida, sem nunca esquecer as suas origens.
Carregue na galeria para ver algumas fotografias da creche.