A ursa marsicana Amarena – nome que lhe foi dado por gostar muito de cerejas negras – gostava de se passear com as suas crias pelos arredores do Parque Nacional de Abruzzo, no centro de Itália. Por vezes, aventurava-se até à aldeia de San Sebastiano Dei Marsi, ali perto, com os dois filhos, sendo uma atração local. E foi aí mesmo que a mataram na passada sexta-feira.
Amarena foi atingida a tiro por um homem de 56 anos, Andrea Leombruni, que disse ter tido medo quando a viu entrar com as crias na sua propriedade. Afirma nunca ter querido matá-la, mas foi o que acabou mesmo por acontecer. O tiro perfurou-lhe um pulmão e nada houve a fazer. Os filhos, com apenas sete meses, fugiram assustados e ainda não foram encontrados, estando a ser realizadas buscas intensivas – já que não sobreviverão sozinhos.
A mamã Amarena era um dos 60 ursos marsicanos – uma espécie em vias de extinção – que povoam o Parque Nacional de Abruzzo e era muito querida de todos os locais. Em janeiro, um dos seus filhos, Juan Carrito – conhecido por gostar de visitar zonas habitadas e invadir padarias e restaurantes para comer pizzas e bolos – morreu atropelado, causando grande consternação na zona. Agora, a morte de Amarena provocou uma verdadeira onda de choque.
A Procuradoria de Avezzano, à qual pertence a localidade, já notificou o autor da morte de Amarena, estando em cima da mesa a hipótese de crime cruel e desnecessário, refere o “Italy 24 Press News”.
O governador local, Marco Marsilio, disse – citado pela “BBC” – que nenhum urso da região de Abruzzo alguma colocou em perigo os residentes. Para Marsilio, esta morte foi “um ato muito grave contra toda a região de Abruzzo, que provocou muita dor e raiva”.
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Já o ministro italiano do Ambiente, Gilberto Pichetto, classificou o sucedido como um “episódio muito sério” e afirmou que tudo será feito para garantir que as duas crias serão protegidas e mantidas em liberdade. Os filhotes de Amarena não foram ainda encontrados e dezenas de guardas do parque e polícias estão a tentar encontrá-los.
“A Amarena era um símbolo do parque”, sublinhou Piero Genovesi, diretor do departamento de vida selvagem do Instituto Italiano de Protecção e Investigação Ambiental (Ispra). “Todos a adoravam. Era frequentemente observada e nunca foi agressiva”, comentou, citado pela “BBC”.
Segundo Genovesi, é muito importante que as crias permaneçam na natureza, já que os ursos tendem a ficar rapidamente acostumados aos seres humanos, “o que é um perigo” – não para as pessoas, mas sim para os animais, que ficam demasiado habituados à comida feita pelos humanos.
Atirador tem sido alvo de ameaças
O autor da morte de Amarena diz estar a receber ameaças de morte. “Vamos matar-te”, “Vais acabar como a ursa” e “A tua família também está em perigo” são algumas das ameaças que Andrea Leombruno tem recebido no seu telefone, pelo que a sua casa tem estado a ser guardada pela polícia.
A polícia já confiscou a arma que o homem usou para matar Amarena. O World Wide Fund for Nature Italia quer avançar com uma ação contra o atirador, frisando que a morte de Amarena “representa um sério golpe para as expectativas de sobrevivência do urso marsicano”, refere a “Insider”.
O urso marsicano, também conhecido como urso-pardo-apenínico, vive numa área entre 5.000 a 8.000 quilómetros quadrados na Cordilheira dos Apeninos. Os machos podem pesar até 200 quilos e chegarem aos dois metros de altura, ao passo que as fêmeas pesam até 160 quilos e são de estatura menor.
Percorra a galeria para saber mais sobre esta espécie, encontrada sobretudo em Itália, e veja também algumas fotos da mamã Amarena e dos filhotes.