Kika, agora Mel, já viveu quase uma década. E grande parte dela não foi feliz. Dos seus sete anos, dois foram a viver em más condições. Nos últimos seis, recebeu muito amor de Sandra Silva, a sua cuidadora e vizinha. Porém, não vivia como merecia. Tinha um terreno de exploração agrícola como casa, onde passava todos os dias sozinha num espaço de 10 metros quadrados construído por Sandra e a sua irmã. Mas agora, ganhou um lar espaçoso, uma tutora e três irmãos de quatro patas.
“Pelo pouco tempo que passou, acho que a adaptação está a ser ótima”, começa por contar à PiT Marta Frade, a nova tutora que a recebeu há cerca de uma semana. Após a história de Mel ter se tornado viral, a advogada de 42 anos entrou em contacto com Cláudia Oliveira, que conheceu a cadela há cerca de um ano quando se mudou para Barcelos. Desde então, tem acompanhado o seu desenvolvimento e ajudou-lhe a encontrar um lar.
No passado domingo, 22 de janeiro, Sandra foi de Barcelos a Lisboa para conhecer a nova família da patuda. “Não quero mandá-la por uma transportadora, quero eu levá-la”, disse à PiT poucos dias antes. “É difícil ir para Lisboa mas quero conhecê-los. Espero que ela tenha encontrado uma boa família. É tudo o que eu sempre quis”. E o desejo da cuidada tornou-s realidade.
No novo lar, em Sintra, a adaptação não poderia estar a correr melhor. Nos primeiros dias, visto que passou a vida inteira a viver num terreno, Marta conta-nos que Mel não usava as escadas do prédio onde agora vive. Mas hoje, já está acostumada: “Já desce a correr”, diz a tutora que frisa que a atividade favorita da cadela é passear.
“Ela adora ir à rua. Quando eu digo ‘vamos à rua’, ela começa logo a abanar o rabo”, partilha. “Para voltar a casa tem de vir ao colo, porque não quer voltar. Como passou muitos anos a viver nas ruas, não sei se ela sente que é a casa dela. Mas acredito que com o tempo ela vai se acostumando a ter uma casa e uma familia”.
Tem a casa cheia e está sempre acompanhada
Além de Mel, Marta Frade é tutora da cadela Luna, de oito anos, e dos gatos Caju, de um e meio, e Barbie, de alguns meses. Em 2017, Luna estava prestes a ser abatida, num abrigo nos Açores, quando foi resgatada e adotada aos dois anos pela advogada. Na altura tinha também a cadela Lily, que morreu em 2021 aos 14 anos. “Era a minha companheira de viagem, ia comigo para todo o lado”, recorda.
Já a dupla de gatos foi também resgatada de diferentes ninhadas encontradas na rua. “São muito meiguinhos. Brincam, mas não estragam nada e receberam muito bem a Mel”, diz à PiT. “Eu estava com receio deles com ela porque todos os que eu já tive, e também quanto trazia bebés para casa, eles sopravam sempre. O Caju até soprava a Barbie, mas agora são melhores amigos”.
E com Luna, a relação é igual. Segundo a tutora, a cadela de oito anos já está acostumada a andar sem trela. Mel, porém, ainda está a ser treinada para tal. Ainda assim, quer fazer tudo que a irmã mais velha faz. “A Luna vai sempre na frente e a Mel quer acompanhar. Se a Luna virar a esquerda, ela quer virar a esquerda também”, partilha.
Em casa, todos os companheiros de quatro patas dormem com Marta. Mas Mel tem um lugar favorito: o sofá da sala. “O espaço é um pouco frio mas ela adora lá estar. Já trouxe a manta dela para o quarto e falei para dormir cá, mas no meio da noite ela volta para a sala”, recorda. Durante o dia, é lá que a cadela passa grande parte do tempo. E às vezes, até tem a companhia dos irmãos.
Uma questão de tempo
Diferente de Lily, a antiga cadela da família, Luna não é grande fã de andar de carro. A não ser que esteja a ir para Tomar, onde a tutotra Marta Frade constantemente visita a mãe, numa quinta “com espaço e outros animais”. “A Lily gostava muito de andar de carro, já a Luna só gosta quando é para ir para Tomar. Costuma ter muito enjoo e vomita, portanto não gosta do carro, gosta de onde é que vai”.
Em breve, Mel vai conhecer o espaço e com a liberdade que lá tem, Marta espera que consiga ensiná-la a andar sem trela como a irmão de quatro patas. E apesar de já estar quase 100 por cento adaptada, ainda está aprender aos poucos a ficar mais confortável.
“Ela ainda tem algum receio de algumas coisas, não sabemos os traumas que passou”, frisa a advogada. “Notei também alguma resistência dela entrar na cozinha. Mas houve um dia em que eu estava na sala e ela levantou-se e eu fui atrás sem fazer barulho. Ela foi devagar até a cozinha e entrou. Hoje em dia já está a entrar mais vezes”, acrescenta.
Por outro lado, não deixa de esconder o amor que tem pela nova família. Quando Marta conheceu a história de Mel, já sabia que queria adotá-la. “Eu pensei ‘é uma cadela de sete anos, é muito difícil arranjar adotante para ela’. E eu não me importava nada”, diz. “Os cães mais velhos são muito mais agradecidos, mais calmos e os filhotes arranjam sempre lar. Por isso, opto sempre por adotar animais idosos”.
E Mel não poderia estar mais grata pela decisão. “Ela é muito meiga, está sempre a dar beijinhos na minha mão”, sublinha. “Já se vê que ela gosta muito de mim e até tem ciúmes. Noutro dia, apanhei a Luna no colo para ver a barriga dela e a Mel veio a ladrar para pedir colo também”, diz, aos risos.
A tutora diz ainda que a patuda até já está pronta para proteger a casa. Quando ouve barulho lá fora, ladra como uma verdadeira protetora. Em breve, já vai estar 100 por cento acostumada com a família e Marta não tem dúvidas: “Se já está a ser fácil agora, acredito que com o tempo ela vai ganhar ainda mais confiança”.
Carregue na galeria para conhecer a nova família de Mel, a cadela que esperou uma vida por um lar.