A causa animal exige das pessoas que a ela se dedicam um trabalho constante e uma vontade infinita de ajudar. Sónia Abraços, fundadora das colónias Corações Sem Dono, é um exemplo de alguém com estas qualidades, que desde pequena foi apanhada pelo amor aos animais, e que depois de adulta decidiu transformar a vida de tantos.
A assistente administrativa de 49 anos é responsável pelas colónias, na Cova da Piedade, em Almada, onde abriga mais de 50 gatos. Apesar de se dedicar aos felinos, o amor pelos bichos começou “graças a um cão, Pastor Alemão“, conta à PiT. Depois do cão, foi uma gata que lhe traçou o destino. “Na rua da minha mãe apareceu uma gata tricolor, a minha Fofinha, e foi a partir dela que comecei a tratar de gatos”, explica. “Infelizmente, a Fofinha foi morta, e esperou por mim para morrer nos meus braços”, lamenta Sónia.
Em 2010, a administrativa era voluntária no canil do Seixal, e alimentava os gatos da Cova da Piedade. “Quando vim cá trazer comida para os gatos, havia muitos animais, incluindo cães”, afirma, acrescentando que “havia muita desgraça, muitos animais doentes e mortos”. Não conseguindo ficar indiferente, Sónia fez a colónia para que os patudos pudessem ter mais segurança e cuidados. “O meu marido disse-me para não me meter nisto, e eu meti-me”, conta à PiT. “Comecei a esterilizar e a dar para adoção, e alguns levámos para casa”, explica.
Ao longo do tempo, outras pessoas com intenção de ajudar foram-se juntando ao projeto, e hoje a equipa conta com quase 10 pessoas, que cuidam das colónias. As instalações principais, que acolhem o maior número de animais, estão com a capacidade no limite. Além destas, existem mais duas colónias das quais Sónia é cuidadora, além dos gatos que vivem no seu quintal “Eles já lá estavam”, conta. “Não sou ninguém para expulsar os gatos do território deles. Não gosto de invadir”.
As maiores dificuldades, explica a responsável, são “as despesas veterinárias”, a “falta de espaço”, e “conseguir adoções responsáveis”. Além disso, é difícil conseguir alimentação de qualidade, que “a longo prazo é importante”. Não conseguir ajudar todos é outro desafio. “Eu própria tenho de fingir que tenho palas nos olhos”, confessa. “Vemos gatos em todo o lado e queremos ajudá-los a todos. É muito difícil”, acrescenta.
As pessoas da zona conhecem a colónia, e “abandonam muitos animais”. O espaço é limitado, e devido aos abandonos, Sónia explica que “todas as jaulas estão cheias”, pelo que, “caso um dos gatos residentes adoeça não tem onde ficar”. A alternativa é “ficar no veterinário internado”. “Nunca é só um gato abandonado”, explica a responsável. “São sempre dois, três ou quatro”. Apesar dos obstáculos, a ajuda é dada. “Se eu conseguir salvar, eu salvo. Sei que há muitos mais, mas não consigo ir a todo o lado”, afirma.
Os processos de adoção são essenciais para garantir o bem estar dos animais, e dos humanos que escolhem acolhe-los. Para adotar, a Corações Sem Dono tem “uma etapa de triagem, com o preenchimento de um questionário”, que é enviado diretamente por Sónia. Depois de entrar em contacto com as pessoas, conhecem os animais e então é decidido se a adoção é levada avante. “Muitas pessoas querem adotar um gato, mas não querem passar pelo processo de adoção”, lamenta a responsável. “Às vezes, dizem-me que querem oferecer os gatos. Os animais não são oferta”, acrescenta.
Sónia revela que o trabalho que cumpre com os animais pretende honrar uma promessa que fez quando começou a colónia. “Prometi ao Boramir e a todos os que estavam com ele na altura que jamais deixava que esta colónia sofresse como já tinham sofrido”. Para o futuro, os objetivos são esterilizar tantos animais quanto possível, conseguir “boas adoções”, e “alimentação de qualidade”.
O que move o projeto, explica a responsável, é o “agradecimento” e “a alegria” que os gatos demonstram. “Quando chego à colónia tenho o Pixie e o Morgan que vêm sempre ter comigo”, conta. “O Legolas também, é só chamar”, acrescenta. “O amor que estes gatos nos dão é fantástico. Eles são fantásticos”, conclui.
Para ajudar a Corações Sem Dono, podem ser feitas doações de dinheiro, acessórios e comida através dos contactos nas redes sociais. Além disso, também é possível apadrinhar os animais que não são adotados.
De seguida, percorra a galeria para conhecer a colónia e alguns dos gatos para adoção na colónia.