Lupita tem uma história marcada por negligencia, que parece ignorar por completo. A patuda preta e branca de nove anos, arraçada de Podengo, foi resgatada pela Animal Rescue Algarve, depois de ser encontrada presa numa jaula, com duas hérnias salientes. Foi adotada por o que parecia ser a sua nova oportunidade de ser feliz, e abandonada uma vez mais. Agora, vive os seus últimos dias sem ressentimentos, e mostrando apenas amor.
A patuda chegou ao abrigo no dia 20 de março, depois de ser encontrada perto da vila de Monchique, em Faro, por uma voluntária que viajava pelo Algarve. Estava fechada numa jaula, dentro da propriedade do detentor, que após uma conversa rápida concordou cede-la, conta à PiT Marlene Dias.
A integrante da associação avança que as hérnias da patuda eram impossíveis de ignorar, devido ao tamanho, mas confessa ter esperando que este fosse o seu único problema de saúde. Infelizmente, os exames veterinários revelaram uma realidade mais difícil.
Lupita foi diagnosticada com dirofilariose — uma doença causada pela presença de parasitas no coração e na corrente sanguínea. Além disso, as hérnias, que precisavam de cirurgia, “estavam encarceradas na cavidade abdominal”, querendo isto dizer que já não seria possível colocá-las de volta dentro do corpo.
A veterinária que tratou da cadela alertou a equipa para os riscos agravados de avançar com a operação, face à presença dos parasitas, que “dificultam a capacidade do corpo de lidar com a anestesia e de recuperar”. Ainda assim, a patuda foi submetida ao procedimento, já que “as hérnias estavam a comprometer demasiado a sua qualidade de vida”.
Durante a operação, os médicos descobriram “várias massas tumorais”. “Deixaram bem claro que Lupita seria um animal em fim de vida, e que seguiria a precisar de cuidados paliativos”, avança a responsável de 28 anos. “Veio para o abrigo com a intenção de lhe darmos todo o conforto com o tempo que lhe resta, e assim foi”.
Ao longo das semanas que passou no abrigo, a patuda mostrou-se ativa e alegre. “Adaptou-se super bem, brincava nos parques com os outros cães, tinha vontade de passear, e era uma das favoritas dos voluntários”, conta Marlene. Começou a tomar analgésicos para se manter estável, e o abrigo tomou a decisão de atrasar o tratamento para a dirofilariose , já que este “é bastante agressivo, e ela podia ir-se muito abaixo se o começasse”.
Chegou a ser adotada
No início de maio, cerca de um mês e meio depois de a patuda ser recebida pelo Animal Rescue Algarve, a associação foi contactada por uma família. “Explicaram que sempre tiveram animais, e que procuravam um novo patudo para os acompanhar. Não se importavam que fosse idoso, mas queriam que conseguisse acompanhá-los nas suas viagens de autocaravana”, avança a responsável.
Marlene adianta não ter ponderado Lupita para preencher esta vontade, mas desde a primeira visita os candidatos “gostaram muito dela”. A situação da patuda foi abordada com clareza — “ela tanto podia viver vários meses como algumas semanas”. Os futuros tutores não pareceram importar-se, e a 12 de maio foi concretizada a adoção.
Lupita foi entregue com a condição imposta pela associação para qualquer processo, que dita que durante os primeiros três meses de adoção o animal é mantido sob tutela legal do abrigo. Durante as primeiros dias, a informação sobre o estado de saúde da patuda manteve-se positiva. “Disseram-nos que ela comia, que brincava. Nunca disseram nada sobre a possibilidade de não estar bem”.
Duas semanas após a adoção, Marlene conta ter recebido uma chamada de uma clínica veterinária, que solicitava a sua autorização para que Lupita fosse eutanasiada. “Expliquei que não podia autorizar algo desse género por telemóvel, e fui lá para ver o que se passava”, avança.
Dentro do consultório, Lupita estava sedada. A veterinária explicou que a cadela “estava em fase final”, e a tutora afirmou que “tinha tido diarreia, que não se alimentava, e que estava em sofrimento”. Marlene conta ter chamado pela patuda, que mesmo atordoada procurou a sua presença — declarou que não seria eutanasiada, e foi-lhe dito que a levasse de volta para o abrigo.
Provou que ainda quer viver
De volta à associação, não esteve nenhuma noite nos canis. A primeira foi passada em casa do gerente, que relatou a cadela “não mostrou qualquer sinal de sofrimento”. Comeu, brincou com outros cães nos parques, e, garante a responsável “não teve diarreia”. No dia seguinte, foi acolhia por Monique, uma FAT (Família de Acolhimento Temporário), com quem aproveitará o tempo que lhe resta, na companhia de dois cachorrinhos a quem se afeiçoou.
Marlene admite a possibilidade de que Lupita tenha algumas dores, para as quais precisa de medicação, mas avança que a patuda “corre, brinca, e vai à praia e põe as patinhas no mar”. “Um diagnóstico, por si, não significa que temos de tirar a vida a um animal. Quando ela nos disser que está em sofrimento, aí sim, deixamo-la descansar”.
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