Bastou uma amiga perguntar a Maria João Matos quantos cães tinha em casa para a protetora parar para pensar. Na altura, não sabia ao certo, mas agarrou num papel e escreveu o nome de todos eles. Quando chegou aos 100, percebeu que se tinha esquecido de um. “São 101 rafeiros”, disse a amiga, a brincar. E assim nasceu o nome da associação.
Apesar de esta só ter sido constituída legalmente em 2023, a história da fundadora de 70 anos com os animais já é antiga. A 101 Rafeiros esteve presente este fim de semana, de 26 e 27 de outubro, na primeira edição da Lisboa PiT Party, em Belém. Maria João contou que é através de festas, feiras e festivais deste género que consegue recolher ajuda suficiente para tratar dos 70 cães e cinco gatos que acolhe atualmente na própria quinta em Palmela, no distrito de Setúbal.
“Eles estão comigo sempre. No geral, a maior parte deles são idosos e cães não adotáveis”, explica à PiT a fundadora. “É muito difícil, mas vão ficando e pelo menos ali têm limpeza, comida e quentinho”, aponta. Ima é um dos exemplos. O cão que esteve presente na festa da família e do bem-estar animal que decorreu este fim de semana em Belém tornou-se na mascote da 101 Rafeiros há dez anos.
“É o nosso relações públicas”, brinca. E o velhote não esconde a capacidade de fazer amizades — basta ver alguém novo chegar para pedir mimos e festinhas. “Ele vai às campanhas todas e às escolas. É o que nos ajuda.”
O velhote vivia no parque industrial IMA Park com o irmão (daí a inspiração para o nome) e tinha tudo o que precisava. Os dois cães eram alimentados e acarinhados por um dos seguranças, que lhes abria a casa durante a noite para dormirem. Porém, quando aos dois anos e meio caiu de um telhado, Ima acabou por ser acolhido pela associação de Maria João para receber o devido tratamento. O objetivo era devolvê-lo para viver novamente com o mano, mas o patudo decidiu que não queria voltar àquela vida.
“Ele esteve cerca de um mês na minha casa, foi operado e recuperou. Quando o fui levar ao IMA Park outra vez, já não quis ficar lá”, recorda.
Naquele dia, Maria João Matos deixou-o ao lado do outro cão, mas quando entrou na carrinha para voltar para casa, viu o patudo a persegui-la desesperado. Foi nesse preciso momento que decidiu acolhê-lo, mas fez questão de não separar a família. Ima ainda visita o mano que continua a viver onde foi criado.
“Volta e meia eu levo-o lá e ele anda à procura do irmão. Brincam um bocado, mas assim que eu me aproximo da carrinha, vem a correr porque pensa que o vou abandonar”, conta.
É ao lado das amigas voluntárias que Maria João faz tudo acontecer
Atualmente, o maior desafio da 101 Rafeiros é lidar com as despesas veterinárias. A fundadora explica que tem uma parceria com um hospital veterinário em Palmela e consegue preços mais baixos, mas ainda assim não é fácil pagar todo o valor. Para tal, conta com a ajuda de associados, que doam à associação um valor mensal.
Maria João conta ainda com a ajuda de algumas voluntárias, como Helena Tomé, 60 anos, e Luisa Ribeiro, de 54. A primeira entrou na vida da protetora há dez anos, quando quis adotar Cuca, uma cadela Cocker Spaniel. A patuda foi atirada para o quintal da fundadora da associação assim que se mudou para a casa onde hoje abriga os 70 patudos. Depois de ser reabilitada, foi colocada para adoção.
“Foi aí que começou a nossa amizade”, partilha Helena. “Depois, comecei a ajudar também durante as campanhas”.
Hoje, é tutora de Merci, um cão que também foi resgatado pela 101 Rafeiros e que esteve presente na Lisboa PiT Party ao lado de Ima. Muitos outros animais salvos acabaram por ser acolhidos por familiares e conhecidos de Helena e de Luisa, que partilham o mesmo amor das voluntárias pelos animais.
“Felizmente, nós temos um grupo, sobretudo a Helena e a Luisa, que são as que estão sempre presentes e vamos conseguindo fazer as campanhas. Sozinha também não conseguia”, confessa Maria João. “E com a ajuda das respetivas família. Elas abdicam de estar com os familiares. A Helena tem os pais idosos, a Luisa também tem marido, filha e genro. Eu não, só tenho os cães”.
A fundadora dedica todas as 24 horas do seu dia aos patudos que salva e, embora nem sempre seja fácil, é muito bem recompensada com a companhia e o amor infinito que os 70 cães têm para oferecer.
Para ajudar a 101 Rafeiros, pode seguir o trabalho da associação através das páginas do Instagram e do Facebook. Maria João também partilha atualizações na página que partilha com o cão Ima. Para se tornar um associado da 101 Rafeiros, pode entrar em contacto através do 933 485 777 e do email (abrigo101rafeiros@nullgmail.com).
A Lisboa PiT Party é uma organização conjunta da PiT e da sua parceira 29 Graus e ainda da Câmara Municipal de Lisboa, Liga Portuguesa dos Direitos do Animal (LPDA) e Casa dos Animais de Lisboa (CAL). Conta com o apoio da NiT e da NiTfm.
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