A linguagem corporal dos gatos é a base da sua comunicação com outros animais e com humanos. Arquear as costas, eriçar o pelo e espalmar as orelhas são sinais de medo ou stress. Fechar os olhos e esfregar a cabeça em alguém comunica afeto e confiança, e uma cauda em pé significa um “olá” amigável. Gatos com particularidades físicas e mutações genéticas que afetem estas ações podem ter dificuldade em ser compreendidos, explica um novo estudo, publicado no jornal The Veterinary Journal.
Uma equipa de cientistas liderada por Morgan Van Belle, etologista felina (ou seja, uma cientista que estuda o comportamento dos gatos) da Universidade de Ghent, na Bélgica, desenvolveu um estudo sobre interações entre gatos, durante o qual se deparou com 2 felinos com caudas completamente dobradas sobre o corpo – uma mutação genética presente numa raça ainda pouco reconhecida, a American Ringtail.
No sentido de perceber de que forma é que a mutação afeta a capacidade de comunicação destes gatos, a equipa analisou 85 minutos de vídeos dos felinos com outros gatos com quem viviam, que tinham caudas normais. Todos mostrava comportamentos amigáveis, afeto e conforto, pelo que, ainda que impossibilitados de utilizar a cauda para o demonstrar, os gatos com a mutação conseguiram comunicar mensagens de amizade.
Numa entrevista à revista Scientific American, Morgan Van Belle esclareceu que as caudas curvas funcionam “como um sotaque”, que pode tornar mais demorado o processo de compreensão daquilo que os felinos pretendem comunicar, já que têm de utilizar outras formas de se fazerem compreender, como “a posição das orelhas ou odores”. Para além disso, “conhecerem-se bem provavelmente também ajuda na comunicação”, afirma a etologista, acrescentando que este facto “mostra o quão flexíveis os gatos são a comunicarem uns com os outros”.
Sandra Nicholson, cientista que estuda o comportamento animal na Universidade de Dublin, acrescenta que gatos e humanos podem ter dificuldades em interpretar a linguagem, já que caudas que se dobram por cima das costas não é algo que a maior parte dos felinos consiga fazer. Apesar da cauda estar comprometida, os gatos “continuam a dar sinais através de outras partes do corpo”, como “a cara, as orelhas e outras posições do corpo”. “Não é apenas a cauda que conta, apesar de reduzir alguma capacidade de comunicação”, conclui.
O estudo levanta questões sobre a ética de produzir raças com características que afetam não só a qualidade da saúde dos animais, mas também a capacidade de socializaram da melhor forma possível. Revela ainda a habilidade de adaptação e flexibilidade dos animais para aprenderem novas formas de conseguirem passar as mensagens que querem.
De seguida, percorra a galeria para conhecer mais sobre o estudo e a raça de gato American Ringtail.