A representatividade importa mas nem sempre é fácil de a encontrar. E para os miúdos, é ainda mais especial. Foi a ter isso em mente que Andrea e Hank White, um casal norte-americano, resolveram treinar Chance, um rafeiro adotado, para ajudar os mais sensíveis. Como o próprio nome já denuncia, o patudo também teve direito a uma segunda “oportunidade” e agora, é isso que quer oferecer aos mais novos.
Chance foi encontrado próximo da cidade de Lexington, no Estado de Kentucky, nos Estados Unidos, num estado deplorável. Além de estar subnutrido e a “morrer de fome”, havia sido alvejado na perna esquerda. O cão foi resgatado por Camp Jean, uma voluntária, e levado de imediato à uma clínica veterinária onde teve de ser submetido a uma cirurgia de urgência.
“O veterinário disse-lhe que foi a amputação mais complexa que já fez”, confessou Andrea num testemunho partilhado pelo Shriners Children’s Lexington, um hospital pediátrico na região. Apesar de na altura não terem a certeza de que o cão sobreviveria, não desistiram. E o rafeiro superou-os. Seis semanas depois da intervenção, já parecia outro.
Na altura, estava à procura de um lar e foi aí que conheceu Andrea e Hank. Assim que o viu, a tutora sabia que o novo companheiro seria um “perfeito cão de terapia”. “No dia em que o trouxemos para casa, ele já sabia vários truques, estava domesticado e já corria no nosso jardim com Sadie [a outra cadela da família]”, recordou. “É o cão menos agressivo que já tive e decidi naquele momento que seria um cão de assistência”.
Em junho, depois de ter concluído os treinos básicos, Chance foi praticá-los no Shriners Children’s Lexington. Duas vezes por mês, visita as clínicas de prótese do espaço com um único objetivo: conectar-se com miúdos que também sofreram uma amputação ou que, por diversas outras razões de saúde, não tiveram os membros desenvolvidos.
Numa dessas visitas, conheceu o pequeno Arlo, de quatro anos, que teve a perna esquerda amputada na altura do joelho. “Conhecê-lo foi uma experiência inesperadamente profunda para a nossa família”, disse a sua mãe, Emily Yost. “Explicámos a Arlo que, assim como ele, o Chance ficou e ficará bem e que consegue fazer qualquer coisa que quiser, assim como ele faz diariamente”.
Emily acrescentou ainda que as visitas do patudo ajudaram-na a perceber que as deficiências físicas “nunca devem impedir as pessoas de sentirem alegria”. “Acredito que foi muito importante para Arlo ver tamanha resiliência a vir de um animal que ele adora tanto”.
Os treinos iniciais do rafeiro consistiram em dez visitas a um lar de idosos. “Ele é calmo, meigo e simpático”, partilhou a tutora. “Não fica com medo ou nervoso perto de estranhos e também é muito bem comportado. Só quer deixar os outros felizes”.
“Os miúdos iluminam-se quando entramos na sala de exame”
Conforto. É este o principal sentimento despertado por Chance. O rafeiro de três anos é descrito por Andrea como um cão “muito confiante” e é a sua personalidade que o ajuda a conquistar todos os que conhece, e que fez com que os papás humanos tivessem a certeza de que iria prosperar como um cão de terapia.
“Os miúdos iluminam-se quando entramos nas salas de exame”, contou. “Eles deitam-se no chão ao lado dele e alguns pais também. Querem saber o que aconteceu com Chance, perguntam-nos se ele ainda sente dor, querem ver e sentir a sua cicatriz e saber se ele usa uma prótese. Depois, mostram-nos o seu membro amputado e contam-nos sobre como é, ou não, usar as suas próteses. Se conseguirem lembrar-se, também partilham como correu a sua cirurgia”.
A equipa do hospital também não resiste aos encantos do patudo que “coloca um sorriso no rosto de todos”. Segundo Frazann Milbern, terapeuta recreativa da unidade, Chance proporciona uma sensação de alívio em todas as suas visitas.
“Vê-lo sempre ajuda-nos a lidar com a ansiedade e stress das visitas à clínica de próteses”, referiu. “Muitas consultas podem durar mais de uma hora, por isso, Chance dá aos pacientes e familiares algo pelo qual ansiar. E os sorrisos nos rostos de toda a gente prova isso”. Chance é o primeiro cão de terapia a ser admitido no hospital.
Carregue na galeria para ver algumas fotografias do rafeiro a trabalhar ao lado dos miúdos.