Animais

Ninja, o cão-polícia de intervenção, reformou-se. “Foram 10 anos de companheirismo”

Ninja trabalhou ao lado do Agente Principal da PSP Ricardo Lopes, e completou o último serviço na final da Taça de Portugal.
Agora, vai aproveitar os anos de reforma.

Ninja trabalhou durante 10 anos, e cumpriu o seu último serviço no dia 25 de maio, mantendo a segurança dos adeptos durante o jogo de futebol para a final da Taça de Portugal, e oficializando, por fim, a entrada na reforma. O cão-polícia desempenhava as suas funções dentro da especialidade de Intervenção Pública e Ordem Tática da PSP, ao lado do Agente Principal Ricardo Lopes — o único humano em quem confia, e a quem permanecerá ligado mesmo já não estando no ativo.

O profissional de polícia de 43 anos conta à PiT que a carreira nos cinotécnicos não surgiu por acaso, tendo sido o resultado de uma vontade cultivada ainda em miúdo. “Sempre tive cães”, avança. “O meu pai era caçador e desde sempre tivemos cães em casa”. O primeiro foi Puchie, “Era um rafeiro”, afirma com um sorriso.

O percurso dentro da força policial começou em 2003, mas o grande objetivo sempre foi integrar o Grupo Operacional Cinotécnico, para o qual concorreu em 2007. Recorda Odeta, uma Pastora-Alemã de linhagem checa, que acompanhou o seu início nesta divisão, há 10 anos, e que foi sepultada no terreno onde acontecem os treinos. 

Para além dos conhecimentos de comportamento canino exigidos pelas funções, Ricardo Lopes concluiu ainda o curso de auxiliar de veterinária, já dentro dos cinotécnicos. Explica que esta competência é uma mais valia, não só para detectar algo de errado com o estado de saúde dos seus próprios animais, mas para avaliar qualquer um dos canídeos da divisão. “Como não temos aqui um veterinário 24 horas por dia, temos três pessoas com formação que conseguem avaliar momentaneamente o cão e depois transmitir ao veterinário as condições em que está”, esclarece.

Ninja apareceu na sua vida poucos meses depois da morte de Odeta. Chegou com cerca de um ano e meio, através de “uma doação por parte de um camarada”. “Falou-nos do comportamento dele — tinha bastante agressividade com pessoas e com outros animais”, avança o tutor. E foi com a mesma atitude que se apresentou na unidade especial de polícia, onde se tornou num cão trabalhador, e onde ainda vive.

O patudo cumpriu os testes, e depois dos 30 dias de avaliação inicias, provou que tinha as características certas. Foi recebido definitivamente, e a sua ligação a Ricardo Lopes concretizou-se por decisão do seu comandante, convicto de que o agente seria a pessoa certa para chegar ao cão que não tolerava o toque a ninguém. “Simplesmente abri o canil, virei-lhe as costas e fui-me sentar num banco. Tinha comida na mão, fui “comprando-o” através da comida — a que ele não demonstra grande interesse. Consegui pôr-lhe a coleira, e a partir daí nunca se virou a mim“, conta.

Está velhote.

O cão polícia mais sério de todos

Por princípio, Ninja procura afastar (quase) todos os humanos. Não é cão de festas, mas “é ótimo a mostrar aos outros cães como estar em matilha”. Leva o trabalho muito a sério e, para além de Ricardo, existe apenas uma outra pessoa que o patudo tolera, e que por isso fica responsável por ele quando o tutor se ausenta em missões.

O agente conta à PiT que o cão de 12 anos “não gosta muito de brincar”, nem demonstra interesse por comida — os dois estímulos habitualmente utilizados pelos treinadores para incitar os cães a cumprir as tarefas que lhes são pedidas. No entanto, “gosta muito do afeto por parte do tratador”. Ao completar os exercícios, “era sempre premiado com uma festa, ou com elogio verbal”.

Num momento em que um longo ciclo chega ao fim, Ricardo Lopes destaca a simbiose que criou com Ninja como o aspeto que mais valoriza entre as vivências que durante os anos criaram. “Quando estamos em situações complicadas, eu e ele conseguimos resolver sempre“, afirma.

O cão está oficialmente reformado, depois do serviço que completou na final da Taça de Portugal. Apesar de manter os reflexos e a lealdade, os pelos brancos do focinho e as patas traseiras que se tornam frágeis denunciam o peso da idade, pelo que foi decidido que teria finalmente direito a pousar a coleira de patrulha. Normalmente, os agentes optam por adotar os cães com quem trabalharam, ou deixam que sejam adotados por conhecidos ou pessoas de fora, proporcionando-lhes os anos de velhice em casa. Infelizmente, tal não será possível com Ninja, devido ao seu temperamento, mas nem por isso terá menos cuidados ou atenção.

“A partir de agora vai ter só passeio, miminho, e um patêzinho com a ração para poupar os dentes”, brinca o tutor. Confessa que o último serviço com o cão “foi emotivo”. “Foi o último trabalho que realizei com ele. Foram 10 anos de companheirismo e de proteção”.

Há cerca de um ano e meio, recebeu Bolt e Rex. O primeiro, também Pastor-Alemão, foi uma doação feita à polícia, e tal como Ninja, apresenta “uma parte comportamental complicada”. Já Rex, um Pastor Belga Malinois, foi comprado, e chegou ainda bebé. Ao contrário do “irmão” mais velho, o temperamento de Rex permite “fazer demonstrações, ou permitir que as pessoas façam festas”.

Carregue na galeria para conhecer Ninja, e para saber mais sobre o seu trabalho.

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