As implicações éticas da criação de animais, nomeadamente de raças com determinadas mutações genéticas, é tópico de debate recorrentemente. Um novo estudo veio reforçar as preocupações sobre a genética e a saúde dos cães de raça pura, apelando a uma reconsideração da criação destes animais.
Publicado no jornal Animal Welfare, o estudo foi liderado pelos professores Helle Friss Proschowsky e Peter Sandøe, da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, que cooperaram com pesquisadores do Reino Unido, dos EUA, e do Canadá.
Com o título “Um Novo Futuro para a Criação de Cães”, o estudo foca-se nos efeitos negativos associados a mutações genéticas típicas de certas raças, que comprometem o bem estar e a saúde dos animais. “Muitos animais de raça acabam por sofrer com o peso de doenças herdadas, devido ao número limitado de populações, e por causa da consanguinidade, bem como devido a deficiências resultantes de seleções deliberadas para traços extremos que impactam negativamente o seu bem estar e longevidade“, pode ler-se no artigo.
As questões levantadas abrangem ainda tendências fundamentais do meio da criação de animais, como a queda da influência dos kennel clubs (organizações que gerem a criação, o registo e o bem estar das raças), o aumento da popularidade de raças consideradas de luxo, como os Cockapoos e os Labradoodles, e a procura de cães com mistura de raças, já que certas combinações causam problemas de saúde e comportamentais.
Apesar dos problemas levantados, os autores não se opõem à criação dos animais, chegando mesmo a defende-la, desde que respeitando os atributos físicos, psicológicos e comportamentais dos patudos, e garantindo que são geridas por entidades competentes.
Pretendem uma mudança na realidade da criação de raças
Os autores propõem um abordagem com bases científicas para que a criação de cães seja alterada, no sentido de proteger os animais e zelar pelo seu bem estar. Para tal, sugerem que sejam removidas as características físicas prejudicais à saúde dos cães. Além disso, defendem a existência de organizações que possam gerir a criação, e que seja introduzida legislação e reformas que protejam os animais. Por último, apoiam a utilização de ferramentas genéticas modernas para evitar mutações que causem problemas de saúde.
Helle Friss Proschowsky, um dos responsáveis pelo estudo, adiantou que o propósito da publicação é “atentar a urgência de ação no campo, e apresentar algumas formas de agir”. “Depois, queremos adicionar algumas nuances com bases científicas sobre alguns dos argumentos que são frequentemente ouvidos entre o público sobre estas questões”, acrescentou o professor.
O pesquisador exemplifica alguns destes argumentos, enumerando “o argumento de que cães com mistura de raças ou de raças de luxo são sempre mais saudáveis”, bem como a ideia de que “o conceito de raças devia ser abandonado”. “A nossa principal mensagem aqui é que o que é necessário não é desistir da criação organizada de raças de cães, mas fazer essa criação com o objetivo de que os cães sejam saudáveis”, conclui.
Percorra a galeria para conhecer algumas das raças com mais problemas de saúde devido a mutações genéticas.