Animais

Número de animais abandonados desceu em Portugal. Mas em Lisboa está a aumentar

Houve uma ligeira diminuição face a 2021, com exceção de zonas como Lisboa e Torres Vedras. Capital lidera eutanásia.
Dificuldades financeiras estão entre as causas.

O abandono tem sido um tema cada vez mais recorrente na causa animal e os números explicam o porquê. Em 2022, os Centros de Recolha Oficiais (CRO) em todo o Pais receberam 41.994 animais da rua. Apesar de ter havido uma ligeira diminuição face a 2021, que totalizou 43.603 animais recolhidos, zonas como Lisboa, Guarda, Vila Nova de Gaia e Torres Vedras inverteram a tendência.

A PiT analisou os dados do relatório anual de atividades dos centros de recolha oficial (CRO), divulgado pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), e constatou que no ano passado o município de Lisboa liderou em número de animais recolhidos, com 1.166, quando em 2021 outros municípios, como Santo Tirso, Ponta Delgada, Cascais, Braga e Vila Nova de Famalicão também tinham recolhido mais de mil animais. Desta vez, o relatório agrega o município açoriano de Ponta Delgada com os de Povoação e Vila Franca do Campo, com os três a somarem 1.193.

Outras câmaras registaram igualmente números elevados, como foi o caso de Santo Tirso (947), Cascais (944), Silves (905), Vila Nova de Famalicão (886), Torres Vedras (877), Sintra (866), Braga (851), Porto (676), Coimbra (663), Guarda (655), Tomar (648), Évora (638), Funchal (623) e Vila Nova de Gaia (617).

Comparando com os relatórios dos últimos anos, de forma agregada, a PiT observa uma diminuição de animais recolhidos em 2022. Em 2018 as recolhas ascenderam a 35.733. Já no ano seguinte diminuíram para 31.966 e no ano em que a pandemia chegou ao País foram recolhidos 31.339 animais. O ano de 2021 marcou um corte nessa tendência decrescente que vinha a registar-se, ao serem recolhidos 43.603 animais – foram mais 38,6 por cento face ao ano precedente.

Apesar de 2022 se ter notado uma diminuição, houve municípios que registaram aumentos. Foi o caso, por exemplo, de Lisboa, que passou de 945 para 1.166; da Guarda, de 400 para 655; de Vila Nova de Gaia, que passou de 550 para 617, e de Torres Vedras, que passou de 672 para 877.

Mais de 2.300 animais eutanasiados

Já o número de animais eutanasiados nas instalações municipais aumentou em 2022 face ao ano precedente. Foram 2.378 os animais abatidos nos CRO, contra 2.188 em 2021. Em 2020, esse número tinha sido de 2.281 e em 2019 tinha ascendido a 2.647, já a estabelecer uma grande distância face aos 6.350 eutanasiados em 2018.

Ou seja, desde 2019 que o número de animais eutanasiados estava a diminuir mas em 2022 voltou a aumentar,

Para a forte redução que vinha a observar-se no número de abates estava a entrada em vigor, a 23 de setembro de 2018, da lei que proíbe o abate de animais como medida de controlo da população – lei essa que também aprovou medidas para a a criação de uma rede de centros de recolha oficial de animais.

Em vigor desde 23 de setembro de 2016, a lei teve um período transitório de dois anos para adaptação.

Lisboa lidera abates nos CRO

Analisando mais a fundo o relatório, é possível constatar que Lisboa foi o município onde mais animais foram eutanasiados: 85. Em 2021, tinham sido abatidos 87 na capital.

Torres Vedras tinha sido de longe, em 2021, o município (tal como já tinha sucedido em 2020) onde mais animais foram eutanasiados: 229. Esse número desceu em 2022 para 46, numa clara redução dessa tendência.

A PiT verificou quais os municípios que eutanasiaram mais de 35 animais em 2022 e, depois de Lisboa, seguiram-se Cascais (72) e Loures (70) como os municípios que mais animais “puseram a dormir”.

Guarda e Tomar (cada um com 66 abates), Matosinhos (62), Setúbal (59), Sátão (55), Salvaterra de Magos (48), Torres Vedras (46), Fornos de Algodres (37), Figueira da Foz (36) e Fafe (35) estão entre outras das câmaras onde mais animais não tiveram um final feliz.

Santo Tirso, um dos municípios que mais animais recolheu (947), eutanasiou “apenas” 14. De salientar ainda que em muitos municípios portugueses não houve qualquer animal abatido no ano passado.

Preocupações crescem na causa animal

Assim, apesar de o número de animais recolhidos ter diminuído em 2022, face a 2021, o número total de eutanásias aumentou. E embora tenham entrado menos cães e gatos nos CRO, segundo os ativistas da causa animal isso não é motivo para celebrar.

Além dos centros de recolha, milhares de associações e abrigos em Portugal estão superlotados sendo que a falta de verbas financeiras e equipas de voluntários continuam a ser os principais problemas.

“As verbas não nos permitem chegar a todo o lado”, lamentou à PiT Daniela Pinto, COO da Animais de Rua. “Temos alguns protocolos com municípios que nos permitem chegar a ótimos números, além dos maravilhosos donativos que nos chegam, mas sobretudo nesses últimos anos, toda a gente sente que as verbas diminuíram e acaba a ser mais difícil chegar a tantos casos que nos chegam”, disse.

Já Rodrigo Livreiro, presidente da Animalife, contou-nos que em 2023 os pedidos de ajuda de famílias carenciadas aumentaram 30 por cento face a 2022. E embora iniciativas como o Banco Solidário Animal, que este ano juntou 320 toneladas de bens, consiga apoiar um número elevado de associações e famílias, o aumento dos preços continua a ser um problema.

“A participação num BSA num hipermercado habitualmente garantia-nos a alimentação para quatro meses, mas atualmente, garante para pouco mais de dois”, partilhou Lígia Andrade, presidente da Midas, uma das associações beneficiárias ao longo dos anos.

“Desde o ano passado, e sobretudo este ano, temos sentido um aumento do número de pedidos para recebermos os animais”, disse Sofia Baptista, responsável pela Casa dos Animais de Lisboa (CAL), à agência Lusa, citada pelo jornal “Expresso”. A médica veterinária referiu que, muitas vezes, sente que os tutores “querem ficam com os animais” porém, não têm condições de os manter pois foram despejados ou estão a enfrentar dificuldades económicas.

Para ajudar a reverter esta situações, várias cidades e freguesias têm criado apoios para os animais errantes e famílias carenciadas. Em Braga e, mais recentemente, Lisboa, foram criados os primeiros bancos alimentares autárquicos para animais de ruas. “O objetivo é proporcionar alimento para os animais de rua e, numa segunda fase, estender o projeto para apoiar quem tem animais e condições financeiras frágeis para os alimentar”, explicou à PiT Pedro Emanuel Paiva, Provedor dos Animais de Lisboa.

De seguida, carregue na galeria para ver alguns cães e gatos disponíveis para adoção na PiTmatch, a plataforma de adoção da PiT.

ver galeria

ÚLTIMOS ARTIGOS DA PiT