Animais

O papel dos cães pisteiros em desaparecimentos como o de Maddie McCann

Os animais têm grande importância. Enquanto uns se orientam através dos odores (vivos ou mortos), outros seguem apenas o vento.
Têm diferentes propósitos.

Não é segredo que os cães possuem características que os humanos carecem. Os animais são conhecidos por terem os cinco sentidos mais apurados e utilizam-nos para nos ajudar como podem. Assim como nós, também têm especialidades próprias no trabalho que fazem e nos casos de desaparecimentos, não têm apenas um objetivo, sendo divididos por categorias.

“As primeiras horas são cruciais para o trabalho dos cães de salvamento, sejam eles de venteio ou de odor específico”, começa por contar à PiT Samuel Ferreira, 30, treinador de cães de busca e resgate e proprietário da GOC—K9, uma escola de treino e formações em Viseu. Os de odores específicos são os conhecidos cães de busca (para odor vivos) e os pisteiros (odor morto). Já os de venteio, só precisam do vento para se orientarem.

No caso de Maddie McCann, a miúda britânica que desapareceu em 2007 na Praia da Luz, foram muitos os cães de salvamento usados ao longo dos anos. Esta semana, o desaparecimento voltou a chamar a atenção com as novas buscas que ocorreram na Barragem do Arade, em Silves, e que chegaram ao fim esta quinta-feira, 25 de maio. Nesta, estiveram presentes cães pisteiros da Guarda Nacional Republicana (GNR).

Embora os animais especializados em odores mortos não sejam a especialidade de Samuel, o treinador tem conhecimento da forma que trabalham: “Eles consegue detetar odores a 16 metros de profundidade”, conta. “Mas depois de 16 anos [como no caso de Maddie], tenho as minhas dúvidas”, confessa. A identidade dos animais utilizados  este mês é desconhecida. No entanto, o caso já chegou a envolver animais famosos como Eddie, o cão pisteiro da polícia inglesa.

O patudo esteve no apartamento arrendado por Kate e Gerry McCann, os pais de Maddie, e durante as buscas, chegou a ladrar para um armário, de forma a indicar que havia encontrado o cheiro de um cadáver. Porém, as descobertas dos cães só podem ser comprovadas após os resultados das análises forenses e na altura, as amostras não trouxeram qualquer resposta.

Nestas situações, embora as falsas esperanças sejam uma possibilidade, por vezes, nem todos os animais são utilizados de forma correcta. No mesmo caso, no dia seguinte do desaparecimento de Maddie, a investigação ficou marcada por um percalço cometido pelas autoridades portuguesas, sendo admitido no ano seguinte: os cães usados para as buscas eram especializados em áreas rurais e não urbanas.

Segundo Samuel, a diferença pode afetar significativamente a investigação. “São cenários e ambientes muito diferentes”, diz. “O ideal é ter um cão para ambiente rural, como as grandes áreas, e outro para áreas urbanas”, explica, acrescentando que embora os animais consigam farejar, o resultado “não é tão eficaz”. “O correto é ter um cão especializado numa área apenas”, frisa.

Por outro lado, quando o assunto são as roupas ou os objetos da vítima farejados pelos cães, as regras não são tão restritas . “As peças só são usadas com cães de odores específicos, aqueles que apenas procuram o cheiro da vítima”, sublinha. “Não faz diferença o tipo de tecido, mas convém ser uma roupa usada à relativamente pouco tempo”, refere.

Há raças mais propensas para o trabalho. Mas a personalidade é o ponto mais importante

Nas mais recentes buscas na barragem do Arade, local frequentado por um dos principais suspeitos do caso de Maddie, o alemão Christian Brückner, foram usados, pelo menos, três cães pisteiros: dois Malinois e um Pastor Alemão. O espaço fica a 50 quilómetros da Praia da Luz e os portugueses estiveram acompanhados das autoridades alemães e inglesas.

“Um cão consegue ‘limpar’ uma área muito mais rapidamente do que um ser humano”, explica Samuel. “Eles têm um nariz muito bom e não falham. Se um cão estiver devidamente treinado e preparado para aquele efeito e se disser que naquela área não há qualquer odor, é porque não há”, frisa.

Apesar de haver raças mais famosas na área de salvamento, como os Malinois, os Pastores Alemães e os Labradores, o treinador avança que a personalidade dos cães é um ponto essencial para os trabalhos de salvamento. Numa ninhada, por exemplo, os filhotes podem partilhar diferentes características que indicam o seu futuro, seja como um cão operacional ou familiar.

Para Samuel, foi com a Laica, a sua Pastora Alemã de nove anos, que desenvolveu o gosto pela área de busca e resgate. “Fui a uma ninhada e escolhi a cadela que tinha as características que temos de ter num cão para trabalho”, recorda. “Não dá qualquer cão, nem todos têm essas características”, diz. Nesta área, os animais precisam ter confiança, energia e vontade de aprender.

Já os treinos, ocorrem durante um período médio de dois anos até os animais estarem preparados para começarem a trabalhar. Assim como qualquer outro, também precisam sentir-se confiantes para fazer o que são pedidos, e são nos seus treinadores que encontram um porto seguro. “O elo de ligação vai se criando aos poucos, é dedicação, tempo e gostos pelos animais porque eles conseguem perceber isso”, conclui.

Carregue na galeria para conhecer os trabalhos com cães de busca e resgate que Samuel Ferreira faz em solo nacional.

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