Animais

O que nos dizem as múmias dos gatos antigos sobre a evolução da espécie

O projeto Felix é uma colaboração europeia, que está a analisar o ADN de 1300 múmias de gatos para compreender a sua evolução.
O projeto Felix pretende compreender a evolução dos gatos.

O processo de evolução dos gatos é pouco convencional, e tem intrigado os cientistas há várias décadas, já que os felinos se adaptaram aos humanos sem alterarem realmente a sua natureza, ao contrário do que aconteceu com os outros animais domésticos. Para melhor compreender a evolução destes animais, os cientistas do projeto Felix está a analisar o ADN das múmias de 1300 gatos.

O estudo começou em 2020, chama-se Felix, e está a ser liderado por Claudio Ottoni, paleogeneticista da Universidade de Roma Tor Vergata, em Itália, e conta com uma equipa internacional de especialistas em paleontologia, arqueologia e biologia molecular. As amostras vêm de mais de 80 locais da Europa, de África, e do Sudoeste Asiático. As mais antigas são de 10 000 A.C e as mais recentes do século XVIII. 

“Mesmo fisicamente, um gato selvagem e um gato doméstico não são muito diferentes. Os gatos foram muito bem sucedidos em termos evolutivos e adaptaram-se muito bem ao nicho humano, o que é fascinante”, afirma Claudio Ottoni. “Vejo o quanto as pessoas querem saber sobre os seus gatos. Este projeto está a esclarecer como é que a relação entre humanos e gatos começou – e onde”, acrescenta o paleogeneticista.

Pretende-se que a recolha dos dados genéticos das amostras permitam à equipa tirar conclusões que reconstruam as influências biológicas e ambientais que marcaram a domesticação dos gatos. 

De onde vieram os gatos domésticos?

Até 2004, pensava-se que a domesticação dos gatos teria tido início no Antigo Egipto, há cerca de 5000 anos, graças à iconografia dos felinos no local, bem como a descoberta de felinos mumificados como oferendas aos deuses. Contudo, há 20 anos, foi descoberta uma sepultura neolítica de um homem com um gato no Chipre, sugerindo que estavam já ao lado dos humanos há 11000 anos atrás. O estudo pretende dar resposta a este mistério.

Até agora, as descobertas apontam para que os gatos domésticos europeus tenham começado a sua jornada com os humanos há 10 000 anos, no Norte de África, tendo depois viajado para a Europa com Romanos que faziam trocas comerciais no Mar Mediterrâneo. Porém, Claudio Ottoni explica que, nesse caso, seria de esperar que fosse encontrado ADN de animais domésticos no continente pouco depois, mas a análise do ADN “mostra que os gatos na Europa ainda eram selvagens”, e que os primeiros gatos com ADN do gato doméstico só aparecem “muito depois, à volta de 2500 anos atrás”. 

O estudo decorrerá por mais 2 anos, durante os quais os pesquisadores pretendem analisar a vasta coleção de múmias de gatos egípcios, no sentido de comparar o seu ADN com o ADN dos gatos domésticos de agora, e com o dos europeus antigos já analisados. Estas múmias vêm de diferentes coleções de museus da Europa, incluindo Viena, Lyon, Londres, e Varsóvia. 

Um dos cientistas da equipa, o professor Wim Va Neer, zooarqueólogo belga do Instituto Real Belga de Ciências Naturais, em Bruxelas, encontrou múmias de gatos no Egito e a sua contribuição é essencial para esta parte do projeto Felix. O professor afirma que as múmias que encontrou “num túmulo egípcio de 6000 anos” eram “amigáveis, mas não completamente domesticados”. Tendo em conta o ano em que viveram, são animais que antecedem 2000 anos a existência de gatos domésticos no país. “Pergunto-me se estas tentativas de controlar os gatos eventualmente levaram à domesticação”, adianta Wim Va Neer.

Percorra a galeria para conhecer melhor o estudo, bem como as raças de gato mais antigas do mundo. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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