Pirolito é apenas um dos milhares de animais idosos que já foram abandonados em Portugal. Foi usado como cão de caça por quase uma década e quando já não tinha mais valor aos olhos do antigo dono, foi descartado. Mas teve a sorte de ser resgatado por um grupo de pessoas que não ficaram indiferentes.
Em 2020, Pirolito foi salvo pelo Denúncia Animal Portugal (DAP), um grupo de cidadãos de todo o país que na altura se uniu para resgatar animais vítimas de maus tratos. O patudo foi encontrado sozinho preso à corrente a uma árvore “onde só podia deslocar-se em pequenos círculos”, na zona de Abrantes.
Através do Facebook, teve a história partilhada e a sua vida mudou. “Foi amor à primeira vista, sem dúvidas”, começa por contar à PiT Elisabete Pinto, a sua atual tutora, recordando o momento em que viu uma publicação sobre o patudo. “Eu tinha de ajudar aquele ‘amorzinho’, oferecer-lhe uma família, conforto e carinho. Uma vida nova que ele nunca conheceu e tanto merecia”.
Na altura Elisabete recorda-se de enviar uma candidatura de adoção e ser entrevistada por dois voluntários. “Já tinha uma cadela cruzada de Rafeiro Alentejano com seis meses e isso foi visto não como um impedimento, mas como uma vantagem, e fui selecionada”, partilha. A 18 de junho de 2020, foi buscar o novo membro da família.
Desde então, Pirolito tem vivido uma vida de sonhos e não poderia ser mais grato pela tutora que lhe deu uma segunda oportunidade. “Na família, ele tem uma preferência clara por mim”, confessa. “Segue-me cada minuto para todo o lado. Quando acordo, lá está ele ao meu lado para ser o primeiro a dar-me os bons dias”.
“Paixões não envelhecem”
Este ano, Pirolito completa 12 anos e a tutora Elisabete Pinto frisa que o cão tem “uma reforma confortável que bem merece”. Mas nem sempre está a descansar e atualmente também quer ajudar outros animais em situações semelhantes.
O cão é um dos protagonistas da campanha “Paixões não Envelhecem”, pensada pela Animalife, uma associação sem fins lucrativos de sensibilização e apoio social e ambiental, e criada pela agência criativa FCB. A iniciativa arrancou há cerca de uma semana e foi resultado de um planeamento “demorado”.
“Há cerca de uns meses tivemos uma reunião e transmitimos as nossas preocupações muito relacionadas com o elevado número de abandono de animais idosos”, explica à PiT Rodrigo Livreiro, presidente da direção da Animalife. “Queríamos demonstrar a importância que os animais têm no meio familiar”.
No início de setembro, a associação abriu candidaturas para os portugueses que queriam participar da campanha. Elisabete viu a oportunidade e de imediato pensou “no contributo que o querido Pirolito poderia dar para esta causa”. No final do mês, soube que o cão havia sido um dos escolhidos para a fase do casting.
Em outubro, a dupla conduziu de Pinhal Novo até Lisboa para tão esperada sessão fotográfica. Esta foi realizada pelo fotógrafo brasileiro Daryan Dorneles, formado em Cinema e Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF). “Foi uma experiência muito gratificante e o Pirolito esteve sempre completamente tranquilo, divertido, à vontade e feliz”, sublinha Elisabete.
Agora, com a iniciativa a percorrer as redes sociais e alguns medias nacionais, a tutora quer que a campanha atinja o maior número de pessoas e ajude os animais com histórias semelhantes à de Pirolito.
“Desejo que esta chegue ao coração das pessoas, tanto as que têm cães idosos quanto as que pensam em adotar um, e que as sensibilize para a responsabilidade e para o enorme privilégio que é ter, no percurso da nossa vida, um amigo e companheiro dedicado todos os dias a todas as horas”, frisa. “Um cão idoso é mais sábio, tem todos os seus sentimentos mais apurados e nutre por nós um amor incondicional, tranquilo e recíproco. Estabelece-se um vínculo indestrutível. É, na verdade, uma ‘Paixão que não Envelhece’, antes pelo contrário”.
A idade já pesa, mas Pirolito não poderia estar mais feliz
Depois de tudo que passou, a vida que leva hoje é a que sempre sonhou. Foram longos anos de maus tratos, mas agora Pirolito tem todo o amor do mundo, e divide este com os gatos Marcelo e Pulgas, e as cadelas Lola e Eva, que também foram resgatadas em más condições.
A primeira, uma cruzada de Rafeiro Alentejano, foi resgatada com os seus irmãos e a mamã de uma vala de esgoto em Vila Nogueira de Azeitão. Já a segunda, foi vítima de um atropelamento e adotada pela família de Elisabete. “Não apareceu ninguém à procura dela e, assim, a nossa família aumentou”, recorda. “O Pirolito ao pé delas é um mini-cão, parece um cão a pilhas porque elas são corpulentas”, brinca.
O patudo já carrega mais de uma década nas costas e em conjunto com a vida que teve, hoje tem alguns problemas de saúde. “O facto de ter sido caçador e ter corrido muito, desgastou-lhe muito os dentes e as articulações”, partilha a tutora. “Tem artrose nas coxas que lhe causa rigidez matinal e queixas, sobretudo quando fazemos passeios um pouco mais longos. No regresso tenho de o trazer ao colo”, acrescenta.
Na altura em que foi adotado, Pirolito teve de ser submetido a uma cirurgia para extrair quatro dentes estragados. Atualmente, duas vezes por ano, faz destartarização, um procedimento dentário em que é removida a placa bacteriana e tártaro das superfícies dos dentes. “De resto, tem sido muito saudável. Tem energia e boa disposição para dar e vender”, realça.
O patudo é descrito como “atento, sensível, meigo, ativo, determinado, muito grato e muito valente”. Segundo Elisabete, apesar do seu tamanho e idade já avançada, está sempre pronto para “enfrentar o cão mais feroz”. Mas a verdade é que não precisa preocupar-se porque tem uma família que está pronta para protegê-lo. “Ele está rodeado de carinho e todos os cuidados que necessita”, frisa Elisabete.
Carregue na galeria para conhecer Pirolito e os outros cães protagonistas da nova campanha da Animalife e da FCB.