A “vacada” que a associação de estudantes do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa queria organizar para o dia 22 de setembro foi cancelada. A direção do instituto assim o decidiu, após o parecer negativo do Provedor Municipal dos Animais de Lisboa, Pedro Emanuel Paiva, já que, para a sua realização ser aprovada, todos os pareceres teriam de ser positivos – o que não aconteceu.
“Congratulo a decisão do Instituto Superior de Agronomia, ao cancelar a ‘vacada’, demonstrativo da sensibilidade e da preocupação com a proteção e o bem-estar dos animais desta instituição”, disse Pedro Emanuel Paiva à PiT.
O provedor emitiu na sexta-feira o parecer negativo à realização do evento, depois de em maio passado já ter produzido uma recomendação no mesmo sentido – levando igualmente ao cancelamento da “vacada” naquele estabelecimento de ensino.
Desta vez, refere a Provedoria dos Animais de Lisboa, a associação de estudantes “decidiu escrever a Pedro Emanuel Paiva, solicitando o seu apoio para a realização desta nova ‘vacada’, convidando-o inclusive a estar presente no evento”. Mas o provedor recusou.
Na sequência dessa carta que recebeu, Pedro Emanuel Paiva produziu um parecer onde recorda que “a figura de Provedor Municipal dos Animais de Lisboa, tal como definido pela Câmara Municipal da cidade, tem por vincada missão garantir a defesa, o bem-estar e a proteção dos animais, bem como promover, zelar e monitorizar a prossecução dos seus direitos”, sendo por isso “fácil depreender o sério – e inalienável – comprometimento deste mesmo Provedor em assegurar a proteção e a promoção dos animais e dos direitos e interesses que lhes são reconhecidos”.
“Nenhuma entidade ou pessoa pode pedir que me distancie do que é a razão fundamental da existência de um provedor do animal”, esclareceu Pedro Emanuel Paiva, frisando ser “imperativo que a Associação dos Estudantes do Instituto Superior de Agronomia faça uma interpretação atualista das práticas contrárias ao bem-estar animal, como o são a crueldade a que qualquer animal está exposto quando se encontra fora do seu habitat natural, privado da sua liberdade e rodeado de estímulos negativos que apenas incentivam o instinto intrínseco de sobrevivência, no caso concreto, da vaca”.
No seu entender, “eventos desta natureza são socialmente fraturantes e em muito indignam legitimamente a maioria dos lisboetas”. “Importa à Provedoria Municipal do Animal de Lisboa, não apenas repudiar o evento, mas, também e sobretudo, acreditar que o cancelamento da ‘vacada’ contribuirá para que a Associação de Estudantes do Instituto Superior de Agronomia dê um passo exemplar para o resto do país e acompanhe de forma mais ética o avanço civilizacional com a dimensão do Instituto Superior de Agronomia, onde o convívio entre humanos e outros animais se baseia no respeito e na dignidade por todas as formas de vida”.
Em sintonia com esta posição, o provedor dos Animais de Lisboa declinou o convite dirigido pela referida associação de estudantes para estar presente no evento, “recomendando fortemente” que a sua realização fosse cancelada. E assim foi.
Provedoria tem emitido sempre parecer negativo
Em 2022, a Associação de Estudantes também quis organizar uma “Grandiosa Vacada”, evento que foi igualmente cancelado por a Provedoria entender que não pode permitir “o sofrimento físico e psicológico dos animais”.
Nesta mesma linha de defesa dos direitos dos animais, Pedro Emanuel Paiva, que considera que as touradas são uma “pura barbárie”, apresentou em julho passado uma recomendação à Câmara Municipal de Lisboa para que o município procure iniciar um diálogo com a Casa Pia de Lisboa com vista a acabar com a obrigatoriedade de realização de espetáculos tauromáquicos na Praça de Touros do Campo Pequeno.
Nessa recomendação da Provedoria é também proposta a criação de um santuário do touro bravo como medida de proteção e preservação deste animal. E a ideia é que esse santuário seja criado no município de Lisboa, sendo colocada em cima da mesa a possibilidade de, através deste santuário, se “originar um novo conceito económico” – e isto em cooperação com a Reserva Del Toro Bravo, fundada pelo empresário português Miguel Aparício.
O Animal Namigni foi o primeiro santuário fundado por Miguel Aparício na Colômbia, tendo influenciado depois a criação da Reserva del Toro Bravo, e conta com mais de 400 animais. Destes, mais de 100 são bovinos de diferenças raças. Percorra a galeria para conhecer melhor este santuário e os animais que ali vivem.