Se o destino de cada um está ou não traçado, é uma questão que permanecerá um mistério, mas a verdade é que o propósito de alguns começa a definir-se cedo. Quando o santuário Quinta do Simba se concretizou, trazia já o trabalho de uma vida – a de Tiago Cabral, para quem o resgate animal faz parte desde criança.
Tiago Cabral conta à PiT que o projeto foi fundado há 25 anos. Começou quando ainda era um jovem e iniciou o resgate de animais, e mais tarde veio a tomar as proporções que tem no dia de hoje. Depois de décadas de resgates, o projeto passou a constituir uma associação. Localiza-se em Arruda dos Vinhos, no distrito de Lisboa, e conta com o apoio de Vagner Alves, que se envolveu no projeto. “Há cerca de três anos constituímos a associação com o nome que agora tem, e passámos a publicar o nosso trabalho”.
O nome, adianta Tiago, não é uma referência ao conhecido personagem de “O Rei Leão”, mas sim a um cão que o santuário resgatou e que marcou o seu coração. “Foi resgatado de um criador ilegal. O Simba e a Nala, que vinham com parvovírus, e o Simba não resistiu. Esteve pouco tempo connosco mas foi muito marcante o curto tempo que esteve”, conta Tiago. “Tornámo-nos uma associação legalmente constituída e passámos a publicar o nosso trabalho”.
O fundador da Quinta do Simba revela que a causa animal tem sido uma prioridade desde pequeno. “Desde criança que era puxado pelas orelhas pela minha mãe, por que lá vinha eu com um gato ou uma tartaruga que encontrei na estrada ou num lago”, brinca. “Conhecia amigos que tinham animais em más condições – cheguei a trocar a bicicleta por um cão e um gato que eram maltratados“, conta.
Enquanto criança, Tiago vivia num apartamento, e depois de uma mudança dolorosa na sua vida, a família optou por se afastar da cidade, o que permitiu mais espaço para os resgates, que passaram a abranger várias espécies. “A perda do meu avô fez com que me quisesse afastar e viemos para o campo. Comecei a fazer o que sentia dentro de mim – fazer os resgates sem escolher entre espécies. Já há quem ajude cães e gatos mas os outros não têm qualquer tipo de apoio, e todos merecem”, adianta o presidente da associação.
O fundador explica ter-se visto obrigado a deixar para trás a quinta para onde se mudou, que marcou o início dos resgates. “O espaço era alugado e o proprietário, ao perceber que a associação tinha alguma visibilidade, começou a fazer exigências. Quando não cedemos começou a fazer ameaças de morte aos animais”, lamenta Tiago.
“Começámos a procura de um espaço novo, que fosse nosso, para não voltarmos a correr o mesmo risco”, adianta Tiago. E o espaço perfeito apareceu inesperadamente. “Encontrámos um espaço que eu já tinha visto na Internet há venda há 15 anos, e disse que um dia gostaria de o ter. Era um local de exploração agropecuária e tinha as condições para o nosso propósito”, revela. Por estar no mercado há vários anos, o preço era acessível, e foi comprado para a Quinta do Simba. “Tem 3 hectares. Conseguimos ter a nossa casa, o gabinete e o santuário tudo no mesmo espaço. Passamos quase 24 horas com eles”.
Todas as vidas contam, mas não é um trabalho fácil
Asseguradas as condições, o santuário conta agora com 250 animais. Tiago admite receber questionamentos sobre a validade do projeto. “Muita gente questiona o porquê de estarmos a gastar recursos com uma galinha, por exemplo. Uma galinha é um animal com capacidade de sentir e de amar, e com muito para nos ensinar”, diz o fundador.
A associação é financiada pelos responsáveis “e pelos apoios e donativos que as pessoas vão fazendo”, explica Tiago. “Já pensámos em desistir”, confessa. “É muito ingrato. Muitas vezes são os que menos podem ajudar que ajudam”, adianta, admitindo porém que nunca desistiram, “por que é impossível. Diariamente pedem-nos ajuda e são muitas situações gritantes”.
O santuário está aberto para visitas durante os meses de primavera e verão. “Recebemos pequenos grupos, com marcação. No inverno normalmente suspendemos ou recebemos visitas mais reduzidas”, explica.
As principais dificuldades, adianta o fundador, são a falta de financiamento, a falta de voluntários constantes e o desconhecimento de como tratar os animais. “A associação tem cerca de 2500 a 3500 € fixos de despesas todos os meses. Estes valores são financiados por nós, e quando não conseguimos temos de depender das ajudas que nos chegam, só que estas são muito inconstantes. No caso recente da ovelha que resgatámos conseguimos fazer o pagamento graças às pessoas”, adianta Tiago. Além disso, diz que “muitas vezes, nem existe experiência com certo tipo de animais. Não há conhecimento de como tratar os animais da quinta”.
O santuário aceita donativos por MBway, através do 927230360, e por transferência, para o PT50001800035543055702016.
De seguida, percorra a galeria para conhecer o santuário Quinta do Simba e o seus residentes.