A linha que separa um protetor animal e o chamado acumulador não é assim tão ténue quanto se pensa. Há sinais que devem ser tidos em conta para se perceber a diferença — que muitas vezes não está no número de animais a cargo. Um protetor que tenha muitos patudos, mas com capacidade financeira, tempo, espaço e as devidas condições de higiene pode ser uma grande mais-valia na causa animal.
No entanto, por vezes, o desejo de salvar todos os animais que se encontram no caminho leva a que algumas pessoas não saibam fazer a separação das coisas nem perceber que ter animais em excesso pode acabar por os prejudicar — nos casos em que não se consegue fazer uma boa gestão em termos de higiene e cuidados básicos (algo que pode acontecer até mesmo quando se tem apenas um animal).
Apesar dos muitos bons exemplos, também se sucedem por todo o País casos em que é necessária uma intervenção exterior. Foi o que aconteceu no passado dia 8 de abril, quando a Sociedade Protectora dos Animais (SPA) marcou presença num caso complicado. “Após a retirada das pessoas da habitação em que residiam, a Polícia Segurança Pública e a Casa dos Animais de Lisboa foram chamadas a intervir. Esta ação, que acompanhámos em sintonia com estas entidades, permitiu o resgate de 18 animais de um apartamento num estado indescritível.”, descreve a associação nas suas páginas do Facebook e do Instagram.
Os gatos encontravam-se separados em divisões “com muito lixo amontoado, alguns sem acesso a luz natural, muitos sem acesso a comida e água à nossa chegada”, relata a SPA. “Há muita consanguinidade e havia animais num quarto que estavam ali fechados há anos”, afirmou à PiT Irina Antunes, que é membro da associação.
“A maioria deles não está esterilizada. Os gatos não tinham acesso a caixas de areia. As fezes estavam espalhadas por todo o lado. Num dos quartos, a quantidade de urina era tal que foi absorvida pelas paredes em quase toda a sua altura. O espaço nauseabundo, com milhares de insectos. Sem renovação de ar”.
“Faltam-nos palavras para falar dos 18 gatos que retirámos de uma situação tão limite, doentes, assustados, alguns cegos, a maioria meigos e carentes”, diz a SPA.
“Temos a agradecer a disponibilidade e colaboração incrível dos agentes da 5.ª divisão da PSP — Esquadra Penha de França e de todos os elementos da CAL presentes durante a tarde”, diz a SPA, adiantando que os 18 animais resgatados foram já consultados, bem como desparasitados interna e externamente. Estão todos a ter acompanhamento médico veterinário para real avaliação da condição clínica de cada um.
Estes animais “foram alojados, mantidos nos grupos em que se encontravam, de forma a garantir o seu bem-estar. Estavam com muita fome e sede. Cheiraram o ar puro com admiração, com a sensação de algo novo”, conta a SPA.
Ajude a ajudar
E agora que passaram alguns dias, como está a correr? Irina Antunes conta à PiT que a maioria já está a comer e a beber bem. “Uns estão a reagir melhor, estão mais tranquilos e já querem brincar. Mas há outros que ainda se escondem e há o caso de uma gata que era atacada pelo grupo onde se encontrava — na cozinha da casa — e já teve de haver uma reorganização”.
Por agora, não estão ainda disponíveis para adoção, mas a associação está a contar que possam ser encaminhados para novas famílias assim que possível.
Tudo isto, porém, acarreta despesas. “O custo das despesas médico-veterinárias de 18 gatos, incluindo castração e esterilização, alimentação, areia e outros cuidados necessários à sua sobrevivência, é enorme. Todos os animais necessitam de análises clínicas e outros exames complementares para despiste de doenças e confirmação do seu real estado de saúde”, aponta a associação.
Por essa razão, a SPA apelou à ajuda de quem não consegue ficar indiferente “a uma tragédia desta dimensão”, tendo criado uma angariação de fundos para o efeito.
Pode também doar através de outros meios: por transferência (IBAN — PT50 0010 0000 4989 4740 0013 9 SWIFT/BIC BBPIPTPL), MBWay (932 996 603) ou PayPal.
Se não puder doar, a associação apela à partilha do apelo, pois também é uma forma de ajudar.
Piloto à espera de uma família
A Sociedade Protectora dos Animais foi fundada a 28 de novembro de 1875, sendo a primeira associação de proteção animal em Portugal. Ao longo dos anos, tem-se distinguido na defesa dos direitos, saúde e bem-estar dos animais.
Entre outros casos que vão chegando à SPA está o do Piloto, um cão novo que foi resgatado de uma casa por viver numa situação de insalubridade grave e que “estava numa situação limite”, conta Irina. “Comia mal, ração de fraca qualidade, e fez uma obstrução urinária”, acrescenta.
O Piloto foi sujeito a várias cirurgias à bexiga, pois tinha muitos cristais, e vai ter de comer sempre ração para cães com problemas urinários, mas está feliz e pronto para uma família. Se quiser conhecê-lo e torná-lo membro da sua tribo, contacte a SPA.
Carregue na galeria para ver algumas imagens do resgate e do Piloto.