As algas marinhas são responsáveis pela produção de 54 por cento do oxigénio do mundo e os mares funcionam como reguladores do clima. Daí que os oceanos sejam já considerados como os verdadeiros “pulmões do planeta”.
O Dia Mundial dos Oceanos celebra-se neste 8 de junho e pretende lembrar precisamente a importância deste recurso no nosso quotidiano. Por isso, nada melhor do que assinalá-lo com a história da Sancho Pancho, um projeto português já elogiado pela ONU e tido como um belíssimo exemplo no combate ao desperdício alimentar.
A Sancho Pancho é uma pequena empresa familiar de Lisboa — cidade que recebe a segunda Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, entre 27 de junho e 1 de julho de 2022 — criada por Daria Demidenko, que teve a ideia de reaproveitar sobras de peixe fresco para criar petiscos para cães.
O projeto nasceu em agosto de 2020, quando Pancho e Oli entraram nas vidas — e na casa — de Daria e do seu marido Rafael. Os dois são da raça cão sem pelo mexicano, que é uma das mais antigas do mundo.
“No meu tempo livre, dedicava-me aos seus treinos de obediência, nos quais usava muitas marcas diferentes de biscoitos para cães. Mas, de alguma forma, esses petiscos acabavam sempre por lhes causar problemas digestivos, por isso comecei a fazer a minha própria investigação sobre comida saudável para cães e tentei algumas receitas em casa”, conta Daria à PiT. “Os cães adoravam e isso incentivou-me e entusiasmou-me para aprender mais”.
Ao mesmo tempo, um amigo do casal, Edi Neves, abriu um restaurante de sushi em Lisboa, o Sekai Sushi Bar. Uma vez que foi em plena pandemia, a sua taxa de ocupação era bastante baixa e por várias vezes ofereceu a Daria e Rafael peixe fresco que não poderia vender no dia seguinte.
Inspirados pela aplicação Too Good to Go, de combate ao desperdício alimentar, e cientes de que a situação pandémica estava a afetar restaurantes e supermercados, o casal teve a ideia de criar petiscos zero waste para cães, recorrendo apenas a ingredientes não processados que, por alguma razão, não podiam ser comercializados, explica Daria, uma russa que vive em Portugal desde 2015.
E foi assim que nasceu a Sancho Pancho, nome que é uma alusão à personagem Sancho Pança — o fiel escudeiro de Dom Quixote, do livro de Miguel de Cervantes — e também uma homenagem a um dos cães do casal.
Por enquanto, é apenas o casal que está ao leme deste pequeno negócio familiar. “O meu marido Rafael tem a seu cargo a área digital do projeto e eu faço o resto: recolho as sobras de pescado, cozinho, trato do suporte ao cliente, etc.”, diz Daria.
E como funciona? “A determinada altura, tivemos uma colaboração com o restaurante Unique Sushi Lab e a Peixaria Centenária, mas agora o nosso principal parceiro é a Peixaria Veloso, do Mercado 31 de janeiro, onde recolhemos as sobras da pele do salmão, que depois transformo em petiscos para cães”, conta.
“Uma das nossas filosofias de negócio é a absoluta transparência. Queremos ser honestos com os nossos clientes sobre onde recolhemos os desperdícios alimentares e sobre como confecionamos os nossos produtos”.
O processo não é fácil. “Usar desperdícios de comida como principal matéria-prima é um processo complicado e demorado, sendo também bastante intermitente. Estes fatores obrigam-nos sempre a sermos dinâmicos e flexíveis com as nossas decisões”.
Apesar do desafio, é uma aposta ganha e a Sancho Pancho tem vindo a ganhar uma popularidade cada vez maior. “A maioria dos nossos clientes são portugueses e estamos muito felizes por vermos a nossa lista de clientes frequentes a crescer depois de termos introduzido no nosso website a opção ‘a granel’”, aponta Daria Demidenko. A opção “a granel” permite aos clientes personalizarem a sua encomenda e ajuda a reduzir os resíduos de embalagens.
Além do website, a marca tem parcerias com lojas físicas que vendem os seus produtos. Neste momento, as principais pet shops parceiras da Sancho Pancho são a Doggie e a Dog’s Whish.
“Também adoramos fazer colaborações com empresas focadas na sustentabilidade. É por isso que podem encontrar igualmente os nossos produtos na Pikikos (um café e cabeleireiro sustentável e pet friendly) e na eco store Almim”, conta.
Mas não só. “Para terminar com grandes notícias, que ainda não partilhámos oficialmente, dentro de meses iremos abrir a nossa própria Zero Waste Pet Shop”, diz Daria, visivelmente feliz.
A Sancho Pancho tem também uma caixa de subscrição. Esta signature box “é uma forma mais económica de se experimentar os nossos produtos mais vendidos numa só compra. Foi criada para ajudar os clientes a pouparem tempo na escolha do produto certo para os seus pets”, sublinha a fundadora da empresa.
Em franco crescimento, a Sancho Pancho começa a estar nas bocas do mundo. E também nas dos cães, que aqui são reis e senhores.
Percorra a galeria para conhecer melhor o projeto.