Há quem acredite que somos nós quem escolhemos os nossos companheiros de quatro patas. Porém, há quem ache o contrário. E Scout é a prova viva disso. O cão vivia num abrigo mas desde o início, não tinha qualquer interesse em lá ficar. Houve um dia em que fugiu e foi dormir no sofá de um lar de idosos localizado do outro lado da rua. Foi capturado novamente, mas escapou mais duas vezes e era sempre encontrado no mesmo sítio.
Até que da terceira foi de vez, e não saiu mais. “Adoramos partilhar a sua história porque é realmente uma prova do ditado ‘Tudo acontece por uma razão'”, começa por contar à PiT Rhonda Tomczak, assistente administrativa do Meadow Brook, um lar de idosos localizado na pequena vila de Bellaire, no estado norte-americano de Michigan.
A história de Scout com o espaço começou em 2017, quando o canídeo foi acolhido pelo Antrim County Animal Control, um abrigo que fica do outro lado da rua. No mesmo ano, houve uma noite em especial que o cão fugiu.
“Somos uma instituição de cuidados 24 horas por dia portanto as nossas portas estão sempre abertas”, explica. “Antes da pandemia, os visitantes podiam vir cá a qualquer hora da noite se necessário. As portas da frente são automáticas com controle de movimento, e na altura havíamos concluído uma construção e adicionado mais três andares ao prédio”.
Sem querer ir para muito longe e com a entrada fácil, Scout decidiu que era lá onde queria dormir. Além disso, o que não faltava era conforto. “O nosso lobby é muito convidativo e aconchegante. Temos uma lareira, um sofá e algumas cadeiras muito confortáveis”, diz. “Então, certo dia, no turno da noite, uma das auxiliares de enfermagem estava a passar pelo lobby quando viu um cão preto a dormir no sofá”, recorda.
A enfermeira entrou em contacto com o centro de recolha do outro lado da rua, que logo veio buscar o patudo e levá-lo de volta ao abrigo. No entanto, após duas noites, o cenário repetiu-se. “A mesma enfermeira estava de escala, reconheceu-o e novamente entrou em contacto com o abrigo”, partilha. “O pobre Scout não desistia”, brinca.
Duas noites depois, o mesmo. Mas desta vez, Scout optou por uma “abordagem diferente”. Pela terceira vez, o cão fugiu e foi novamente até o lar de idosos. Mas agora decidiu ir durante a madrugada. E teve sorte. Conseguiu entrar despercebido e só foi descoberto pela manhã. Com pena do patudo, que não desistia de lá ficar, uma funcionária decidiu adotá-lo.
Quando tudo parecia estar a correr bem para o cão, duas semanas depois de ir para a nova casa, teve de ser devolvido. “Infelizmente, ela não pôde ficar com ele porque ele não se adaptou aos outros animais da casa”, diz. De volta ao lar, quando Marna Robertson, a diretora do espaço, ouviu a história do cão, não ficou indiferente.
À PiT, diz que ainda hoje recorda as palavras da diretora: “Ele vai viver no Meadow Brook. O Meadow Brook vai adotá-lo. Ele escolheu-nos e obviamente quer estar aqui, então esta é a casa dele agora”.
A nova (e definitiva) vida de Scout
O Meadow Brook acolhe, atualmente, 92 idosos. O espaço tem cerca de 130 funcionários e é dividido em sete casas, conhecidas como “Famílias”. “Em cada uma há 20 residentes e cada um deles tem um quarto privado. Há também uma sala de estar, arrecadações, spa, cozinha e sala de jantar para proporcionar um ambiente caseiro”, explica. Além disso, cada “Família” tem um coordenador de cuidados clínicos, um coordenador de família, e uma equipa de enfermeiros.
Quando o espaço decidiu adotar Scout oficialmente, a diretora Marna Robertson contactou as sete Famílias. “Ela enviou um e-mail para todos os coordenadores para ver qual deles achava que a sua família e residentes beneficiariam-se cada companhia do Scout”, partilha a assistente à PiT. De imediato, as coordenadoras Stephanie Elsey e Jennifer Martinek da casa Glacier Hill responderam e prontificaram-se em receber o cão.
“Tudo o que realmente sabíamos sobre ele na altura era que o controle de animais havia lhe dado o nome de Scout, ele tinha dois anos e estava sempre a fugir. Ele também conseguia abrir portas e saltar cercas sozinho”, recorda. “Reparámos que desde o início, ele ficava muito nervoso e assustado perto dos homens. Achámos que ele foi abandonado ou veio de um lar abusivo antes de ir para o abrigo”.
Mas agora no lar que escolheu para viver, o cão adaptou-se “muito bem”. Apesar de já lá estar há cerca de seis anos, continua a conquistar o coração dos funcionários e todos os visitantes que lá passam.

“Ele sabe quando os residentes não estão a sentir-se bem e vai deitar-se ao pé da cama com eles”
Na Família onde vive, Scout tem muito amor para dar. “Ele é muito protetor. Sempre avisa que tem alguém novo na porta ou a chegar a casa. Também sabe quando os seus residentes não estão a sentir-se bem e vai deitar com eles ao pé da cama”, partilha Rhonda à PiT. “O Scout também tem as suas senhoras favoritas, e percebemos uma certa hierarquia dependendo de quem está a trabalhar. É um verdadeiro mulherengo”, brinca.
Segundo os residentes, as atividades favoritas do cão incluem correr pelo corredor e brincar no exterior, onde tem um pátio fechado só para ele. “Agora no inverno ele adora que alguém atire neve para o alto com uma pá para que ele possa saltar e ‘apanhar'”, diz. E na hora das refeições, o cão também sabe o que fazer.
“Ele sabe a quais residentes ir para ganhar um pedaço de bacon debaixo da mesa quando ninguém está a olhar”, diz, aos risos. “Ele passa o dia a observar os corredores, certificando-se de que todos estão bem. Quando está pronto para fazer a sesta, às vezes ele enrola-se no sofá ou vai encontrar um residente que está à procura de um parceiro aconchegante”.
Na altura do Natal, o lar arrecadou doações para o Antrim County Animal Control. A 18 de janeiro, entregou cerca de 500 euros para o abrigo, assim como outras doações como mantas, rações e petiscos. A ideia surgiu da Família de Scout, que replicou o que espaço já fazia para famílias carentes para homenagear o cão. Após partilharem a história de Scout nas redes sociais, várias pessoas visitaram o lar para doar o que conseguissem.
“Agora, Scout até tem um andar diferente. A sua cabeça está erguida, tem um pouco mais de arrogância no seu rabo e podemos ver como o seu coração está iluminado. Ele é muito inteligente e sabe que agora se tornou um cão famoso. Está realmente feliz e tem muito orgulho da sua casa”, diz.
A equipa do lar também não esconde o amor e orgulho que tem do patudo. “Percebemos rapidamente de que tudo o que ele sempre quis foi sentir-se seguro, protegido e amado”, frisa Rhonda. “E em troca, Scout dá aos nossos residentes as mesmas sensações. Este é o propósito dele. Ele nunca desistiu. Ele sabia que o Meadow Brook era o local onde ele precisava de estar. Precisávamos dele tanto quanto ele precisava de nós, e estamos muito felizes em tê-lo”.
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