A Associação Tarecos & Patudos, de Vila do Conde, cujo abrigo – então com 34 animais – esteve em risco de despejo, ainda não pode dizer que tudo acabou bem, mas já consegue respirar com algum alívio.
Depois da notificação de que os 15 gatos e 19 cães teriam de sair até dia 27 de julho, a associação gerida por duas irmãs – Liliana e Cátia Oliveira –, com a ajuda da irmã Mónica Oliveira e uma amiga, Márcia Silva, desdobrou-se em apelos para conseguir retirar os seus animais, colocando-os em famílias temporárias ou definitivas.
A Tarecos & Patudos está legalizada e com tudo em dia no que toca aos seus animais. Mas o abrigo está localizado num terreno considerado ilegal, já que não tem licença de construção, e as autoridades consideraram haver grande risco de incêndio. O que as irmãs não esperavam era ter apenas cinco dias para conseguir uma solução para todos os seus animais.
Perante um prazo tão curto antes da ação de despejo, um advogado prontificou-se a ajudar a associação e requereu em tribunal uma providência cautelar para que as irmãs pudessem ter mais algum tempo para resolver a situação. A providência foi aceite e agora será o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) que decidirá o que – e quando – fazer.
Mas as irmãs e Márcia Silva não pararam. Conseguiram boas adoções, que estão a correr muito bem, e também famílias de acolhimento temporário (FAT) para alguns animais ainda à espera de família e “para os animais que ninguém vai querer”, diz Liliana Dias à PiT.
Havia, contudo, ainda cinco casos “mais bicudos” por resolver. Cinco cães que nunca deram a mão. Até agora. As irmãs contactaram o treinador Carlos Cordeiro, especialista em comportamento animal, que se prontificou a ajudar.
Mesmo com as limitações da distância – Carlos vive e trabalha em Lisboa –, o treinador já foi duas vezes a Vila do Conde e esteve no abrigo da Tarecos & Patudos para conhecer e avaliar os cinco cães. E as notícias são boas. Dois deles ficaram prontos para adoção e já seguiram esta semana para as novas casas. Os restantes três, sublinha Carlos Cordeiro à PiT, “só precisam de supervisão, de serem acompanhados”.
“A receita ideal para estes cães é amor”
“Estes cães não são reativos nem maus. São medrosos, o que é diferente”, explica o treinador – que também ensinou às irmãs algumas técnicas. “Estive a ajudá-las nesse sentido e consegui que um deles fosse passear à trela. Ele ficou muito feliz e a Cátia [a irmã que o passeou] também”, conta, sublinhando o “esforço e dedicação” das irmãs Oliveira.
“A receita ideal para estes animais é amor. Sempre estiveram dentro do canil”, explica Carlos. E com amor ainda vão ser muito felizes.
Uma das irmãs, Liliana, comentou à PiT que esta evolução foi uma felicidade. Já veem outra luz neste caminho com a ajuda de Carlos Cordeiro. Quanto aos animais que conseguiram dar para adoção, “correu tudo super bem”. No abrigo restam três cães que Carlos quer preparar para serem também adotados.
“Ainda estamos à espera de resposta do ICNF e ver se vamos a tribunal ou não. Mas as adoções correram todas bem, foi maravilhoso”, aponta ainda Liliana.
Carlos Cordeiro também está visivelmente satisfeito com a oportunidade que estes animais puderam ter. Num post publicado na sexta-feira na sua página de Facebook, o treinador fala do pedido de ajuda que a sua Escola de Cães recebeu da Tarecos & Patudos e do bom desenvolvimento de toda a situação.
“A maioria dos animais já tinha sido adotada ou acolhida em FAT, mas restavam ainda cinco cães, considerados mais complicados porque se tratavam de animais com comportamento reativo”, explica.
Assim, prossegue, “fomos até Vila do Conde dar algum apoio a esta situação. O que encontrámos foi um espaço bem organizado, com boas condições e com pessoas empenhadas em dar o seu melhor pelos animais e a lutar contra o tempo”.
“Quanto aos animais, os casos de reatividade tinham a ver essencialmente com a vida no abrigo. Já abordámos este tema: animais que vivem em canis e associações, muitas vezes durante anos e outras tantas a vida toda, são animais medrosos, que não foram socializados e reagem ao que desconhecem da única forma que sabem, com um comportamento aparentemente agressivo, que não é mais do que uma forma de defesa”.
Este comportamento, salienta Carlos Cordeiro, “pode ser trabalhado”. “A socialização pode ser introduzida em qualquer fase da vida do animal e a consistência dos resultados depende apenas do empenho dos donos”. “Neste momento, a Tarecos & Patudos tem apenas três cães para adoção, para os quais chamamos a vossa atenção. Caso possam ajudar, por favor favor entrem em contacto com Cátia Oliveira, através do número 933 327 233”, acrescenta.
O treinador deixa ainda uma última palavra de apoio às irmãs que gerem o abrigo e de alerta às entidades competentes. “Desconhecemos os detalhes deste despejo, mas o único comentário que podemos fazer é que as mesmas instituições que decidem sobre estas matérias deveriam também apoiar todo o processo até ao fim, tendo em vista o bem-estar dos animais acima de qualquer outro interesse ou prioridade. Aos voluntários, o nosso aplauso e agradecimento”.
Percorra a galeria para ver os cães que ainda estão no abrigo e parte do processo de socialização promovido por Carlos Cordeiro.