Ensinar ratazanas a conduzir é uma conquista impressionante, mas descobrir que os roedores não só conseguem, como gostam de fazê-lo, é uma conclusão inesperada. Foi este o resultado da nova experiência, liderada por Kelly Lambert, neurocientista comportamental e professora da Universidade de Richmond, da Virginia, EUA, que ensinou ratazanas a conduzir, e ficou espantada quando os roedores não só aprenderam, como demonstraram que queriam praticar a atividade.
A experiência, descrita pela neurocientista no dia 11 de novembro na plataforma The Conversation – uma publicação de artigos científicos escritos por pesquisadores e académicos – surge na continuação de um estudo publicado pela equipa em 2020, no jornal científico Behavioral Brain Research, que pretendia compreender a capacidade dos ratos para aprenderem novos comportamentos.
Kelly Lambert escreve que a equipa criou os carros “a partir de recipientes de plástico”. Inicialmente, os animais “aprenderam movimentos básicos, como subir para o carro e pressionar uma alavanca”. Com a prática, “estas ações simples evoluíram para comportamentos complexos, como conduzir o carro para um destino específico”, neste caso, os cereais que serviam como recompensa.
A equipa concluiu também que as ratazanas que viviam em ambientes enriquecidos, “com brinquedos, espaço e companheiros”, aprenderam a conduzir mais rapidamente do que os que não tinham acesso a estes estímulos, e que “eram mais ousados nas estratégias que escolhiam para resolver os problemas”.
Depois da publicação do estudo, Kelly Lambert percebeu que as ratazanas ficavam entusiasmadas quando se aproximava das suas jaulas. “Três das ratazanas treinadas para conduzir correram para a parte lateral da jaula, e começaram a saltar, como faz o meu cão quando pergunto se quer ir passear”, descreve. Além disso, a linguagem corporal dos roedores indicava que sentiam emoções positivas – a cauda elevava-se e curvava na ponta, um comportamento ligado à produção de dopamina, a hormona que diminui a dor e aumenta o sentimento de recompensa. A neurocientista interpretou este comportamento como uma demonstração de alegria, que procurou compreender melhor. Para isso, decidiu estudar o papel da antecipação na motivação dos animais para aprenderem tarefas novas.
No teste, as ratazanas tinham a opção de chegar aos cereais mais rápido, a pé, ou de conduzir até às recompensas, num percurso que demoraria mais tempo e que lhes seria menos natural. Dois dos três roedores decidiram conduzir os carros em vez de correrem até à recompensa. “Esta resposta sugere que as ratazanas gostam tanto da jornada como da recompensa do destino”, relata a professora.
Kelly Lambert conclui que o comportamento dos animais ensina lições importantes sobre o funcionamento neurológico. “Em vez de carregarmos em botões para conseguirmos recompensas instantâneas, relembram-nos de que planear, antecipar e desfrutar da jornada podem ser a chave para um cérebro saudável”, escreve a cientista.
De seguida, percorra a galeria para conhecer melhor os roedores envolvidos na experiência.