Joana Ribeiro, 33 anos, e Hugo Ferreira, 37, apaixonaram-se por acaso. O confinamento dava pouco espaço para grandes sonhos e ambições, mas foi dentro das quatro paredes de casa que os dois começaram a falar. Ela no Porto e ele em Guimarães. Trocavam mensagens sobre as viagens que gostavam de fazer, os países a visitar e as culturas a conhecer. Um dia, decidiram concretizá-las. E vão continuar, enquanto houver estrada para andar.
O casal sempre gostou de passear sobre rodas. Como o seu apartamento em Rio Tinto, no município de Gondomar, não lhes dava isso, decidiram comprar uma autocaravana. Hoje, têm duas carrinhas que os levam pelo País inteiro e além-fronteiras.
“Já tinha tido uma caravana e gostava muito desse modo de vida. Há dois anos, em maio, decidimos alugar uma autocaravana durante um fim de semana, e passámos pela Nazaré, Aveiro, Ílhavo e outras cidades. Adorámos tanto que, um mês, depois comprámos uma”, começa por contar Joana à PiT.
A Ford Transit de 1991 vinha quase intacta. O casal só teve de trocar de frigorífico para um elétrico, colocar um painel solar e uma clarabóia com ventoinha. A primeira paragem foi a Figueira da Foz, mas milhares de quilómetros se seguiram.
A Sapona Van, nome dado à autocaravana, já percorreu o Norte de Portugal, fez a Serra da Estrela, chegou ao Sul de Espanha, mas o caminho que mais marcou os seus condutores foi a Estrada Nacional 2 (EN2), que vai de Santa Marta de Penaguião à cidade de Faro, no Algarve.

“Gostámos muito de fazer essa viagem. Mesmo muito. O único problema é que fomos com pouco tempo e havia demasiada informação para apenas sete dias. Acho que o ideal seria, pelos menos, duas semanas”, explica.
Para alguém com um roteiro traçado, talvez uma semana chegasse. Mas Joana e Hugo gostam de ir para onde a estrada os leva: “Vamos sem nada planeado. Pegamos na carrinha e vamos sem destino. Gostamos dessa liberdade, de poder decidir no momento onde vamos e de poder acordar em qualquer lado”.
A espontaneidade é o modo de vida do casal. E já o safou em diversas situações: “No ano passado, por exemplo, íamos percorrer a Costa Vicentina. Só que estava a chover durante essa semana, por isso optámos por fazer o Sul de Espanha. Se tivéssemos já um hotel marcado, tínhamos mesmo de ir”.
Apesar de viverem a viajar, não é isso que lhes dá rendimentos. Para conseguirem dar as voltas que querem aos fins de semana, os dias de Joana são passados no seu salão de estética e os de Hugo a levar e trazer passageiros de um lado para o outro, como motorista da Uber. Mas não por muito tempo.
Em outubro, o casal pretende largar tudo para trás e iniciar uma nova rota internacional. Até lá, estão a poupar para poder passar um mês em Marrocos e os restantes nove a 12, a meta que têm definida, onde a Europa os quiser receber: “Gostávamos muito de ir à Turquia e à Escócia. De resto, logo se vê. O objetivo é ir ao máximo de países que conseguirmos”.
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Além dos respetivos empregos, os dois arranjaram outro ganha-pão, para os ajudar a poupar para a viagem da sua vida: proporcionando o mesmo a outros. “No ano passado, comprámos uma ambulância e convertêmo-la num dormitório, a Tinóni Van. Comprámo-la sem motor e demorámos um ano a remodelá-la. Já andámos por aí com as duas carrinhas, mas agora vamos pô-la a alugar”.
Joana e Hugo tiraram as letras que escreviam “socorro” e garantiram o conforto na pequena carrinha que já transportou doentes. Agora, preparam-se para emprestar a sua “terceira casa” a outros, enquanto rumam com a sua “segunda” para o resto do mundo. E não vão sozinhos.
Sarita não adora a vida de autocaravana, mas é ela que “arranha” os locais visitados do mapa
Sarita está habituada à mudança. Nos seus dez anos de vida, já teve três casas. E nem a de Joana era suposto ser a definitiva: “Ela chegou até mim através de uma conhecida de uma amiga minha. Ela ia mudar-se para Lisboa e o senhorio não permitia animais. Era para ser uma Família de Acolhimento Temporário (FAT), mas acabou por ficar para a vida”.
Apesar de ter vindo assustada, Sarita mostrou logo ser uma gata carente e que adora mimo. E é a ele que recorre quando está de viagem com os seus donos. A felina ainda não se ambientou totalmente à vida de autocaravana, mas Joana e Hugo não desistem, pois recusam-se a deixá-la em casa.
“Tem de se habituar, até porque vai ser um ano disto. Mas ela porta-se bem. Os primeiros dias são mais complicados, em que ela mia o tempo todo, mas depois descansa”. Joana conta que, na primeira viagem de sempre, Sarita até “perdeu o pio”. Agora, adora acompanhar os seus donos.

“Está sempre a saltar de um lado para o outro. Quando vamos lá fora, temos uma trela, para ela conseguir passear connosco. Só a soltamos quando não há animais por perto. Mas ela prefere ir na mochila, de qualquer forma”, ri-se a tutora.
Apesar de a EN2 ter sido o percurso favorito dos seus donos, Sarita gostou mais do Sul de Espanha: “Como pernoitávamos quase sempre em cima da praia, ela punha-se sempre a olhar para a vista. Ela é como nós: adora a praia”.
É certo que Sarita adorará Marrocos. Quanto aos outros destinos do casal, só o futuro, ou as estradas, o dirão. Carregue na galeria para ver algumas fotografias de Joana, Hugo e Sarita.