Família

Adeus, Julinho. Morreu o cão que viveu no inferno — e que ainda teve 522 dias de céu

O meigo patudo, resgatado numa situação limite em setembro de 2022, em Torres Novas, partiu a dormir e sem sofrer.
As idas à praia.

“Um ano, cinco meses e quatro dias. 522 dias. É este o tempo que passou entre o dia 20 de setembro de 2022 e o dia 24 de fevereiro de 2024: as datas em que o Julinho renasceu e partiu definitivamente. Foi pouco? Foi menos do que ele merecia. Mas todos os dias foram uma vida nova para ele”. É assim, desta forma emotiva, que a voluntária que o resgatou, da associação APA Torres Novas, se despede do meigo patudo – que partiu silenciosamente, sem sofrer, durante o sono.

Naquele dia 20 de setembro, quando a APA Torres Novas teve conhecimento de um cão no limite das suas forças, acorrentado, sem comer nem beber, sabia que era preciso agir rapidamente, pois poderia morrer a qualquer momento.  Uma voluntária da associação tinha-se deparado com o animal e a situação foi de imediato denunciada. Era, verdadeiramente, uma situação de vida ou de morte.

O Julinho – nome que lhe deram – estava preso nas traseiras de uma habitação, num terreno onde ninguém ia além dos donos. Não fosse um acaso do destino e o Julinho teria morrido à fome e à sede sem ninguém saber, acusou a associação. “Felizmente, o seu destino cruzou-se com a nossa voluntária, que o resgatou sem pensar duas vezes”.

À PiT, essa mesma voluntária contou que tinha ficado transtornada quando o viu. “Resgatei-o e levei-o ao veterinário, onde ficou três noites. O diagnóstico era o que se podia esperar: cego de um olho, provavelmente devido a alguma pancada, e com cataratas no outro; febre da carraça, pois tinha o corpo coberto delas; leishmaniose; anemia devido à desnutrição; e marcas no corpo que nunca sararão. O estado frágil em que se encontra levará a longos meses de recuperação”, relatou então.


Apesar de ter sido resgatado no limite, ainda foi salvo a tempo. Julinho conseguiu sobreviver e, assim que teve alta, foi recebido numa família de acolhimento temporário (FAT). Ali permaneceu, mais feliz do que nunca, até ao dia em que já não acordou do seu sono.

Pelo meio, Julinho renasceu em todos os sentidos. Sempre que podia, a voluntária que o resgatou ia visitá-lo – e ele pulava de alegria. Foram juntos à praia e as fotos desses momentos dispensam palavras: o seu focinho levantado, os olhos fechados, como que a agradecer a dádiva da vida naquele sol e naquela brisa, falavam por si.

Julinho merecia muito mais, mas estes 522 dias de amor fizeram dele o cão feliz que sempre devia ter sido. “A FAT dele foi maravilhosa. O Julinho teve um final feliz. E isso conforta. Partiu sem sofrer e isso deixa-me mais calma. Já chorei muito, mas também de felicidade pelo que ainda pôde viver”, diz à PiT voluntária da APA Torres Novas.

“Deu-me uma lição de vida que jamais esquecerei. A forma como ele renasceu tão rapidamente para aproveitar o que lhe restava é uma inspiração. Sempre que o íamos visitar ele não nos largava, era uma coisa impressionante. Até a FAT dizia que não conseguia explicar porque parecia que ele sabia quem nós éramos. E eu tenho a certeza que ele sabia”, diz, comovida, a sua protetora.

O Julinho, sublinha a voluntária, era um animal incrível e que ficava muito feliz quando havia alguma celebração em casa da sua FAT. “Quando havia alguma festa, todos adoravam conhecê-lo. E como ele gostava de uma boa festa! Nunca o esquecerei”, afirma.

Quem o conheceu não conseguirá esquecê-lo. Ele foi e será sempre especial. Percorra a galeria para ver como foi feliz desde o dia do seu resgate, a 20 de setembro de 2022. Até já, lindo Julinho.

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