Amor e tranquilidade são as palavras que marcam o santuário Animais Sem Fronteiras, em Alcochete, Setúbal, que resgata não só cães e gatos, mas também ovelhas, cabras, porcos e cavalos.
Marina De Praetere, médica dentista fundadora do santuário, conta à PiT que o projeto surgiu da necessidade de ajudar. “Isto é uma realidade”, confessa, explicando que o resgate animal sempre fez parte da sua vida. “Não consigo virar as costas aos bichos, e por isso ia ficando com eles. A certa altura, já devia ter uns 10 ou 12”, refere. “Pensei que faria sentido pensar num projeto mais extenso, e a ideia surgiu”. Assim, juntamente com uma pessoa amiga, abriu o espaço, “com a intenção de acolher e resgatar mais animais”.
O santuário abriu portas há 6 anos, e todas as espécies têm um lugar. “Não fazemos diferenciação entre o tipo de animais”, refere a fundadora, explicando que “a vontade de ajudar é muita”. No caso dos cães que são resgatados, o objetivo é que sejam postos para adoção. “Pedem-nos muita ajuda. Partilhamos nas redes, mesmo cães que não são nossos”, conta. “Este ano já conseguimos arranjar donos para mais de 60 bebés”. Enquanto estão ao cuidado do santuário, a intenção “é dar aos animais as melhores condições até serem adotados, e tentar reabilitá-los”.
No Animais Sem Fronteiras trabalham 9 funcionários e 2 treinadores de cães, que “treinam os animais que são resgatados e tentam reabilitá-los, para que possam ser adotados”. Ana Marques, trabalhadora do santuário, explica à PiT que as adoções requerem um processo, em que os futuros tutores escolhem o cão que querem, “passeiam o cão, e vão conhecendo o animal”. Passados alguns dias de interações, “a pessoa leva o cão para passar o dia em casa e depois volta, até ficar definitivamente”. Pretende-se salvaguardar o bem estar dos animais, já que “muitos deles não estão sequer habituados a viver em casas”, e o processo “tem resultado”, e este ano tiveram “já muitos cães que foram para adoção”.
Apesar das tentativas, “há uns que vêm com muito medo e nem nos deixam aproximar”. Marina de Praetere recorda o caso de Eros, um cão que “foi encontrado em coma”, para quem não tem sido possível encontrar uma família, por que “ele tem muito medo e não deixa que ninguém se aproxime”.
Os pedidos de resgate chegam diariamente, “para todos os tipos de animais”. Os animais de gado também são resgatados. “Alguns já viviam no terreno onde agora é o santuário”, revela a fundadora. “Aqui na zona de Alcochete há muitas criações de animais para abate e pensámos, já que isto é um centro de resgate, estes vão ficar cá, e ficaram”, acrescenta.
Para além dos animais, o projeto tem um foco na ação social, pretendendo “ajudar e dar conforto aos que mais precisam” . “Visitamos lares de idosos, e trazemos cá idosos de alguns lares com quem estabelecemos parcerias, para estarem com os animais”, conta a fundadora. “Também trazemos crianças de instituições e de escolas, e levamos os nossos patudos às escolas”, acrescenta.
O santuário está aberto para visitas guiadas, que regra geral são feitas ao fim de semana. “Por causa do pessoal que está cá a trabalhar, é mais fácil fazer ao fim de semana”, porém, “não quer dizer que se excluam obrigatoriamente as visitas durante a semana”, caso existam pedidos para isso. Quando há visitas, as datas são divulgadas nas redes sociais para que as pessoas possam inscrever-se, mas também é possível entrar em contacto e combinar uma data. “É fácil para nós organizar e fazer visitas, e gostamos muito de as ter”, afirma a fundadora.
O hotel Patudos Sortudos
No sentido de garantir que o espaço não teria de depender de apoio externo, foi criado o hotel canino Patudos Sortudos, que ocupa parte do terreno de 15 hectares, tornando o projeto autossustentável.
O hotel tem 30 boxes, com “200 metros quadrados, casinhas de madeira e chão em cimento, para não passar a humidade. Os telhados também são isolados, por isso são bastante quentinhas”. Além disso, todas são colocadas em zonas com muitas árvores, “para terem sombras no verão”. Quando o tempo está mais quente, os patudos têm direito a “pequenas piscinas”. No próximo ano vamos criar uma piscina grande, só para cães”, afirma a médica dentista.
Os cães são soltos “todos os dias, duas vezes por dia”, e Marina De Pretere explica que quando são juntos vários animais numa boxe, é feito um estudo prévio para perceber se são compatíveis. “Tentamos ter o máximo de respeito por eles”, conclui. O hotel tem também instalações de inverno, que são “mais pequenas, com chão aquecido”. “No verão, quando temos muitos cães, utilizamos essas boxes para os cães pequenos, mas não ligamos o aquecimento”, esclarece Marina.
A estadia diária começa nos 14,50 euros, e todos os lucros revertem para o santuário. “O objetivo é mesmo que o projeto se torne autossustentável. Quanto mais autossustentável, mais animais conseguimos resgatar e mais apoio conseguimos dar”, explica a fundadora.
Os cães que são resgatados e os que ficam no hotel têm os mesmos cuidados. “Tratamos todos os cães da mesma maneira”, afirma, explicando que “os cães no santuário, que são resgatados, têm as mesmas casinhas e a mesma comida que os de hotel”.
De seguida, percorra a galeria para conhecer alguns dos residentes do santuário Animais Sem Fronteiras.
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