Família

Animalife: pedidos de ajuda de famílias carenciadas aumentaram 30% face a 2022

A associação, que apoia 325 instituições ligadas à causa animal, recebeu mais de 4.000 pedidos no primeiro semestre.

Inflação, questões habitacionais, ninhadas excessivas, mudança de comportamento dos animais: estas são apenas algumas das diversas razões que levam as famílias a abandonar o seu animal de estimação. Algumas não o fazem por mal, achando genuinamente que lhes estão a dar uma melhor qualidade de vida do que a que têm em casa. Já outras, fazem de tudo para que esse seja o último cenário possível.

Há 12 anos que a Animalife tenta combater “o flagelo do abandono pela raiz”, e, “se não é a única, é das poucas do País a fazê-lo”. Além de ajudar quem arranja uma nova vida aos animais que vão parar às ruas ou aos abrigos, cria situações adequadas para as famílias carenciadas, que já não veem espaço para continuar com os seus pets.

Os apoios à “alimentação, esterilização, vacinação, identificação eletrónica, transporte de animais, alojamento temporário”, entre outros são, atualmente, requeridos por milhares de famílias portugueses. E os números não dão sinais de abrandar.

“No primeiro semestre de 2023, recebemos um total de 4.419 pedidos de apoio. São mais 30 por cento do que no mesmo período de 2022”, revela à PiT Rodrigo Livreiro, presidente da associação constituída em 2011. Não que lhe faltem ideias sobre como ajudar estas famílias, mas nem sempre os recursos são suficientes. Mas, felizmente, nunca baixou os braços. Mesmo quando não tinha nada com que trabalhar.

Rodrigo, 40 anos, nunca foi uma pessoa de se conformar. Aliás, a frase “porque sim” nunca soou bem aos seus ouvidos. Especialmente quando a mesma era aplicada à causa animal. Foi isso que o moveu a criar soluções para todos os problemas com se cruzava no seu caminho. A primeira teve o nome de AnimaDomus.

Corria o ano de 2008. Rodrigo tinha pouco mais de 20 anos, quando se debateu pela primeira vez com o problema da inexistência de seguros de saúde para animais. Como sempre fez, desde pequeno, questionou-se do porquê de tal situação. E, em vez de aceitar o “porque sim”, procurou uma solução para contrariar esse flagelo.

“Estava a terminar a minha licenciatura em gestão de marketing e foi aí que surgiu a AnimaDomus, uma rede que permitia o acesso a serviços clínicos, assim como de outros essenciais ao bem-estar animal”, recorda.

Ação de desparasitação à associação Patas & Tino.

Após a implementação desta rede, chegaram-se à frente centenas de associações a pedir ajuda a Rodrigo. Isto fez com que percebesse que não só estava enganado quanto ao número de associações no País, havendo muitas mais do que pensava, como que não conseguia ajudar todas ao mesmo tempo. “O trabalho que foi feito nesse momento foi tentar perceber como o podíamos fazer sem causar despesa. Aí, surgiu a rede social Animalife”.

O que começou como um pequeno website, numa altura em “que não havia Facebook nem Instagram”, criado entre 2009 e 2010, rapidamente evoluiu para uma plataforma que amplificava a voz das associações. E, mais tarde, tornou-se mesmo numa. “Como as instituições se queixavam de que não tinham adoções suficientes para conseguirem continuar a recolher animais abandonados, massificámos os apelos. Quando começaram a surgir milhares de adoções em todo o País, a Animalife constituiu-se como associação”, recorda.

A caminhada de Rodrigo pela causa animal começou humildemente por ajudar diretamente os patudos que mais precisavam de ajuda. Por isso, quando o Continente “desafiou” a Animalife a criar o Banco Solidário Animal, em 2012, de forma a fornecer produtos às associações com as quais colabora, que, atualmente, são cerca de 325, disse imediatamente que sim. E foi só aí que o presidente se confrontou com outro grande problema.

“Quando começámos a divulgar as nossas ações, milhares de famílias, também elas beneficiárias do Banco Alimentar Contra a Fome, pediram-nos ajuda para poderem dar de comer aos seus animais. Aí, percebemos que não podíamos canalizar os nossos recursos apenas para as associações”. Foi isso que fez com que a Animalife criasse um protocolo com os municípios, para que houvesse uma redistribuição desses produtos. Mas nem todos têm capacidade para isso.

A vida de Rodrigo funciona como uma bola de neve, em que cada solução dá origem a um novo problema. Mas é isso que continua a mover o amante de animais: “Nessa altura, recebíamos muitas queixas a perguntar porque só dávamos apoio a famílias do Porto, Lisboa e Setúbal. Nós respondíamos a dizer que não tínhamos estrutura para armazenagem e redistribuição dos produtos fora dessas zonas”. Ao invés de as criar, o presidente pensou mais à frente. E, agora, a solução está nas mãos dos portugueses. Ou melhor, no seu telemóvel.

Sem infraestruturas capazes de levar o Banco Solidário Animal a todo o País, a Animalife criou o Cartão Dá Apoio, em parceria com o Continente, um “passo gigante para conseguir apoiar famílias de Norte a Sul”. “Os cartões eletrónicos são carregados mensalmente, para que as famílias possam ir ao supermercado comprar os bens de que necessitam, com base no número de animais, na espécie e no porte”.

Famílias carenciadas passam a ter acesso a cuidados médico-veterinários gratuitos

Ainda que isto seja um grande avanço, a Animalife alerta para “que as câmaras municipais cumpram também com os recursos que têm disponíveis, para que haja uma vacinação, desparasitação, esterilização e castração dos animais”. E não é apenas nisto que a associação precisa do envolvimento das autarquias.

Em 2021, a Animalife e as restantes associações do País “gritaram” vitória quando a tutela dos animais de companhia passou para o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), recebendo assim apoios do Ministério do Ambiente. Passados dois anos, voltam a celebrar um novo projeto-lei: “Os cuidados médico-veterinários gratuitos são um passo gigante para uma alteração de conceitos”, explica Rodrigo.

A gratuitidade destes cuidados entrou em vigor em julho de 2023. Para isso, era apenas necessário que os municípios se inscrevessem no ICNF, para que as famílias residentes tivessem acesso a este apoio. A adesão dos municípios foi bem menor do que o esperado: “Temos de explicar às autarquias que o investimento será muito maior se tivermos de aumentar a capacidade dos centros de recolha oficiais ou das associações zoófilas, para acolher mais animais, ao invés de atuar preventivamente em medidas que contrariem a entrega dos mesesmo, ajudando as famílias a mantê-los e dando uma melhor qualidade de vida a ambos”.

Ainda que considere reduzido o número de autarquias inscritas, Rodrigo vê esta medida como um grande passo. E pretende que a Animalife continue a crescer nesta caminhada pela causa animal.

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