Família

Ariel vai ter alta. Gata colocada no forno está a recuperar e já tem uma nova família

Há dois meses que está internada numa clínica, a curar as queimaduras profundas. Vai para casa de uma das suas salvadoras.
Ariel terá ainda que ir á clínica de quatro em quatro dias.

Ariel vive com os traumas à flor da pele. Seria de esperar que uma gata que foi brutalmente queimada quando colocada num forno, alegadamente por uma miúda de três anos, e que ficou uma semana sem qualquer tipo de cuidados, fosse mais retraída e medrosa. Mas tal nunca se verificou.

“Sempre foi muito meiga. Tinha tudo para não ser, mas tudo o que é fofinho ela adora. Não sei como é que uma gata que sofreu tanto pode ser tão querida e amorosa”, confessa Cristiana Dias, 24 anos, presidente da SOS Bigodes, à PiT.

A associação situada em Barcelos, no distrito de Braga, e que tem animais disponíveis para adoção no Pinder, a nova plataforma criada esta semana pela PiT, foi a primeira casa de Ariel. Viu-a partir para o que achava ser um final feliz e ajudou-a quando percebeu de que se tratava apenas de um capítulo turbulento. Agora entrega-a a alguém que promete dar uma reviravolta na história.

Há quase dois meses que a pequena gata está internada na clínica parceira da SOS Bigodes. Chegou lá com 50% do corpo queimado, mas com uma força do outro mundo. E tudo começou com um telefonema que lhe mudaria a vida para sempre.

“A menina que atendeu o telemóvel quando a dona da Ariel a queria abater é que vai ficar com a gata”, conta à PiT Cristiana Dias. Em novembro, a clínica veterinária recebeu uma chamada de uma mulher a dizer que a filha de três anos tinha colocado a sua gata no forno. Face aos altos custos que os cuidados veterinários requeriam, a cidadã de Barcelos via apenas uma opção: matá-la.

A auxiliar veterinária que atendeu o telefone recusou-se a cumprir as instruções da dona, e ligou imediatamente para a SOS Bigodes, a associação a que correspondia também  o microchip do animal. Foi aí que perceberam que a situação era bem pior do que a contada pela tutora.

Cristiana Dias foi quem ficou responsável por saber mais: “Acabei por ligar para a tutora para saber mais informações, e só depois de insistir muito é que ela me contou. Pensava que o acidente tinha acontecido há uma ou duas horas, e não quis acreditar quando ouvi que tinha sido há uma semana”, contou à PiT, na altura dos acontecimentos.

Mesmo com feridas expostas e queimaduras profundas, a tutora de Ariel concluiu que a melhor opção era não pedir qualquer tipo de ajuda exterior. Desta forma, fechou a gata numa garagem. Sem condições, sem tratamento e sem amor. Algo que mudou a partir do momento em que deu entrada na clínica.

Não foi só a vida de Ariel a sofrer uma transformação. Quando a pequena gata branca, com metade do corpo queimado, chegou, todos os funcionários sentiram na pele as suas dores: “Toda a gente se afeiçoou a ela. Foi muito tempo e é impossível não a adorar”, detalha a presidente da associação.

Houve uma, no entanto, a ter um especial carinho com a gata: “A menina que tinha atendido o telefonema e que impediu que o pior acontecesse esteve sempre preocupada com ela”. A auxiliar veterinária esteve sempre ao lado de Ariel ao longo do seu internamento, por isso é “a única pessoa em quem” Cristina confia, “até mesmo de olhos fechados”, para ficar com ela.

Ariel quando chegou à clínica.

Ariel tem alta este sábado, dia 14 de janeiro, e Cristiana “sente que tem que lá estar” para a apoiar. Mas, infelizmente, esta não será a última vez da gata na clínica. “Ainda tem a ferida aberta, e terá que ir fazer os pensos de quatro em quatro dias.

A gata continua com o tratamento com a pele de peixe Tilápia, oferecido pela veterinária, que é usado para ajudar a reconstruir a pele. No entanto, tal impossibilita que Ariel socialize com alguns dos moradores da sua nova casa: “Por enquanto, não pode estar com os outros animais, para não haver risco de eles quererem comer ou lamber a pele de peixe. Se ela própria já o faz, então os outros”, explica à PiT.

Cristiana está radiante com o novo lar de Ariel, e sabe que a gata ficará muito feliz junto de uma das pessoas que lhe salvou a vida. Mas o seu caso está longe de estar concluído.

Com Ariel a recuperar, está na altura de se revolver em tribunal

Quando a presidente da SOS Bigodes soube da situação e se dirigiu à polícia para apresentar queixa, explicaram-lhe que o processo já estava encaminhado: “Maus tratos a animais é crime público, por isso já tinha sido apresentada uma queixa ao Ministério Público. Aliás, disseram-me que já tinham recebido vários e-mails de pessoas em todo o país a pedirem justiça”.

Justiça é a palavra certa para o caso de Ariel. Cristiana não quer que os responsáveis por este crime hediondo passem impunes. E não se refere à alegada autora da tortura animal: “Mesmo que tenha sido a menina a colocá-la no forno, o que nós queremos que seja julgado foi o facto de a gata ter passado uma semana fechada numa garagem. Uma semana a apodrecer, literalmente”, garante à PiT.

Além disso, a dona de Ariel ainda ameaçou a associação e os seus voluntários, ao ponto que Cristiana teve mesmo que bloquear o seu número e as suas contas nas redes sociais. Mas nem isto a silenciou: “Ela disse à veterinária que conseguia ver o que nós colocávamos mesmo que eu lhe tivesse restringido o acesso. Ela não tem vergonha, e não percebia que o que tinha feito era crime. Aliás, quando percebeu, mudou a versão dos factos”.

A presidente teve conhecimento de que a mulher andou a dizer que o forno afinal não estava ligado, mas “que tinha óleo de ter sido usado anteriormente”. Mas de nada isso importa, pois foi a ausência de cuidados que agravou o estado de Ariel.

A associação vê-se, no entanto, encurralada, pois não tem ninguém para a defender. “Estamos à procura de um advogado que o possa fazer, pois queremos fazer justiça da Ariel”.

A SOS Bigodes tem muitos mais animais a seu cargo. Nomeadamente Sol, um cão com apenas três patas que foi encontrado abandonado na berma da estrada. Tinha acabado de ser atropelado, tendo uma hérnia diafragmática e uma fratura do fémur. Passou por três cirurgias, mas a sua outra perna não sobreviveu e teve que ser amputada. Está à procura de uma nova família e já se inscreveu na PiTmatch, a nova plataforma de adoção responsável da PiT.

Carregue na galeria para ver algumas fotografias da gata que foi colocada no forno

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