Branquinho José tem (quase) nome de humano, porque é assim que os tutores o veem: um dos seis membros do núcleo familiar. O patudo chegou a casa há nove anos, tendo aparecido justamente no momento em que os donos começaram a dar espaço à possibilidade de receber um cão — não só levou animação, como garantiu uma dinâmica pouco comum, que se consolidou quando os seus humanos descobriram que é surdo.
Manuel Moreira, um dos filhos do casal que adotou o cão, conta à PiT que Branquinho foi encontrado a vaguear pela rua, na periferia de Aveiro, perto da zona onde o seu pai trabalha. Uma trabalhadora viu o animal, que se aproximava de quem passava, e decidiu capturá-lo na tentativa de encontrar um tutor que o acolhesse. A pessoa “foi batendo às portas dos escritórios à procura de alguém que o quisesse”.
O irmão de Manuel, que trabalhava com o seu pai, falou com a senhora, e ambos concordaram ficar com o patudo. “Ligaram à minha mãe para perguntar, porque é ela que decide tudo. Mal ela viu o cão disse que o ia buscar”, conta o tutor.
O criador de conteúdos de 28 anos explica que as suspeitas de que Branquinho pudesse ser surdo surgiram pouco tempo depois de o levarem para casa, mas a certeza não foi imediata. Manuel conta que o cão “moldou muito a personalidade ao longo dos anos”, tendo chegado “com muitos medos” — entre eles vassouras, o aspirador, e água.
O tutor explica que durante algum tempo era difícil perceber se o cão “não respondia e não queria aprender porque tinha medo ou se era por não ouvir”. Alguns dos sinais que denunciavam a condição eram a serenidade com que Branquinho dormia mesmo quando os tutores chegavam a casa, e a forma como nunca olhava para a pessoa que falava com ele.
Manuel avança ainda que nem sempre esta tendência era clara, acreditando que por vezes o cão percebe a presença das pessoas de outras formas, nomeadamente através da vibração do chão. “Se dermos um passo mais pesado, ele sente e olha para nós” conta.
Cerca de meio ano após receberem Branquinho José, levaram as suspeitas ao veterinário, que confirmou a condição do cão. “Não souberam precisar porque é que ele é surdo. Deve ter sido uma má formação quando nasceu ou que se desenvolveu nos primeiros meses de vida”, explica o tutor. A dinâmica com o patudo não teve grandes alterações, e a preocupação da família quanto ao cão manteve-se a mesma: “o que importa é que ele esteja bem”. O desafio foi ensiná-lo, já que não o poderiam fazer da forma convencional. Além disso, o tutor assume a possibilidade de que a condição torne Branquinho mais defensivo. “Quando vem alguém de fora nota-se que ele fica stressado, e que não é tão afável quanto poderia ser”, adianta.
O mérito dos truques que Branquinho José aprendeu é atribuído por Manuel a Margarida, a sua irmã, que ensinou o cão a sentar, deitar, rebolar, e ladrar. Os tutores comunicam ainda ao patudo quando vai à rua, imitando duas pernas a andar com os dedos, quando vai comer, e quando tem de tomar banho.
Manuel explica que já não vive com os pais, mas continua a visitá-los e a ver o cão com frequência. Recentemente, filmou um vídeo que partilhou na sua página de Instagram, onde demonstra como diz a Branquinho que vai levá-lo a passear.
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