A passagem de ano, para quem tem animais, acaba muitas vezes por ser uma noite sem festejos. O fogo de artifício à meia-noite, e até ao longo do dia, assusta a maioria dos cães e muitos deles, se estiverem no exterior, acabam por fugir em pânico.
Foi o que sucedeu com Tina, uma cadelita medrosa que desapareceu no dia 31 de dezembro na Flor da Mata, freguesia de Fernão Ferro – que pertence ao concelho do Seixal. Os donos, André Rosendo e Maike Tils, tudo fizeram para a encontrar, mas sem sucesso. Colocaram anúncio na plataforma Encontra-me, espalharam a palavra, realizaram buscas, mas nada. Tina parecia ter-se evaporado. Não foi o que sucedeu, mas a patuda foi aparecer bem longe, no meio do rio, junto a um farol.
Na sexta-feira, 6 de janeiro, a Autoridade Marítima Nacional dava conta, numa publicação no Facebook, de que tinha finalmente conseguido resgatar uma cadela que estaria pelo menos desde o dia 3 no Forte de São Lourenço da Cabeça Seca (Farol do Bugio), no rio Tejo. Nessa altura, ninguém a associou à cadelita divulgada nas redes sociais e no Encontra-me. Mas no dia seguinte, sábado 7 de janeiro, quando a página “Oeiras pelos Animais”, da Câmara Municipal de Oeiras, fez um post a relatar o mesmo episódio, a pessoa certa viu. “Esta cadela é do meu irmão, não foi abandonada, fugiu e andamos à procura dela há vários dias (última vez vista no Seixal)”, escreveu Pedro Boleta. Por essa altura, também alguém já tinha acabado de fazer a ponte entre o anúncio do Encontra-me e a cadelita, tendo ligado de imediato à dona.
A partir daí, tudo decorreu rapidamente. O dono de Tina deslocou-se de imediato a Oeiras e a alegria do reencontro foi memorável. Como é que a patuda foi parar ao Farol do Bugio está ainda por se saber. Para a família de Tina, é um mistério que talvez nunca consigam resolver, mas o mais importante é que já está em casa, em segurança, onde ainda não parou de dormir.

“Sinceramente, ficámos sem palavras por a termos de volta uma semana depois e pelo trabalho que foi feito pela polícia marítima”, conta Maike Tils à PiT. “Deram-lhe de comer e beber durante dias. Cuidaram dela até a conseguirem apanhar”.
A dona explica que Tina “é uma cadela que normalmente tem medo de pessoas que não conhece”. “Não se aproxima e tem muito medo, especialmente de homens. Mas é muito meiga e protege sempre as crianças”, acrescenta Maike.
“Não temos explicação de como ela pode ter chegado lá sem a intervenção de terceiros. Mas agora está em casa, mais magra mas contente e a dormir no lugar dela”, diz a dona, visivelmente feliz, enquanto partilha uma foto com a PiT de Tina a descansar num sofá.
Maike Tils não se cansa de agradecer. “Acho impressionante o trabalho da polícia marítima e o carinho deles. E graças também a muitas outras pessoas, como o veterinário, os funcionários do Centro de Recolha Oficial de Animais do Município de Oeiras (CROAMO) e a pessoa que viu o post no Facebook e me ligou, tudo acabou bem. Temos muitas pessoas a quem agradecer”.

“Até a Tina, que nunca gosta de homens, deixou um funcionário do CROAMO e um elemento da polícia marítima fazerem-lhe festas e ficou tranquila ao pé deles. Para mim foi sinal do quanto estava agradecida. A Tina aprendeu que nem todos os homens são maus”, salienta Maike.
A missão de resgate foi coordenada entre a equipa do CROAMO, os elementos da Direção de Faróis e do Comando-Local da Polícia Marítima de Lisboa. “Após o primeiro avistamento a 3 de janeiro, o Município de Oeiras, em cooperação com as restantes entidades, tudo fez para salvar a vida desta cadela, visivelmente assustada e totalmente desprotegida! O animal está agora seguro, à guarda do Município, nas instalações do CROAMO, onde receberá todos os cuidados médicos que necessita, e onde recuperará forças e saúde para encontrar uma nova família!”, referia, na sua primeira publicação, a página “Oeiras pelos Animais”.
Depois do feliz reencontro, novo post a dar a boa nova: “A Tina está de novo com a sua família! Após uma semana intensa de trabalho cooperante entre a equipa do CROAMO, a Polícia Marítima e a Direção de Faróis, a Tina reencontrou o seu tutor. Foi observada pela Equipa Veterinária do Município de Oeiras, que certificou que estava em condições de saúde para regressar a casa, para onde voltou hoje. Uma história com um desfecho feliz!”.
Não foi fácil apanhar Tina, que estava com muito medo. O comandante Pedro M. de Castro sublinha, num comentário da Autoridade Nacional Marítima, que a maior dificuldade foi mesmo essa. “Tentou-se todos os dias, desde que tivemos conhecimento. Fomos deixando comida e água, para que se alimentasse. Depois, com o apoio do CROAMO, foi colocada uma gaiola armadilha, com comida e água, e só assim se conseguiu resgatá-la”.
Poderá ter chegado ao Farol sozinha?
Sobre como poderá ter ido parar ao Farol do Bugio, um comentário de José Cabral Botelho deixa alguma luz sobre o que poderá ter sucedido: “A cadela ir parar ao Bugio vinda da zona da da Lagoa da Albufeira ou Costa da Caparica é perfeitamente possível. Normalmente, a ondulação incide quase sempre obliquamente à costa, à excepção da área da Costa da Caparica, originando uma corrente de deriva. Quando da ocorrência de ventos de Sw, toda esta costa fica sujeita a uma corrente de deriva sul-norte, impedindo mesmo as ondas de entrar no estuário, fazendo com que elas rebentem a oeste do Bugio. Se deitarmos uma garrafa na Lagoa de Albufeira ou no Meco, ela tem grandes probabilidades de ir parar ao Bugio através dessa corrente da deriva”, escreveu.
Talvez nunca se saiba o que aconteceu, mas uma coisa é certa: Tina já dorme feliz no lugar que lhe pertence.
Percorra a galeria para ver as fotos de Tina nos apelos que foram feitos, quando foi resgatada e quando se reencontrou com o dono.