Família

Charlie protegeu Nina contra tudo e todos, até ao fim. Quem o ajuda a fazer o luto?

Viveu oito anos na rua, e salvou a cadela "nada sociável" de vários perigos. Nunca perdeu o sorriso, mesmo quando ela morreu.
Charlie precisa de uma família.

Charlie tem nove anos anos. Mas não parece, por tudo o que já passou na vida. Já se governou sozinho pelas ruas e já teve de fazer de irmão mais velho para proteger uma cadela tímida e pouco sociável. As pessoas diziam que ele era o maior guardião de Nina e que os dois não viviam um sem o outro. E foi isso que acabou por acontecer.

Foi em 2015 que Cláudia Nunes, 38 anos, deu de caras com Charlie. Quando se mudou para uma nova casa, em Gondomar, no distrito do Porto, o cão já lá estava. E mal sabia ela o que por ele tinha passado.

Abandonado em bebé, na Serra de Santa Justa, no munícipio de Valongo, cumprimentou, durante cerca de um ano, todo o tipo de pessoas que lá se dirigiam para admirar a natureza. E acabou por escolher uma delas. “Seguiu o carro de uma pessoa que não tinha condições para o ter. Por isso, acabou por ficar na Estrada de D. Miguel, e nunca mais de lá saiu”, conta à PiT a amante de animais.

Apesar de vadio, Charlie sempre foi um cão feliz. Especialmente quando encontrou uma companheira como ele: “Fez uma amizade com uma cadela que também por ali andava, e os dois tornaram-se inseparáveis”.

O cão tornou-se no maior protetor de Nina, e ela recusava-se a que outros tivessem o mesmo papel: “Era impossível uma aproximação à cadela. Não era nada sociável. Toda a gente dizia: ‘No dia em que alguém levar este cão daqui, a cadela morre'”.

Cláudia acompanhou, durante oito anos, os dois “irmãos”, com uma profunda tristeza de não os poder ter: “Na altura, vivia num T0 com dois animais. Era uma sensação imensa de desespero”. A isto, acumulava-se a preocupação de os ver ao frio e sem boas condições. O que lhe valia é que não era apenas ela alimentá-los, visto que todo o bairro se movia para o fazer.

Quando a amante de animais pensava que a aflição não podia aumentar, os dois escolheram um prédio abandonado para habitar. “Aquele local era horrível. Estava infestado de ratazanas, e os toxicodependentes iam para lá consumir. Tratavam muito mal o Charlie”, lamenta.

As voltas na cama e as noites em claro motivavam Cláudia a dar um passo em frente para salvar os animais. Já tinha castrado Charlie e dava-lhe regularmente desparasitantes, mas foi quando ele apareceu “sem se mexer” que decidiu tomar uma posição. “Estava completamente mordido por ratazanas. Levei-o de emergência ao veterinário, que aconselhou a eutanásia”.

A cuidadora assentiu a sugestão, mas não se conformou com a mesma. “Fiquei furiosa, porque vi a felicidade dele a andar de carro pela primeira vez, mesmo quase sem se mexer. Então, decidi ouvir uma segunda opinião”.

Charlie estava muito doente.

Fez um apelo nas redes sociais, e apareceram diversas pessoas para ajudar Charlie com os tratamentos: “Ficou internado, fez antibiótico e, 15 dias depois, estava como se nada se tivesse passado”.

Enquanto Charlie estava no hospital, Nina continuava na rua. Assim que o cão teve alta, Claúdia não conseguiu “devolvê-lo à rua”, e acabou por conseguir que um amigo fizesse a captura de Nina. Foram os dois para um hotel, mas a sua inseparabilidade parecia ter chegado ao fim.

“Infelizmente, a Nina veio a falecer poucos meses depois, com um tumor adrenal. Foi muito duro. Quando finalmente estavam em segurança, ela morreu”, lamenta Cláudia. Charlie não teve outra escolha senão refugiar-se nos funcionários do hotel e na sua cuidadora, para ajudar a apaziguar a perda.

Hoje, “está ótimo, super saudável e feliz”. Mas feliz pode não ser a palavra certa. Há 16 meses que se encontra no hotel e, apesar de estar rodeado de outros cães, não tem ninguém a quem chamar de família. Mas não desiste de procurar, e está na PiTmatch, a nova plataforma de adoção responsável da PiT, na esperança de que apareça “um sofá para descansar futuramente”.

Carregue na galeria para ver algumas fotografias de Charlie.

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